Dez anos atrás...
A divisa entre Minas Gerais e São Paulo era maravilhosa, principalmente porque o caminhão que levava de carona Sara e Leandro passou por São José dos Campos. E Sara amou a vista. Mas à medida que a carona se aproximava da capital, a primeira boa impressão que Sara havia tido foi desfeita. A poluição, as paredes e muros pichados, o amontoado de casas e prédios, e as pessoas aparentemente perigosas — com as quais não estava acostumada em sua cidade mineira — fizeram com que quase se arrependesse de estar mudando para lá.
— São Paulo não é toda assim — Leandro a confortou, como se lesse seus pensamentos, ou simplesmente decifrando suas feições decepcionadas. — São Paulo é a maior metrópole da américa latina. Tem de absolutamente tudo aqui. Esse lugar foi formado por cerca de setenta culturas diferentes. É simplesmente fascinante.
— Eu sei. As cidades que passamos foram lindas. Eu só... Tenho que me acostumar.
— Se você não gostar daqui, podemos tentar o nordeste. Já estive em quase todos os estados de lá. É o pedaço mais lindo do Brasil.
— São Paulo é o berço das oportunidades. Se queremos crescer com seu talento, é aqui.
— Nosso talento. A voz de sereia é sua.
Desde que haviam fugido, mais de um ano havia se passado até que finalmente chegassem a São Paulo. Sara queria que fosse algo mágico. E Leandro estava certo. Assim que chegaram à capital, ele fez questão de levá-la à Avenida Paulista.
— Uau! Olha a altura desses prédios! É como a Nova York brasileira!
Todo o percurso até ali e os arredores, trens e metrôs lotados, o número absurdo de pessoas indo e vindo, a diversidade de estilos e culturas, fizeram com que Sara se apaixonasse por São Paulo. Finalmente conhecia uma metrópole que a levaria ao topo do mundo. Ela e o homem de sua vida.
Sara queria conhecer de tudo. Levou uma tarde inteira passeando pela Paulista, deslumbrada pela gigantesca Livraria Cultura e modernidade das ruas, prédios e carros. Foi abordada por jovens de ONGs simpaticíssimos, de ótima lábia, mas que logo aprendeu a desviar-se deles, já que não tinha nenhum cartão de crédito para contribuir com as causas do Green Peace, Crianças do Himalaia, ou qualquer outra. Encontraram uma pousada para passar a noite, que foi bastante cara, mas estavam exaustos da viagem.
Dia seguinte, Sara quis conhecer de tudo. Rua 25 de Março, Parque do Ibirapuera, Bairro da Liberdade... Sara já havia adotado o estilo hippie junto com o namorado, e como ele carregava o violão onde quer que fosse, os dois sentaram-se na movimentada praça da Sé e começaram a tocar e cantar. Este foi o segundo baque que Sara teve: os paulistas ocupados e sempre apressados, já muito acostumados com artistas de rua, não se impressionavam ou ao menos olharam para o casal. Pouquíssimos paravam e por pouco tempo. Nada de pequenas multidões, de pessoas maravilhadas com os dois, como se fossem ídolos. A sensação de ser invisível, ignorada, era nova para Sara.
Leandro, por outro lado, parecia inabalável. Provavelmente sabia o que era passar por aquilo, já que vivia disso. E enquanto cantava, Sara olhava fixamente para ele, tendo pela primeira vez uma real dúvida sobre o futuro brilhante dos dois. Aquele público era a cruel realidade fazendo-a se envergonhar de haver sonhado.
######################
Quem acha que vai dar certo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Clube Proibido [completo]
Mystery / ThrillerAté onde vão os limites da luxúria e do desejo? Para o Clube, eles não existem. Sem tabus, sem pudores, sem vergonha... Jovens deliciosos, irresistíveis, mestres na arte da sedução, prontos para realizar as mais impensáveis fantasias de estranhos. ...