Antes de sair da sede, Paula sentiu que havia algo estranho no ar, algo entalado que não poderia ser verbalizado ao alcance das câmeras. Não houve mais festa ou comemoração como sempre acontecia após julgamentos. Não havia por que ficar ali. Feiticeira não tinha a mínima dúvida de que estavam sendo monitorados, seguidos, stalkeados por homens dos Bastidores. Qualquer passo dos membros deveria estar sendo seguido, então o risco de ser pega caso se encontrasse com Iguana seria enorme. Assim como fazer o que planejava: encontrar Ludo. Ligar ou entrar em contato via internet seria burrice. Teria de ir diretamente à casa do amigo. Se Valentina havia entendido sua mensagem em procurado por ele, ele saberia onde ela estava. Checou o relógio: eram mais de meia-noite. Ludo estaria dormindo.
Perfeito.
Desconfiando que haveria algum rastreador ou microfones escondidos em seu carro, Paula dirigiu até a casa dos avós, que já dormiam, onde deixou o veículo e solicitou um Uber. Aguardou na calçada. Fazia bastante frio e rua estava deserta e silenciosa. Sua cabeça fervilhava com várias preocupações ao mesmo tempo: Ludo, Valentina, Iguana, Japa...
Foi arrancada de seus devaneios pelo ronco de uma moto.
Motos tarde da noite sempre a deixavam alerta, mas conhecia aquele motor específico. Por isso Paula não se moveu quando o piloto com carona estacionou diante dela.
— O que houve?
Negão desceu da garupa, retirando o capacete. Aquiles fez o mesmo.
— Esperando alguém?
— Não é da conta de vocês — era tarde demais para cancelar o Uber na frente deles. — O que fazem em minha casa?
— Você sabe onde ela está, não sabe? — Aquiles disse ajeitando o cabelo com os dedos.
— Quem? A Valentina?
— Não precisa responder, morena — Negão pegou-a nos ombros, olhando-a nos olhos. — A ruivinha estava fazendo perguntas demais, e o Clube sempre sabe quando isso acontece. Eles armaram pra ela, Paulinha. Valentina não mataria ninguém. Muito menos pelo motivo ridículo. Viu os prints da conversa de WhatsApp? Ela nem falava daquele jeito.
— E o que vieram fazer aqui? Ver se ela está escondida em minha casa?
— Se vai encontrar com ela, desiste agora — Playboy falou. — Eles vão saber. E vai acabar sendo punida ou cometendo um assassinato.
— Assassinato?
— O que acha que o Clube quer com ela? — indagou Negão. — Cem mil assim, de mão beijada? Eles estão desesperados, cara.
— Bem, isso é problema dela. Se o Clube tem medo que ela vá até a polícia, por que armaria pra ela antes de tê-la em mãos?
— Pra que arruinar a vida da guria se eles já pudessem forjar um acidente? — Negão continuou. — Eles fizeram isso para puni-la, pra ela desaparecer. É o jogo deles. Talvez pra testar nossa lealdade. Ver quem seria capaz de entregá-la.
— E vocês são?
— Por que acha que estamos aqui? Pedi pro Playboy me trazer até sua casa antes que fizesse a besteira de entrar em contato com ela. Amo aquela ruivinha e confio no Brad Pitt aqui. Só não sei ainda se posso confiar na senhora, dona Mistério.
— Não sei que grau de amizade pensam que eu tenho com a Ninfeta Ruiva, mas não faço ideia de onde ela está. E realmente não me interessa. A Japa era mais amiga dela. Vão atrás dela.
— Não confio na Japa — Negão disse bem sério. — Adoro ela, mas ela está tentando se provar. Subir de nível pra calar a boca de todo mundo.
Paula engoliu em seco.
— A Valentina é uma boa menina — Rafael deu um sorriso triste. — Não merece nada disso. Que ela seja esperta e fuja do país com a grana que ela já tem. É o que desejo pra ela. Mas pedi pra vir aqui pro caso de você estragar tudo e acabar entregando ela, por ou sem querer.
Um carro preto dobrou a esquina, se aproximando dos três.
— Um Uber? — Aquiles perguntou, aborrecido. — Achou que seria mais inteligente que ir em seu próprio carro?
Paula não quis dar o braço a torcer.
— Aonde eu vou e com quem eu vou não é da conta de vocês, pela enésima vez.
O motorista estacionou o carro e baixou o vidro.
— Paula? — indagou.
— Já vai! — ela acenou.
— Você fez besteira, delícia — Negão balançou a cabeça, em desaprovação.
— Do que está falando?
Foi Aquiles quem respondeu, baixo para o motorista não ouvir:
— Solicitou um Uber até o endereço dela? Esqueceu que o Clube monitora os celulares?
Ah, merda!
— Tá vendo? — Negão apontou para o rosto dela. — Essa é a cara de culpada.
— Cancela a corrida — orientou Aquiles.
— Já disse que não vou encontrar com ela. Se querem tanto saber, vou transar. Encontro marcado e vou beber até cair. Não vou ter como voltar dirigindo, por isso vou e volto de Uber. E não quero que o cara me deixe em casa, pra não saber onde moro. Sexo. Vou dar. Satisfeitos?
Aquiles colocou o capacete antes que percebessem o quanto aquela informação o havia atingido. Negão deu uma gargalhada.
— Então é isso? Caralho, faz sentido. Deve ser uma piroca de ouro pra te tirar de casa uma hora dessas. Esse cara tem que entrar pro Clube!
Negão também colocou o capacete e subiu na garupa. Antes que Playboy desse partida, Paula segurou seu braço.
— Quero um favor seu. Amanhã.
Playboy nada disse. Arrancou ruidosamente, sumindo na primeira esquina. Paula andou até o carro e entrou, se desculpando pela demora. Respirou fundo. Era bom que Valentina não estivesse na casa de Ludo. Mas era tarde demais pra desfazer a merda.
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Clube Proibido [completo]
Mystery / ThrillerAté onde vão os limites da luxúria e do desejo? Para o Clube, eles não existem. Sem tabus, sem pudores, sem vergonha... Jovens deliciosos, irresistíveis, mestres na arte da sedução, prontos para realizar as mais impensáveis fantasias de estranhos. ...