Jacó ergueu ainda mais o queixo e estufou o peito, vendo pelas lentes de seus óculos escuros os olhares para ele e Paula, de braços dados. Ele usava uma camisa do Pink Floyd e ela short jeans curto e blusinha dos Rolling Stones com a clássica boca com a língua para fora na cor vermelha. O cabelo, como era usual, preso em um rabo-de-cavalo.
— Se inflar mais vai explodir, velho — Paula sorriu.
— Deixa eu aproveitar meus quinze minutos de fama. Todo mundo pensa que estou pegando um broto da hora.
— Broto? — riu. — Quem chama mulher de broto neste século?
— E como chamam hoje em dia?
— Gostosa.
— Não vou chamar minha neta de gostosa.
— As múmias dos seus amigos me chamam.
— Antunes e Libório estão gagás.
— Olha! Aquela loja é legal — ela apontou.
Era uma loja de roupas e acessórios de rock. A única do shopping inteiramente dedicada ao estilo musical. Paula deixou o avô escolher as camisas que queria, dando-lhe seus toques e sugestões, dispensando a ajuda da atendente com roupas pretas e piercings.
— Essa não fica legal — desaprovou.
— Por quê? Eu achei da hora!
— Eu trabalhei em loja de roupas, e sou mulher. Está muito cheia de informação. Olha quantos desenhos poluindo a camisa!
— Pensando bem...
Paula selecionou as que tinham estampas de caveira e das bandas favoritas de Jacó, a maioria dos anos setenta e oitenta. Aguardou-o provar cada uma delas e fez questão de ver uma por uma como ficava.
Na hora de pagar, dois dos vendedores se aproximaram do caixa. Mantinham os olhos fixos na bunda de Paula, mal coberta pelo short.
— Botei fé no seu vovô — comentou um dos vendedores encostado no balcão.
— Sou namorada dele — Paula rebateu.
O caixa e os dois vendedores ficaram desconcertados. Jacó entrou no clima, sorrindo orgulhoso:
— Já disse que não quero namoro, garota. Nosso lance é só... você sabe.
Os três se entreolharam, incrédulos.
Paula ria por dentro. Deviam estar conjecturando que o velho era rico e ela interesseira.
— Quanto dá tudo? — ela indagou ao caixa.
Ele somou por uns instantes.
— Setecentos e oitenta — anunciou.
Paula abriu a carteira e tirou um cartão de crédito. Os três não conseguiram esconder mais uma surpresa. Como assim ela estava pagando? Verificou o cartão antes de passar. Estava no nome dela.
— Com todo respeito, haja fôlego, hein, coroa? — comentou um dos vendedores, olhando Paula dos pés à cabeça.
— Se olhar demais perde os olhos, seu frangote — Jacó apontou o dedo para o rosto do vendedor, provocando risadas nos outros. E um Uuuuuuuhhhhhh!
— Ele não usa azulzinho, se é o que querem saber — disse Paula recebendo as sacolas e entregando duas ao avô. — Eu que peço arrego toda vez. Depois da terceira já estou morta.
— Chupem essa, punheteiros — Jacó soltou uma das sacolas para agarrar o próprio volume entrepernas, provocando os três.
Já fora da loja, avô e neta riram alto.
— Você viu a cara deles, Paulinha?
— Mandou ver, velhote!
Mais tarde estavam lanchando no McDonalds.
— Estou me acostumando com esses presentes caros. Só sua vó que vai implicar.
— Eu me viro com ela. Vocês são minha única família. Vou dar do bom e do melhor.
— Este era o momento em que eu te dava um conselho inspirado, com uma frase de efeito emocionante, mas estou com preguiça e fome.
Paula riu. Pediu licença para ir ao banheiro. Lá chegando, aproveitou para olhar o aplicativo. Tentara ver antes, mas havia prometido ao avô o passeio.
Abriu a opção Desafios Fechados.
Pela foto na miniatura o homem era uma mistura de Jeffrey Jean Morgan com Jon Hamm. Rosto quadrado, olhar tão ameaçador quanto sedutor, com feições bem masculinas, imponentes. Tinha barba rala, em parte grisalha, mas o cabelo era preto, baixo nas laterais e cheio em cima, penteado para trás. Apesar de ter idade de ser seu pai, aquele homem transbordava chame, um exemplar exímio de homem bonito, com cara de homem. O modelo perfeito do seu padrão de beleza. Não pensaria duas vezes antes de aceitar se não fosse o fato de que ele não apenas tinha a cara de vilão. Ele era um.
> Nome: (Vulgo) Iguana
> Valor: 2500 pontos
> Homem, 49 anos, heterossexual, solteiro
> Particularidade: Líder do crime organizado na capital. Comanda tráfico de drogas, armas e prostituição.
> Tempo válido: Duas semanas
> Desafio: Faça sexo vaginal e oral com ele completamente sem roupa com dois ângulos de filmagem bem enquadrados.
Paula releu várias vezes cada item. Lidar com um criminoso como aquele era um outro nível. Um nível que Paula deveria imediatamente rejeitar, dado o imenso risco de morte que correria. Mas não o fez. Eram dois mil e quinhentos pontos, o máximo já ofertado a ela no aplicativo. Seriam vinte e cinco mil reais! Estava juntando uma pequena fortuna com aqueles desafios, mas o que mais a motivava era o gosto pelo perigo, por mais. Queria ser a melhor em todos os sentidos, queria ser graduada e para isso precisava provar que era capaz de cumprir desafios daquele naipe.
O item completamente sem roupa parecia importante já que era mencionado, mesmo sendo algo que obviamente aconteceria em uma transa. Provavelmente o Clube ou seus contratadores queriam ver algo que ele tinha no corpo, Paula raciocinou. Uma tatuagem, talvez?
Não era de sua conta, concluiu. Apenas Valentina tinha sede por investigar as coisas, meter o nariz em vespeiros para ver se achava mel. Por mais que houvesse concordado em ajudar na investigação da ruiva, Paula temia que sua curiosidade acabasse prejudicando-a por tabela, levando-a a ser castigada por Devassa. Nem queria pensar na possibilidade.
Mas não iria aceitar. Ainda não. Era um desafio fechado e com bastante tempo. Ia pensar melhor antes de se arriscar. Não valeria tantos pontos se não houvesse grande perigo.
Guardou o celular. Checou o cabelo no espelho.
Confiaram este desafio a você, gata.
Dane-se.
Pegou o celular, abriu o aplicativo, clicou em aceitar.
Este desafio acaba de ser aceito por #Feiticeira.
— Paula.
A voz de Valentina a sobressaltou. A ruiva acabara de entrar no banheiro. Estava suada e arfante.
— Como me achou aqui?
— O GPS do aplicativo. O Aquiles não te... Esquece. Precisamos conversar, urgente!
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Será que Valentina realmente despistou o perseguidor?
Ah, e só mais uma coisa: Iguana aparece brevemente em Arlequim. É o primo de Adão, dono do Paraíso da Perdição. Para vocês terem noção do perigo em que Paula vai se meter. Será que ela se vira?
Mais uma vez, peço que comentem! Digam o que acharam, o que esperam! O tio Dark aqui agradece demais!
Até quinta!
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Clube Proibido [completo]
Mystery / ThrillerAté onde vão os limites da luxúria e do desejo? Para o Clube, eles não existem. Sem tabus, sem pudores, sem vergonha... Jovens deliciosos, irresistíveis, mestres na arte da sedução, prontos para realizar as mais impensáveis fantasias de estranhos. ...