Capítulo 77: Punição (parte 5)

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Nayuri abriu os olhos, mas continuou na escuridão. Piscou várias vezes para tentar enxergar, mas foi em vão. O desespero tomou conta dela. Teria ficado cega? Quase ao mesmo tempo percebeu que estava sentada em uma cadeira desconfortável, com os braços atados para trás. As pernas também estavam presas. O cheiro do lugar era de poeira e mofo.

— Socorro! — gritou a plenos pulmões.

Os gritos e os esforços para se soltar eram inúteis; logo estava com os pulsos e garganta doloridos. Não tinha noção de quanto tempo havia se passado desde que acordara, mas tinha certeza de que se tratava de horas. Provavelmente era o porão onde havia sido jogada da última vez.

De novo não!

Da primeira vez havia uma forte lâmpada no teto; desta vez resolveram deixá-la sem luz alguma. E da outra vez não havia sido amarrada a uma cadeira. Tentou se controlar, resistindo ao impulso de entrar em pânico. Não adiantaria e só pioraria seu estado. Para se distrair, cantou várias músicas que conhecia. Algumas em português, outras em inglês, mas a maioria em coreano. Quando finalmente parou, calculou que devia ter cantado no mínimo umas cem músicas. Então seria um castigo repetido, com acréscimo de luz apagada e corpo amarrado?

— Vai ter que ser mais criativa, sua vaca! — gritou, rindo nervosamente em seguida. O riso tornou-se choro. Chorou por vários minutos.

A fome bateu. A garganta, boca e lábios estavam secos. Da última vez havia água disponível e vez ou outra jogavam pães secos por um alçapão do teto. Amarrada como estava, como iria beber e comer? Alguém a alimentaria?

O pânico foi tomando conta de Japa. Yoko estava sozinha! Havia colocado bastante ração e água para ela, em caso um castigo como aquele ocorresse, mas mesmo assim temia pela gata. Devia estar se sentindo tão sozinha quanto ela.

A fome começou a corroer. O medo tomou de conta. Estava sozinha. Sozinha! Não suportava a ideia de não ter ninguém por perto. E... No escuro! Seu medo foi se tornando pavor. O pavor se tornou terror. O medo primitivo desconsiderava a razão. Naquele momento, Nayuri não passava de uma garotinha de dez anos abandonada para morrer. Essa havia sido a sensação que tivera nas várias vezes em que os pais e a irmã viajavam e a deixavam trancada em seu quarto, tendo para comer apenas uma vasilha com pães e uma garrafa pet de água para beber. Sorte sua seu quarto ser suíte. Amaldiçoara-se tantas vezes por ter contado à mãe o que havia visto... Até a própria irmã começara a tratá-la mal. Devassa tinha todas essas informações. Suas punições eram direcionadas. Ela sabia como machucar profundamente.

Mas Nayuri não sabia de nada.

Não sabia que desde que acordara haviam se passado onze horas.

Não sabia que seus castigos ainda nem haviam começado.

Um clarão ofuscou sua vista, forçando-a a fechar os olhos e depois piscar numerosas vezes. Aos poucos seus olhos se acostumaram à claridade.

Era o mesmo porão.

Mas a dois metros de onde estava havia uma TV.

— Olá, Japa — uma voz metálica soou atrás dela, provavelmente de caixas de som.

— O que é isso? Jogos Mortais? — Nayuri conseguiu fazer piada, rindo nervosamente. — Falta entrar o bonequinho na bicicleta — imitou o som de pássaro que soava no filme quando o personagem surgia.

— Que bom que ainda tem senso de humor.

— É você, Devassa? Vai colocar filme pra eu não ficar entediada? Não coloca terror. Pelo amor de Deus! Coloca um romance, sei lá. Posso escolher o filme? Diz que sim! Diz que sim! Ah! Dá pra trazer pipoca também? Mas nada de refrigerante. Nem zero. Traz um suco Detox. Abacaxi com hortelã.

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