Capítulo 7: Desprezível

3.3K 408 16
                                    


Um mês havia se passado. Exatos trinta e dois dias, para ser exato. Paula estava contando, e percebeu que seu medo em ser contatada havia se transformado em ansiedade. Ela queria aquilo. Vira a felicidade do avô quando este ganhara a TV nova. Dias depois comprara para a avó um aspirador de pó dos bons, já que a velhinha vivia reclamando que o antigo não funcionava bem. Ficara tão feliz em ver os avós felizes! Queria ser capaz de fazer aquilo sempre, e com o salário que ganhava teria que poupar por meses e meses, ou se endividar com crediários. O padrão de vida com o qual havia se acostumado era alto; festas, boates, viagens... Geralmente conseguia que a bancassem, mas estava farta de se sentir uma puta. Nunca havia ligado para isso até agora, mesmo que a única saída provável fosse ir além do que ela costumava ir. Ver o Playboy e a Devassa foi como ver dois atores de filmes americanos. E havia outros. Ela queria fazer parte deles. Mas pelo visto... Trinta e dois dias...

Não restava mais nenhum centavo dos dez mil. Saíra várias vezes, sem interesse em nenhum "patrocinador", como costumava se referir aos rapazes que a bancavam. Sentia-se vazia, sentia-se descartada. Sim, eles a haviam reprovado. Era frustrante. Como passar por uma chance que não voltaria a ter.

O curso tornava-se cada vez mais enfadonho. Acumulava atividades, trabalhos por apresentar. Sua vida resumia-se a ir para a faculdade, ir para a academia, ir para o trabalho, sair para se divertir... Mas já não conseguia mais diversão. Sentia que precisava mudar de vida, completamente...

— Feiticeira!

Era Ludovico indo a sua direção, onde estava sentada a uma mesa, sozinha, na praça de alimentação.

— Oi, Ludo.

— Posso sentar com você?

— Claro que pode, meu bem.

— Você está bem? — ele indagou, sentando-se diante dela.

— Estou sim. Só um pouco... Estou bem sim. E você?

— Não vou poder dar carona a você hoje.

— Por quê?

— Tenho um encontro — ele não escondia o orgulho em pronunciar aquelas palavras.

Paula também não conseguiu esconder sua surpresa. Nunca imaginara Ludovico saindo com alguém, mesmo ele sendo tão legal. Preconceito seu, talvez, por conta de sua aparência, mas ao mesmo tempo a informação deixou-a muito feliz.

— Encontro? Uau, Ludo! Que bacana! Vai desencalhar, garanhão! Quem é ela, em, safadinho?

— Se eu disser, você não vai acreditar — os olhos dele brilhavam, a expressão de satisfação constante.

— Quem? Diz logo, moço!

— A Tânia.

O sorriso de Paula desapareceu, sem ter como disfarçar.

— A Tânia? Aquela de sua turma?

— Sim. Dá pra acreditar?

Esse era o problema. Não dava. Tânia era muito bonita, mas metida a fresca e gabava-se de ficar apenas com os caras mais atraentes. Ludo tinha uma paixão platônica por ela desde que a conhecera, e apenas confidenciara isso a Paula. E Paula sempre o aconselhara a esquecê-la, que ela não valia a pena. Só podia ser uma brincadeira de muito mau gosto com seu amigo.

— Mas, Ludo, ela sempre desprezou você. Como é que de uma hora pra outra ela resolve sair contigo?

— Ela não me desprezava, ela só me... Ela não prestava atenção em mim. Mas aí a gente conversou outro dia e ela disse que a gente podia sair hoje pra nos conhecermos melhor.

Paula queria muito que fosse real, mas havia algo muito estranho.

— Para onde vão sair?

— Pra um restaurante. Vou faltar os últimos horários para poder tomar banho e vestir uma roupa bacana. Também vou usar aquele perfume importado que eu tenho. Por isso não vou poder te levar, tá?

— Tudo bem, Ludo...

— Ah, Feiticeira, estou nervoso... E se eu não souber o que falar?

Paula estava com um aperto no peito. Não queria magoar o amigo tentando alertá-lo, nem deixá-lo se magoar sozinho.

— Mas que conversa vocês tiveram? — ela ignorou a pergunta dele.

— Na verdade eu a ajudei.

— Com o quê?

— Sabe aquele relatório de Direito Penal II que eu disse que tinha que entregar, por isso estava ficando louco?

— Hum.

— Ela pediu pra eu ajudar ela, e...

— Você fez pra ela?

— Bem, eu...

— Ludovico, você fez o relatório pra ela? — ela alterou a voz.

— Olha, eu não sou burro. Eu sei que ela só veio atrás de mim pra eu poder fazer o trabalho por ela. Mas a gente conversou! Ela se deu uma chance de me conhecer e acabou gostando de mim. Por isso, ela mesma deu a ideia de a gente sair pra nos conhecermos melhor.

— Ludo, escuta! Você é a melhor pessoa do mundo que eu conheço, mas ela só está usando você.

Ele recuou um pouco, na cadeira, magoado.

— Por trás dessa máscara feia tem um cara interessante, Feiticeira.

— Eu sei, Ludo, eu sei mais do que ninguém! Você...

— Me diz, com sinceridade. Se eu não tivesse carro e não desse caronas a você, algum dia teria falado comigo?

Paula perdeu o chão. Tentou dizer algo, passar-se por ofendida, mas não conseguiu. Era uma verdade da qual achava que ele não tivesse consciência.

— Ludo...

— Estou atrasado. Fica bem, Feiticeira — levantou-se, deixando Paula ali sentada, sentindo-se tão desprezível quanto a tal Tânia. 



#################

Antes de passar para o próximo capítulo, deixem seu voto e comentem, que o Tio Dark aqui agradece bastante!

Clube Proibido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora