Capítulo 165: Confiança (parte 7)

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Enquanto Iguana dirigia, Paula tentava adivinhar para onde estava sendo levada. A princípio identificou os bairros, até pegar uma estrada. Ele havia colocado música clássica para tocar, em alto volume. Uma delas, Paula conhecia: Requiem, de Mozart.

Cochilou.

Abriu os olhos com o celular vibrando em seu bolso. Checou a tela acesa. Era Anabela ligando. Ignorou. Quanto tempo havia se passado? O carro andava por uma estrada de terra, arborizada dos dois lados, passando por casas mais humildes, longe umas das outras. Ainda estava em São Paulo? Subiram por um morro, então o carro estacionou diante de uma pequena capela. Era branca com detalhes azuis, pintura descascando. Uma escadaria de concreto misturado com capim levava à entrada. Paula olhou ao redor, constatando que havia apenas mato e árvores.

— Por que me trouxe aqui? — Paula sentiu-se encurralada, com a respiração pesada, mas tentava transparecer menos medo do que realmente estava sentindo. A porta da capela foi aberta de dentro para fora e dois homens ficaram aguardando.

— Esta é a capela do Sagrado Coração Imaculado. Fica longe, pois os fiéis dos bairros vizinhos têm de vir a pé. Tinham, na verdade. Há alguns anos está abandonada. Dizem que o padre se suicidou aí dentro, então ninguém mais quis entrar.

Paula não conseguiu esconder o rosto empalidecendo. O céu já alaranjava, anunciando o crepúsculo iminente. O celular vibrava em seu bolso.

— Não foi isso que perguntei — Paula segurou-se no assento, como se isso a fosse impedir de sair do carro. — Por que me trouxe aqui?

— O padre não se suicidou. Meus homens o enforcaram.

— Se deu a esse trabalho todo para me assustar? — Feiticeira estava apavorada, mas precisava manter o controle. — Estou lisonjeada.

— Venha comigo — Iguana abriu a porta do carro e saiu.

Paula hesitou. A chave estava na ignição. Só tinha que mudar de assento, ligar o carro e dirigir como nos filmes para dar a volta antes que os tiros a matassem. Só que com o medo que estava sentido, provavelmente levaria um tiro na cabeça antes que girasse a chave.

Resolveu sair.

Estava frio. Uns dezessete graus. Seguiu Iguana em direção à escadaria, sentindo o vendo gelado agourar-lhe. Nem tinha ideia do porquê dele a levar àquela igreja abandonada. Era onde levava suas vítimas?

A capela tinha apenas sete fileiras de bancos dos dois lados, com uma passagem no meio que levava a um altar repleto de velas acesas. Uma estátua de madeira de cristo crucificado na parede ao fundo olhava para cima, como se evitasse a cena que se seguiria, Paula pensou. Os homens deixaram os dois passarem antes de fecharem as portas e os seguirem.

— Lamento dizer que não sou religiosa, Iguana — escondeu a mão trêmula. — É melhor dizer o motivo desse circo todo.

Iguana a ignorou, e parou diante do altar, onde havia uma foto rodeada pelas dezenas de velas. Paula levou algum tempo para perceber, e sua alma escapou do corpo assim que o fez. Ficou absolutamente petrificada.

Era uma fotografia sua ao lado de Sara.

— Todos têm medo de vir aqui. Acham que é amaldiçoada. Mas a verdade é que o padre era um filho da puta. Seu trabalho era ouvir as confissões dos meus homens, sem que eles soubessem que ele trabalhava para mim; assim eu descobria quem estava me traindo. Era raro, mas era uma carta na manga. Ia às paróquias que eu mandava e era muito bem pago para dizer absolutamente tudo. Você não tem ideia do quão religiosos os criminosos são. Acontece que o padre estava me escondendo informações, me roubando. E descobri. Pensei em crucificá-lo, mas não ia parecer suicídio.

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