Capítulo 92: Petit Gateau

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Onze anos atrás


Havia poucas pessoas ao redor dele, mas aos poucos se foi formando um público maior. Todos visivelmente encantados com a voz suave e afinada do rapaz. Incluindo Sara.

A jovem Cobaltini não estava tão próxima, mas conseguia ouvir bem a voz e as mãos ágeis de Leandro. Tocava MPB e música pop americana, imprimindo sua identidade a cada canção. Sara inconscientemente foi se aproximando mais e mais.

Leandro estava sentado no encosto do banco da praça, com o violão no colo. As pessoas sentavam-se na grama, em outros bancos ou assistiam em pé. Ao ver Sara se aproximando, ele abriu um sorriso. Ao fim da música que cantava, falou:

— A próxima música eu vou improvisar. Chama-se Petit gateau.

Sara não acreditava. A princípio achou que todos iam olhar para ela, como se soubessem de quem ele estava falando, mas logo ela se tocou de que era um segredo dos dois, uma piada interna que não era piada e sim poesia. Leandro começou a tocar o violão e cantarolar sobre uma garota por quem havia se encantado, mas que só tinha olhos para seu petit gateau. A plateia riu, já que era uma letra tão cômica quanto romântica. Mas quem mais achava graça era Sara, maravilhada com a voz e a criatividade do artista. Ao fim da música, aplausos da plateia e da musa inspiradora.

Leandro continuou a tocar outras músicas, algumas a pedido do público. Após pouco mais de uma hora, ele encerrou. As pessoas colocaram moedas e cédulas na caixinha aberta sobre o banco em que ele se encontrava. Enquanto a pequena multidão se dispersava e alguns o cumprimentavam, parabenizando-o pelo talento e pela voz, ele recolheu todo o dinheiro e colocou em um compartimento de sua mochila. Sara esperou ele ficar a sós para chegar perto.

— Eu não vim por causa do desenho — ela disse sorrindo.

— Por que mais então? — ele retribuiu a simpatia.

— Não estava fazendo nada — ela fingiu desdém, rindo em seguida.

— Acredito. Mesmo em uma praça, sou uma atração de fora.

— Parabéns mesmo. Nossa, sua voz é incrível. E você toca divinamente.

— Muito obrigado. Não sou lá um petit gatou, mas dou pro gasto, não é?

Sara riu.

— Quando você parte?

— Já que consegui algum dinheiro com os desenhos e tocando aqui, amanhã pela manhã.

Sara sentiu uma sensação estranha. Não soube identificar imediatamente, mas era algo vagamente similar a tristeza. Surpreendeu-se por se importar, mas não quis transparecer.

— Uma pena. Provavelmente não conheceu a cidade toda.

— Sem ofensas, mas dá pra fazer caminhada dando voltas ao redor da cidade.

Os dois riram.

— Não vou negar, é verdade — ela confessou. — Mas tem um local que você provavelmente ainda não viu.

— Estou curioso — disse guardando o violão na case.

— Em agradecimento ao desenho e à música que fez pra mim, eu vou bancar a guia turística e te levar lá.

Ele fitou-a surpreso e contente com o convite. Sara não se reconhecia. Ela estava convidando um estranho? Era sempre eles que faziam-lhe mil convites. Isso os que tinham coragem, claro. Possivelmente estava deslumbrada por ele ser diferente dos rapazes que já conhecia quase que um por um. E talentoso, claro.

— Aceito — ele disse com um sorriso radiante. — A garota mais linda das redondezas, quiçá do estado, me convidando pra qualquer coisa eu jamais negaria.

— Não se ache especial. Só fiquei com pena de você.

— Claro — riu. — Vamos?

— Só quero lembrar que caso tente qualquer coisa, eu fui treinada para golpear os testículos de forma irreparável.

— Vou lembrar disso, pode deixar.

Leandro a seguiu.


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Eu não me meteria a besta kkkk

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