Capítulo 4: Teste

5K 449 118
                                    


Paula não dormira a noite inteira. O conteúdo da carta em si não a deixaria tão impressionada, mas checar sua conta via internet e constatar que havia dez mil reais depositados — como diziam as letras douradas impressas na folha negra—, não deixou dúvida alguma de que não se tratava de uma brincadeira. E se fosse, valia a pena "cair", já que seu saldo estava mais que satisfatoriamente positivo. Fora trabalhar sem concentração alguma, conjecturando o tempo todo quem poderia ter feito aquilo, e por quê.

Apesar da tentação de ir correndo mostrar a carta para Anabela, Paula conteve-se. A carta era estritamente clara ao proibi-la de compartilhar aquele segredo com qualquer pessoa, e por mais que achasse que ninguém descobriria, não queria arriscar. Era melhor ir até onde a brincadeira ia do que acabar com ela logo no início. Tenório? Ele era sua aposta mais provável, já que era o mais rico de seus affairs. Mas dez mil reais era muito dinheiro para um joguinho como aquele. Quem sabe dois mil ou menos pra ele fosse suficiente para tentar impressionar, afinal, quem dá de mão beijada tamanha quantia? Mas dez mil era demais, até pra ele. O pé-rapado do Júlio estava descartado, assim como Rony e tantos outros. Quem então?

No intervalo do almoço Paula deixou a Requinte e dirigiu-se ao caixa eletrônico mais próximo do shopping. Tirou o extrato. Dez mil quinhentos e vinte reais, valor total somado ao que ela já tinha na conta corrente. Sem titubear, sacou mil e transferiu o restante para a poupança. Foi à praça de alimentação, mas estava sem fome, apenas empurrava a comida. Olhou ao redor, para as centenas de pessoas ali presentes, sentadas ou transitando. Sabia que estava sendo observada.

Magda sentou-se ao seu lado com a senha do pedido em mãos.

— Onde você estava? Sumiu que nem vi.

— Fui resolver umas coisas — respondeu forçando um sorriso.

— Você está bem?

— Sim, só um pouco de dor de cabeça.

Paula adorava Magda, mas excepcionalmente naquele dia não queria ouvi-la reclamando do trabalho, falando mal dos clientes, dona Valda ou dona Dolores. Nem dos paqueras, nem do clima quente, nem do salário baixo, nem de nada, absolutamente nada. Tudo que Paula queria era sentar sozinha, reler a carta e decidir se fazia ou não o que ela orientava. Seu tempo estava esgotando; se ia entrar no jogo, que fosse de cabeça.

— Volto já — se dissesse que ia ao banheiro, a amiga a acompanharia. Lvantou e dirigiu-se a uma área menos movimentada. Apenas a praça de alimentação ficava tão cheia aquele horário. Sentou-se no banco de um Café e pegou a carta na bolsa. Releu-a mais uma vez:

Parabéns, Paula.

Você foi pré-selecionada a fazer parte do Clube.

Como cortesia, em sua conta foi depositado o valor simbólico de dez mil reais. Para conhecer o Clube é necessário ser um Membro, e assim sendo, nenhuma informação pode-lhe ser repassada a menos que seja aprovada em nosso teste de acessão.

Esteja às quatro da tarde na Praça da Liberdade, leve seu celular.

Caso este convite seja mostrado a alguém, ele será automaticamente anulado.

Caso queira negar de antemão, apenas desconsidere estas palavras. De qualquer forma, poderá desfrutar da cortesia oferecida pelo Clube e jamais será contatada novamente.

O Clube a aguarda.

C.

Apesar de bem escrita, a carta não era de todo formal; não haviam utilizado nenhum pronome de tratamento além de "você", e as palavras foram bem secas, diretas. Não parecia ser algo que precisasse dela, e sim algo que ela gostaria de fazer parte, como se tivesse passado por uma pré-seleção eliminatória.

Clube Proibido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora