Paula teve o ímpeto de dar meia-volta e fugir, mas seria uma cena completamente ridícula. Apesar de seus instintos, manteve o passo firme em direção à porta da casa onde morava, um sobrado de paredes verdes onde estava estacionado o carro de Júlio, com o mesmo encostado no capô. O semblante dele era de poucos amigos, mas Paula decidiu apenas fingir surpresa e sorriu.
— Amor!
— Amor? Amor? — repetiu ele com ironia, desencostando-se do carro e caminhando em direção a ela, bufando de raiva. Era alto e magro, com rosto bonito, olhos negros como os cabelos. — Você não me deu sinal de vida por dois dias, não atendeu nenhuma de minhas ligações, ignorou minhas mensagens no facebook e no WhatsApp... O que eu fiz pra você, garota?
Paula sabia fazer cara de sonsa como ninguém. Fez uma expressão de que o que ele falava era absurdo.
— Meu bem, andava ocupada, desculpa. Nem me toquei que estava te deixando de lado.
— Não se tocou, Paula? Não se tocou? Até onde eu lembro, sou seu namorado! Você me trata como lixo, sempre, depois aparece assim, como uma retardada.
— Primeiro, baixe o tom de voz. Não quero baixaria em frente à casa dos meus avós; segundo, se me xingar mais uma vez, juro que nunca mais vai me ver na vida.
— Eu... — Júlio ficou desconcertado com a reação da namorada. Confuso, passou a mão pelos cabelos, então a estendeu, pedindo calma: — Desculpa, OK? Não foi minha intenção. É só que... Poxa, amor, você podia apenas me dar sinal de vida, né? Me deixou tão preocupado!
Paula respirou fundo. A falta de atitude de Júlio chegava a ser nauseante. Era justamente por demonstrações de inexistência de amor próprio como aquela, que Paula cansara-se dele completamente. Um mês de namoro, que só chegara a ser namoro porque ele insistira muito, fora bastante romântico, e era o tipo que agradava seus avós: educado, estudioso e gentil.
— Eu estou cansada, Júlio. Estou atrasada pra aula. Preciso tomar banho e comer alguma coisa antes de ir. Dá licença? — tentou abrir caminho, mas Júlio deu um passo para o lado, impedindo-a.
— Não precisa me tratar assim, amor — disse afinando a voz da forma melosa que Paula odiava. — Eu levo você, pode deixar!
— Não preciso de carona. Com licença!
— O que eu fiz de errado, amor? — o choro começara, seguido de tremedeira no queixo, acompanhado de caretas ridículas de um marmanjo dando uma de bebê; era como Paula o descrevia mentalmente, sentindo o estômago embrulhar. Infelizmente tinha certa empatia por ele, o suficiente para não dizer-lhe algumas verdades que iam acabar deixando-o com depressão. — Eu te amo, Paula. Não faz isso comigo. Diz o que preciso melhorar, faço o que você quiser!
— Faz mesmo?
Ele engoliu o choro, enxugando as lágrimas com pressa, com uma luz de esperança acendendo em seus olhos empapados.
— Qualquer coisa! — gaguejou, embora a intenção fosse soar seguro de si.
— Então saia da minha frente, volte pra sua casa e pare de encher o saco — fez um sinal de positivo com o polegar enquanto piscava o olho, logo em seguida passando pelo estático rapaz, que sem reação, apenas a observou entrar pelo portão.
Após fechar a porta atrás de si, o casal de idosos que espiava pela fresta da janela ao lado deu um sorriso constrangido.
— Muito bonito, seus bisbilhoteiros — Paula colocou as mãos na cintura com uma careta de reprovação, como se falasse com duas crianças.
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Clube Proibido [completo]
Misterio / SuspensoAté onde vão os limites da luxúria e do desejo? Para o Clube, eles não existem. Sem tabus, sem pudores, sem vergonha... Jovens deliciosos, irresistíveis, mestres na arte da sedução, prontos para realizar as mais impensáveis fantasias de estranhos. ...