Capítulo 177: Plano (parte 6)

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Reviver as duras memórias havia deixado Sara ainda mais angustiada. Não bastasse as noites de sono que eram repetidos pesadelos, agora sua mente não pensava em nada mais. Ainda conseguia ouvir o som abafado de Leopoldo Lages se esvaindo enquanto o estrangulava. Havia tanto tempo, mas parecia acontecer ao vivo. Ainda conseguia ver nitidamente a cena: ela se afastando de calcinha e sutiã do cadáver nu. Sentindo-se ao mesmo tempo preenchida e vazia.

O único rosto que se esvaía de sua mente era o de Iguana. Logo o dele! Lembrava-se das feições, da tatuagem no pescoço, mas o resto era um borrão. Era como imaginar alguém, quando por mais que pensemos nos mínimos detalhes, não conseguimos visualizar nitidamente.

Saiu da academia, dirigindo direto para sua casa. Tomou um banho quente, tentando relaxar. Sua cabeça doía, o que a impedia de ler algo ou assistir. A solidão potencializava os pensamentos ruins; talvez fosse melhor tomar os usuais comprimidos de Rivotril e dormir antes de meia noite. Ou ir ao loft e se distrair com alguém. Tinha dois desafios para realizar no dia seguinte.

Terminou o banho.

Enquanto se penteava, ainda de toalha, Sara sorriu ternamente para o rosto da filha em um dos quadros. Quem iria imaginar que a conexão entre mãe e filha fosse tão forte? Se soubesse, nunca teria entregado a Marília e Marcos o vídeo em que matava Leandro. Mas não se arrependia de tê-la entregado a um lar milionário. Tivera que sofrer bastante para conseguir o que tinha, e não queria que Samantha tivesse uma infância sofrida.

Mas a teria de volta. Cedo ou tarde.

Vestiu-se.

O telefone tocou sobre a cama.

Pegou o aparelho. Era MILF.

— Pâmela?

— Sara, onde você está?

— Em casa, por quê? — estranhou a urgência na voz de MILF.

— Desculpe não ter dito antes, mas como mãe, tenho um pressentimento terrível em relação a Nayuri. Acabei de localizá-la pelo aplicativo... Sara, ela está na casa da sua filha.

Sara deixou o telefone cair. Ficou subitamente tonta. Flashbacks furiosos jorravam em sua mente.

Samantha no hospital.

Japa sorrindo.

As duas bebendo juntas.

Samantha inchada devido à anafilaxia.

Não sabemos ainda o que causou o ataque, mas garanto que Marília e eu sempre tomamos cuidados especiais com Samantha.

Japa gritando.

Eu quero você morta! É isso que quer de mim? Que odeie você? Pois eu odeio!

Uma imagem bem límpida formou-se em sua mente: Nayuri provocando a alergia de Samantha.

Era a segunda tentativa de matar sua filha.

Acordou do choque. Pegou o celular. Ligou para Marília. O celular apenas chamava; ligou para Marcos. Fora de área. Dois cliques no ícone do aplicativo, pressionou por dois segundos.

Era verdade.

Ligou para Nayuri. Fora de área.

Pegou a chave do carro. Correu para fora do quarto.

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