Capítulo 23: Demônio (parte 1)

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Ângelo havia cansado de mudar os canais da TV. Desligou-a, empertigando-se sobre seu leito, tomando cuidado para não arrancar o acesso ao soro preso em sua veia na dobra do antebraço. A perna engessada doía bastante ainda. Pegou o celular, revisitando sua timeline do Facebook. Sua foto hospitalizado tinha mais de trezentas curtidas e dezenas de comentários desejando que ficasse bem. Como Ana fazia falta!

A porta do apartamento foi aberta. Era seu irmão, Arnaldo.

— Falou com o médico?

— Os resultados dos exames ainda não saíram, mas parece que você só fraturou o fêmur mesmo — disse o jovem aparentemente mais velho uns dois anos, de barba rala. — Está tudo bem com sua cabeça.

— Só fraturei o fêmur? Quer trocar de lugar comigo?

— Não fui eu quem pilotou a moto embriagado — Arnaldo sentou-se na poltrona ao lado do leito.

— Me poupe de mais sermões, por favor.

— A Ana já está a caminho. Deve chegar na cidade em mais ou menos três horas. Falou com ela?

— Falei, sim. A coitada está morrendo de preocupação. Estou preocupado que ela dirija rápido demais. Estraguei o congresso dela.

— Você gosta mesmo dela, hein?

— Estou apaixonado — Ângelo sorriu.

— Pra chegar ao ponto de pedir ela em casamento com menos de seis meses, não duvido. Mas uma gata daquelas, você tem razão, mano.

— Não vejo a hora de ela chegar pra te substituir. Ela sabe cuidar de mim.

— Queria o quê? Que eu ficasse te acariciando?

Riram.

— Podia ser pior. Podia ser o pai dela — brincou Ângelo.

— Do jeito que ele "te ama", bem provável que você dormisse e acordasse com um travesseiro contra o rosto.

— Ele deve estar desapontado por eu não ter morrido.

— Não chega a tanto, vai. Ele quer ver a filha feliz. E por mais irresponsável que seja, você a faz feliz.

— Faltou a musiquinha triste de fundo.

Riram.

— Quer água?

— Traz.

Arnaldo pegou dois copos de água mineral do frigobar.

— Depois você reclama que é inútil pagar plano de saúde. Isso aqui parece hotel.

— Verdade — Ângelo olhou ao redor. O apartamento era pequeno, mas confortável. — Só trocaria esse leito pela minha King.

— Relaxa. Melhor se cuidar logo.

Alguns minutos de conversa depois, Arnaldo levantou-se mais uma vez.

— Vou dar uma volta, fumar um cigarro.

— Fuma por mim.

— Pode deixar — sorriu, saindo do quarto.

Menos de meio minuto depois, três toques na porta, que foi aberta em seguida.

Ângelo olhou para a enfermeira da cabeça aos pés, boquiaberto. O jaleco branco, preso à cintura, dava uma ideia do corpo cheio de curvas. Tinha o rosto lindo, com o cabelo amarrado em rabo-de-cavalo.

— Com licença — disse sorrindo, já entrando. Trazia nas mãos uma pasta preta grossa e uma prancheta com papéis.

— Toda! — Ângelo tentou esconder a animação com a beleza da nova enfermeira.

Ela olhou bem ao redor, como se procurasse algo. Então andou até a mesa à esquerda, colocando o material sobre. Enquanto parecia procurar algo, de costas para ele.

— Ainda sente dores?

— Sim.

— Hum... — disse ela virando-se para ele, com um sorriso reconfortante. — Parece-me que você precisa relaxar bem mais para diminuir a dor.

— Mas já tomei muitos medicamentos.

Ela sorriu. Desta vez foi um sorriso maroto.

— E quem falou em medicamento? — andou até a porta. Girou o trinco, travando-a.

Ângelo engoliu em seco.

A enfermeira andou em sua direção.

— Mas antes, deixe-me examinar você...


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Enfermeira Paula vai entrar em ação. Mas como ela chegou até aqui? Vejamos passo a passo!

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