(One Shot de Bia Coutinho, inspirado na música Here In My Room – Incubus. Sugerida pela Egle Cristina)
Em agosto de 1945, os pracinhas brasileiros retornavam as suas cidades natais, com marcas em seu corpo e as lembranças da verdadeira guerra. Eram chamados assim por serem civis, sem nenhum treinamento militar e voluntários para entras no exercito, que foi à guerra contra os países do Eixo, na segunda guerra mundial. O Eixo, era constituído pela Alemanha, Itália e Japão. Os Aliados, pela União Soviética, Estados Unidos, Inglaterra e China.
Reinaldo era um dos pracinhas, que voltaram vitoriosos para casa após a batalha no norte da Itália. Apena com um mês de treinamento, roupas inadequadas para o frio europeu e oito meses de luta, não sentia a gloria da vitoria. Sentia-se quebrado e desanimado, afinal matar e ver os amigos morrerem não era para qualquer um. Também pelo fato de que após a guerra, outra dera inicio, sendo a tensão e o medo suas armas.
Reinaldo estava feliz por estar vivo e ter retonado apenas com marcas de balas no corpo. Uma em especial no ombro esquerdo, por ter tentado regastar um amigo na trincheira. Porem Reinaldo não estava afim de festas. Com 24 anos, queira apenas paz e tranquilidade para viver o resto de sua bendita vida.
Seu pai não pensava assim. Morador do Rio de Janeiro, exatamente no Leblon, decidiu dar uma festa para o filho herói e vivo. Ele daria a festa mesmo que o filho estivesse morto. A contra gosto atendeu o pedido de Reinaldo, faria uma festa pequena e para conhecidos.
Então, ao final de agosto, às 20h a festa começou. Elegantes, os convidados foram informados que os trajes teriam que ser preto ou branco. Assim, os homens estavam de smoking preto e as mulheres de vestidos brancos.
Reinaldo estava entediado de tanto parabéns que recebera e tomava seu champanhe desanimado. Uma comoção na entrada da casa chamou sua atenção. Todos olhavam naquela direção.
Uma mulher entrou na festa de forma triunfal! Naquele mar preto e branco ela se destacou, usando um vestido vermelho. Trouxe vida e cor à festa e acendeu o animo de Reinaldo.
Conhecia Cristina desde sempre, mas naqueles meses que ficara fora, ela cresceu, se tornou mulher. E que mulher! O vestido marcava o busto farto e cinto, a cintura fina. A saia rodada, disfarçava o quadril largo que ele sabia que ela tinha. Depois de tantas idas a praia juntos.
Ele a acompanhava com olhar, como todos os presentes. Ela agia naturalmente, como se não estivesse diferente. Na verdade, não se importava de ser, ela até gostava de ser diferente, forte e independente. Alguém acendeu o cigarro que ela colocara na boca, também vermelha, e lhe deram uma taça de champanhe. O grupo formado por homens a servia e olhava o seu decote.
Um senhor que conversava com Reinaldo, não percebeu sua falta de interesse pelo assunto. A felicidade dele não estava na vitoria dos Aliados, ele queria falar ao senhor que outra guerra tinha começado bombas atômicas explodiriam. Mas foi educado e apenas pediu licença, tinha que chegar ate Cristina. Tinha que falar com ela! Atravessou a sala ampla, com sofás floridos e moveis de madeira escura, incluindo a cristaleira que toda família possuía em sua casa.
Quando chegou perto dela, Cristina o olhou, com um sorriso no rosto. Reinaldo estendeu a mão e pediu para que dançasse com ele. Apenas assim para se livrar dos urubus a sua volta. O rádio tocava uma musica popular, após ter transmitido a novela. A conversa fluiu bem, Cristina evitara de falar sobre a guerra e ele agradeceu muito. Perguntou apenas se ele estava bem com aquele olhar penetrante e preocupado. Viu mais sinceridade ali do que no olhar de seu pai.
Ele tomou coragem e perguntou se ela queria ir a outro lugar. Ela assentiu rápido demais para uma mulher daquela época. Assim, o convidado especial e a dama de vermelho saíram despercebidos da festa. Pelo menos era o que eles pensavam. O pai de Reinaldo riu, os outros convidados ficaram incomodados por não ter mais para quem olhar, e as convidadas, aliviadas.
Reinaldo a levou para o seu quarto e ela o beijou. Oito meses vendo armas, mortes e sangue, um beijo o levou a outro mundo. "O mundo podia cair aos pedaços, em um vento digno de ficção..." para ele não importaria, porque Cristina estava ali.
Tirou a camisa quando parou para respirar, enquanto ela ficava com a combinação íntima. Os olhos dela demoraram nas cicatrizes em seu peito musculoso e com uma fina camada de pelos. Sua mão tocou a do ombro esquerdo e ele abaixou a cabeça, envergonhado. Ela levantou o seu rosto e o olhou com paixão, amor e orgulho. Seu amigo de infância era um herói, e aquele sentimento adormecido há muito tempo, reviveu em seu peito. As marcas provavam o terror e a vitoria dele.
Ele não aguentou e a beijou novamente. Não queria que ela ficasse olhando para suas marcas, já estava cansado dela. O beijo foi possessivo e forte. Ela se derreteu naqueles braços. Ele queria reverenciá-la, queria amá-la e torná-la sua. O que seria um alívio para ele também, já que há tanto tempo não esteve com mulher nenhuma. Queria principalmente, agradecer por ela ser aquele tipo de mulher, livre dos tabus da época e cheia de ideais. Começou a fazê-la esquecer do que vira em seu corpo e percorria o corpo dela imaculado com adoração. O quarto também com moveis de madeira de escura, apenas observou. A música da festa abafava os sons do casal.
Porque sim, "...amar era um verbo aqui no meu quarto, aqui no meu quarto...".
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Amigo Oculto Literário
ContoSorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.