PARAISO INSOLIDO

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One shot de Karina para Pippa.

Enquanto Cris aguardava ainda desolada na sala de espera do hospital, ela pegou seu celular e por inúmeras vezes tentou escrever algo para Garrafa sobre o que tinha acontecido naquela noite. Em sua mente, a garota não via como sua vida poderia piorar. Grávida, sem lugar para morar e com a mãe internada no hospital. Nem suas coisas restaram, por que o cara a quem se denominava como seu pai, havia queimado tudo em surto após a expulsar de casa e agredir fisicamente sua mãe.
Sentados do outro lado da sala de espera, a garota reparou no casal que aparentavam se encontrar na mesma situação que ela. Kailini estava deitada no ombro de Fabiano, com aparência abatida pelo susto que tomara ao receber a notícia que Gabriel, filho de Fabiano tinha ido parar no hospital. Ela segurava a mão dele, de forma afetuosa na intenção de demonstrar seu apoio a ele.
— Não consigo ficar aqui parado sem fazer nada — Fabiano se levantou, e Kailini se preparou para lhe acompanhar — Vou ali buscar um café! Fique aí e descanse um pouco. Eu já volto!
Ela apenas assentiu, e o viu ir até a máquina de café, reparando que do outro lado alguém lhe observava. Ela deu um sorriso despretensioso e se aproximou da garota, sentando ao seu lado.
— Dia difícil? — Perguntou Kailini.
— Parece só piorar! — Murmurou Cris, movendo o celular na mão.
— Precisa ligar para alguém? Tenho crédito se precisar.
— Obrigada, mas não precisa. Estou apenas criando coragem pra... — ela respirou fundo — Deixa pra lá!
As duas ficaram em silêncio, e Kailini resolveu tentar puxar conversa novamente.
— Está sozinha? — Perguntou e Cris a olhou para seu crachá de acompanhante, fazendo Kailini abrir um sorriso — Além de estar acompanhando alguém, quero dizer...
— Estou sim!
— Família? — Agora a moça indicou o crachá.
— Minha mãe...
Kailini balançou a cabeça em sinal de confirmação. E permaneceu em silencio. Não queria ser desagradável, ou intrometida. Olhou para ver se Fabiano aparecia, mas nada.
— Seu marido? — Perguntou dessa vez Cris.
— Não, meu namorado! — Respondeu contente, por estarem falando e complementou — o filho dele está aqui.
— Ah, sim! — Cris pensa por um momento e vendo que a moça se demonstra simpática, resolve desabafar uma dúvida — Por que você está aqui?
Kailini se ver intrigada com a pergunta.
— O Fabiano é meu namorado e precisava de mim nesse momento ao seu lado. Nesses momentos, estar com alguém que se importa e que você gosta é fundamental, mas por que a pergunta?
Ela olha novamente para o celular.
— É complicado!
— Eu tenho a noite toda...
*
Lívia chegou em casa e viu Laerte sentado no sofá disperso. Ela se aproximou dele o cutucando e o homem levou um susto a ver a filha a sua frente.
— Lívia! — disse ainda atordoado — Nem vi você entrar.
— Está tudo bem? — disse observando o pai — Pensei que estivesse na boate.
— Hoje estou de folga e aproveitei sai com uma amiga do trabalho — falou coçando a cabeça — e você está bem?
A garota jogou-se ao seu lado no sofá.
— Estou sim, estava com um “amigo” da faculdade — dando referência ao que o pai dissera.
— Sei... E como foi seu dia? — Perguntou como se fosse algo corriqueiro.
Livia franziu o cenho, estranhando a pergunta do pai.
— Você está bem, mesmo? — indagou a garota.
— Estou... Estou... É que passei no hospital com a Bia e...
— Então o nome dela é Bia! — interrompeu Lívia de modo provocativo, e Laércio a olhou com repreensão.
— Como ia dizendo, o filho de um conhecido da dela foi operado e ao olhar o estado do pai da criança fiquei pensando em como deve ser terrível a sensação de ter alguém que você tanto ama desprotegido e você apenas olhar e não poder fazer nada. — refletiu Laércio — Isso em caso de operação, agora imagine se ele...
Naquele momento Lívia sentiu seu celular tocar. Ao pegar o aparelho, viu o número de Garrafa na tela e presumiu que aquele não era um bom sinal.
*
Gilda abriu a porta do quarto da neta para ver o que estava acontecendo, após aquele barulho, sentiu a necessidade de intervir. Aliás, estavam dentro de sua casa. Se algo de pior acontecesse, não queria que ninguém alguma invadindo sua privacidade.
Ao entrar no quarto, viu um rastro de sangue e se deparou com a cena que a deixou abismada. Bia segurava um caco de vidro na mão e Lucas tentava conter o sangramento em seu rosto. Os dois se mantinham firmes um ao outro, com um olhar duro Gilda entrou no cômodo.
— Você pode me explicar o que está acontecendo aqui, Beatriz! — exige a mulher.
Com o corpo em pura adrenalina, os olhos de Bia encaravam o de Lucas com puro ódio pelo o que ele fizera. Ha poucos minutos atrás, o rapaz não apenas elevou o tom de voz com ela, como tentou agredi-la fisicamente e aquilo Bia nunca permitiria de ninguém. Ela pegou um vaso e jogou contra ele, porém o mesmo se desvencilhou e partiu novamente pra cima da garota. Louco de ciúmes e sem nenhuma explicação plausível, Lucas não media noção de seus atos. Ela era sua namorada, lhe devia respeito! Era o que pensava.
Bia aproveitou uma deixa dele e pegou um caco que estava no chão para poder se defender e assim o fez. Porém aquilo despertará ainda mais o ódio do rapaz, que já arquitetava o que faria após isso.
— Se encostar a mão em mim mais uma vez, ao invés de um corte eu te deixo cego, está entendendo? — ameaçou em alto som a moça.
— Beatriz, larga esse objeto agora! — exigiu Gilda, tentando se aproximar da neta.
Beatriz a olha com desprezo.
— Eu sei que você tem parte nisso, vovó. Sempre soube que era baixa, mas nunca pensei que fosse tanto para fazer suposições para esse cretino?! — disse enojada — Eu cansei disso. — ela olhou uma ultima vez para Lucas — E você, se quisesse te trair, eu faria na sua frente. Por que homem que se sente inseguro, é porque bom serviço não oferece na cama.
A garota saiu do quarto pisando firme enquanto Gilda a olhava pasmada com as palavras da neta. Um furor surgiu dentro dela, enquanto dizia “nem pense em fazer isso Beatriz!”, mas ela a ignorou e bateu forte a porta da sala atrás de si. Uma dor forte invadiu Gilda de repente que caiu de joelhos no chão. Olhou para Lucas pedindo ajuda, mas o rapaz apenas a olhou sadicamente e disse: sua neta não perde por esperar! E assim se foi, deixando Gilda no chão gemendo.
*
— Você é doido, Garrafa? — falou Livia assim que chegou perto do amigo, junto com Nicolas — Desde quando você vinga alguém?
Os três estavam em frente à casa de Cris e observavam a casa apagada como se não houvesse ninguém dentro. Depois da conversa com Kailini, Cris tomou coragem para ligar para garrafa e lhe contar tudo que houve. O rapaz enfurecido desligou como se estivesse tudo bem, mas antes disse que antes de ir ao hospital, depois do trabalho, ele teria que ir resolver uns assuntos pessoais com sua mãe.

Cris só não esperava que o rapaz fosse dar uma lição no pai da garota. Ele ligou para Livia que tomou um grande susto e junto com Nicolas — a quem ligou logo depois, que organizava uma surpresa que iria fazer pra garota. Mas se prontificou a ir com ela, já que tinha o mesmo pensamento de Garrafa — ele demorou um pouco pra sair de casa, mas conseguiram chegar em 30 minutos na ex/casa de Cris.
— Você sabe se ele está lá dentro? — perguntou Nicolas, olhando pra ver se tinha alguém na rua, mas ela estava deserta após o ocorrido. Apenas uma fumaça, dos moveis queimados ainda pairavam no ar.
— Aquele velho vai pagar por isso! — falou Garrafa — Vai ser apenas um susto rápido, vocês vão ver.
— Não estou gostando nada dessa ideia! — comenta Livia.
— Vai ser rápido, Liv. — concorda Nicolas — O velho vai nem sentir.
Os três entraram pela janela nos fundos da casa. A casa parecia mesmo abandonada. A irmã de Cris estava com uma vizinha e o velho, de acordo com Garrafa que já havia entrado, deveria estar no quarto do casal. Nicolas estava com um cano pontiagudo em suas mãos e garrafa com uma garrafa com gasolina e um isqueiro. Livia estava com um enorme mau pressentimento. Eles seguiram em silêncio até o quarto, e ao pegarem na maçaneta, ouviram que alguém batia na porta da sala.
Foi tudo muito rápido.
A porta do quarto se abriu e o pai de Cris, saiu resmungando de dentro com o forte barulho na porta. Os três correram pra sala, mas a luz foi acesa e quando o velho tentava entender o que estava acontecendo, Nicolas partiu pra cima dele com o cano, mas o estrondo da porta foi maior. O cano foi certeiro na face do velho e o som do tiro, alastrou o local acertando bem no peito de Nicolas.
— Não! — gritou Livia, e como em câmera lenta ele olhou para a porta e ali viu seu pai.

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