EM UM PISCAR DE OLHOS

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One shot de Leonardo para Gabi.

Era um dia normal em Belo Horizonte e eu acordava ao som de uma melodia suave. Olhei para a tela do meu celular e vi duas mensagens. Será que era dele? Resolvi tomar um banho e me arrumar, antes que meu pai viesse para o meu quarto.
Deixei que a água quente do chuveiro me molhasse e me desse energias para o dia de hoje.

— Gabriella? — meu pai bateu à porta do banheiro. — Está no banho?
— Sim pai. — respondi saindo da água e começando a me enxugar. — Já desço em um minuto.
— Estou te esperando na sala. — ele falou e bateu a porta do quarto.

Saí do banheiro e vesti a roupa da escola. Hoje eu não podia deixar meu pai nervoso. Tinha que dar tudo certo. Amarrei o meu cabelo em um rabo de cavalo com um laço vermelho e desci as escadas. O uniforme do Instituto Sagrado Coração de Cristo era uma blusa social e saia pregada, fora a meia três quartos e a sapatilha horrível que tínhamos que usar.
Peguei minha mochila e desci as escadas que levavam a cozinha.

— Quanta demora. — meu pai exclamou quando me sentei a cadeira. — Eu já falei para você não se atrasar no banho. Todo dia a mesma coisa.
— Querido! — minha mãe falou e olhou para mim. — Bom dia minha pequena.
— Bom dia mãe. — falei e depois me virei para o bebê que estava sentado na cadeirinha. — Como está o menino mais lindo do mundo?

O pequeno Bernardo balbuciou algo que eu nunca entenderei e sorriu. Comi algumas torradas olhando para meu irmãozinho que recusava-se a tomar sua mamadeira. Meu pai se levantou e eu fui logo atrás dele.
Despedi-me de minha mãe do pequeno e fui para o carro. Quando sentei ao lado do meu pai e coloquei o cinto, o mesmo me olhou.

— Onde está seu crucifixo? — ele falou e eu dei um meio sorriso. Eu sempre torço para ele não lembrar, mas hoje era um daqueles dias que ele estava atacado. — Gabriella, eu já disse que você…
— Está aqui pai. — falei pegando o mesmo na mochila e colocando o cordão de ouro no pescoço. — Eu coloco na escola depois da oração, já cansei de te falar pai.
— E eu já disse que você não deve tirar ele nem para dormir. — falou dando partida no carro. — Você sabe que seus colegas devem saber da sua fé. Eles tem que ver quem você é.

Eu não falei nada. Só olhei pela janela do pequeno gol prata que me levava para a escola. Quando meu pai parou em frente a escola, ele se despediu e arrancou com o carro. Ele era pastor na igreja metodista de um bairro mais afastado de BH e tinha que voar para começar as atividades do dia.
Aproveitei a multidão para pegar meu celular e abri nas mensagens.
“Estou te esperando atrás da escola, quero te levar em lugar especial. Derek.”
Olhei em volta e apertei o pé até chegar na parte de trás da escola onde Derek me esperava com sua moto. Ele abriu um sorriso quando me olhou e desceu da moto. Estava com uma cesta no braços fazendo meu coração disparar.
Ele com a mão livre me puxou pela cintura e me deu um beijo molhado fazendo com que minha barriga explodisse em mil borboletas.

— Como é bom te ver Gabi. — ele falou me soltando. — Por que demorou para me responder?
— Meu pai. — falei ajustando a mochila nas minhas costas e pegando um capacete.
— Vamos? — ele sorriu do modo mais encantador possível.

Não tinha como negar isso a ele. Derek era o homem que me conquistara e eu não queria perder ele por nada.
* * *

Derek estacionou a moto no parque Mangabeiras de frente para uma trilha. O sol brilhava no alto das copas das árvores, mas as sombras eram frescas. O cabelo loiro de Derek brilhou junto com o olho seu olho azul.
Ele forrou um lençol na grama de frente para o grande mirante de BH. Do lugar onde estávamos, via-se todo o centro da cidade.
Ele se deitou com a cabeça na minha mochila e eu deitei em seu peito.

— Aqui é lindo. — falei olhando para as árvores e depois ao longe para os arranhas céus.
— O verde das folhas das árvores me lembram da cor dos seus olhos. — Derek falou e eu o olhei nos olhos.
— Você é sempre romântico assim? — perguntei.
— Sempre. — ele sorriu e me deu um selinho.

Fazia um ano que estávamos juntos, escondidos do meu pai, que não aceitava de jeito nenhum nosso relacionamento. O beijei levemente com o mesmo respondendo aos meus beijos. Ele desceu as mão pelas minhas costas e pousou na minha cintura.

— Você me ama? — ele perguntou dando um meio sorriso.
— Como a minha vida. — eu falei sorrindo.
— Foge comigo. — ele falou e me deu outro beijo. — Vamos sair desse lugar. Vamos para longe.
— Para onde iriamos? — perguntei colocando os braços sobre os seus braços.
— São Paulo. — Derek falou olhando nos meus olhos. — Ou para uma cidade do sul. Você se forma daqui um mês. Eu posso tocar em uma banda de uma igreja e você cantar. Poderíamos abrir um ministério…

Dei uma risada nervosa. Derek sonhava alto e deixava claros seus planos com a nossa vida.

— Mas você é católico. — falei sorrindo. — Não somos da mesma religião…
— A nossa fé em Deus é a mesma Gabi. — ele sorriu e sentou me ajudando a sentar de frente para ele. — Não importa qual igreja a gente frequente. Deus é um só.

Eu sorri. Quando ele falava assim, eu tinha mais certeza que era com ele que eu queria passar o resto da minha vida. Ele e eu ficamos algum tempo fazendo planos. Derek era tão bom, que as vezes eu me perguntava, por que meu pai não o aceitava. O preconceito do meu pai por causa de Derek ser devoto de Nossa Senhora era ridículo e eu nunca entenderia. 
Comemos o que ele tinha trazido em meio a piadas e risadas.

— Sério? — eu ri.
— Não ri, são meus sonhos. — ele abriu aquele sorriso doce que só ele conseguia dar. — Noivar em uma festa com todos os nossos amigos, casar em uma praia e passar a lua de mel em alto-mar. Quero ter dois filhos, ou três.
— Três? — eu ri quando meu celular vibrou.

“Filha, sua professora já me ligou duas vezes querendo saber de você. Estou receosa de ligarem para o seu pai. Onde que você estiver, venha para casa. Mamãe.”

— Que foi? — ele me olhou preocupado.
— Minha escola deu falta de mim. — falei tentando sorrir, mas o fato é que eu estava preocupada de verdade. — Minha mãe pediu para eu ir para casa.
— Então vamos. — ele falou me ajudando a levantar.

Juntamos as coisas e Derek voou com a moto, pelas ruas de BH. Senti meu celular vibrar na mochila e começar o toque que eu mais temia: o do meu pai. Meu sangue gelou nas veias, se Derek não fosse rápido o suficiente, eu provavelmente ia ser mandada para o colégio interno em Diamantina.
Me agarrei a cintura de Derek quando chegamos ao centro da cidade. Ele começou a desacelerar e do nada uma freada. Um ônibus parou na nossa frente bruscamente. Não deu tempo de pensar quando eu ouvi o impacto contra a traseira do grande veículo.
Senti meu corpo se quebrando em várias partes e eu sendo arremessada para o alto de uma vez só. Quando meu corpo atingiu o chão, a última coisa que eu vi foi Derek amassado entre o onibus e um carro.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora