OXIGÊNIO

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Oxigênio, de Ariane Fonseca para Rebeca

O oxigênio é um elemento químico, conhecido pelo símbolo O. Possui 8 prótons e 8 elétrons, com massa atômica de 16 u. Faz parte dos calcogênios, ou grupo 6A da tabela periódica. Não tem cor, cheiro, nem sabor. Essencial para a manutenção da vida no planeta, é a única coisa que me mantém viva neste momento. Mas não por muito tempo.

TRÊS HORAS ANTES

São quase sete horas da noite de um sábado frio de inverno. Como sempre, estou no meu quarto imersa nos livros. É o que mais gosto de fazer. Ana insiste todo final de semana para que eu saia com ela, mas não tenho paciência para baladas. Odeio barulho alto, muito gente aglomerada e tenho pavor de lugares apertados, onde não consigo respirar direito. A gente mora junto há dois anos, dividindo uma quitinete perto do Campus da faculdade, mas quase nunca concordamos quando o assunto é diversão.

A porta se abre e ela entra enrolada em uma toalha e com outra no cabelo. É uma exagerada, sempre se arruma horas antes de ir a qualquer lugar. Até à padaria.

- Beca, tem certeza que você não quer vir com a gente hoje? Vai ser super legal o show. O David também vai.

- Tenho. Você sabe que não curto essas coisas. - respondo sem tirar os olhos de “Quando a noite cai”, livro da Carina Rissi que estou quase terminando de ler.

- Pelo amor de Deus, quando você vai se divertir de verdade? Perde o fim de semana inteiro lendo ou escrevendo.

- Pra mim isso é diversão. - continuo com olhos fixos no livro.

- O David insistiu para eu convencer você, sabia? Ele disse que já desistiu de te convidar.

- Ele sabe, mais do que todos, que não gosto disso.

- Você poderia dar uma chance pra ele. Tá na cara que ele gosta de você.

- De novo isso não, Ana, pelo amor de Deus. - pela primeira vez olho em seus olhos. - Já cansei de falar, David é só um amigo, nos conhecemos desde crianças. É como um irmão.

- No fundo você sabe que gosta dele também, só tem medo de deixar acontecer.

- Chega desse assunto. - digo levantando da cama onde estava deitada. - Vou no Centro, preciso procurar um livro no Sebo da Liz.

- Essa hora, Beca?

- Sim, eles ficam abertos até as dez.

- Tem certeza que não quer sair com a gente?

Só reviro os olhos e não respondo. Pego meu casaco, as chaves do carro e saio. Quando chego no Sebo, me perco na infinidade de possibilidades e nem vejo o tempo passar. Olho no relógio e já são nove. Hora de voltar, está ficando muito frio.

Como é proibido estacionar naquela área, tive que deixar o carro em uma rua paralela. Não teria problema se uma lâmpada queimada não tornasse o local perigoso, sem gente caminhando por lá. Aperto o passo, mas sou parada por um estrondo vindo do lado direito. Eu diria que parece um tiro, mas como nunca ouvi antes, não tenho certeza.

Quando me toco que estou no lugar errado, na hora errada, dois caras encapuzados vêm correndo em minha direção. De imediato, não percebem minha presença, então, encosto próximo da lixeira.

- O que você fez, seu idiota? - o mais alto diz, tirando seu capuz.

- Ele reagiu, atirei sem pensar.

- Agora estamos fudidos, vamos sair logo daqui.

Quando escuto “atirei” tenho certeza que o barulho foi de um revólver e entro em desespero. Ao tentar sair correndo, esbarro na lixeira e chamo a atenção dos dois homens.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora