One shot de Laís para Meg.
A floresta era densa e escura. Só a sua aparência já era suficiente para despertar o medo mais profundo de um ser.
Mas não. A realidade sempre insiste em pregar peças.
A floresta era ainda pior do que isso. Miguel já ouvira as várias histórias sobre ela. Seu pai lhe contara sobre como ela fazia as pessoas fazerem coisas que não queriam. As que saíam dali com vida, acabavam por cometer suicídio, entorpecidas pela culpa.
E por esse motivo ele temia pela vida de Sophia e Sperare. E se a floresta o obrigasse a machucá-las? Como sobreviveria? Apenas seu autocontrole seria o bastante para evitar uma tragédia?
Com esse monte de questionamentos na cabeça, seguiu floresta adentro, seguido por sua irmã e sua amiga. O clima tenso impedia qualquer tipo de conversa entre eles. Não tinha certeza se as duas possuíam as mesmas angústias que ele, mas esperava que não. Brigar contra a sua mente é um exercício torturante e exaustivo e ele não desejava isso para ninguém.***
Sophia notou a tensão do irmão, mas achou melhor deixá-lo quieto. Sabia por experiências passadas que algumas vezes era melhor deixar que ele resolvesse seus conflitos internos sozinho e foi o que fez. Sperare apressava o passo. Parecia tentar fazer o possível para que essa tortura acabasse o mais rápido possível, mas para isso, Sophia precisou acelerar. Estava com os pensamentos ao longe, quando notou que o irmão ficara para trás.
- Espera! - exclamou, chamando a atenção de Sperare. - O Miguel sumiu.
Sperare a encarou com espanto. Parecia não entender o que estava acontecendo, mas alguma coisa não estava certa. Miguel jamais as deixaria para trás – ou para frente, neste caso.
Sophia também conhecia os rumores sobre a floresta, mas tentou se manter otimista. Ele apenas devia ter ficado para trás.
- Vamos procurá-lo – disse Sperare, tentando tomar o controle da situação.
- Não podemos – respondeu. - Você vai atrás do cálice enquanto eu vou atrás do meu irmão.
A contragosto, Sperare concordou e seguiu em frente, deixando Sophia a procura de Miguel.***
Sperare seguiu em frente sem entender direito o motivo daquilo. De que jogo exatamente aquela fada estivera falando? Seja lá o que fosse, tinha um péssimo pressentimento sobre o que estava acontecendo.
***
Enquanto Sophia andava a passos lentos e cuidadosos pela floresta, ouviu som de folhas secas quebrando atrás de si. Sabia que eram passos e que alguém estava a seguindo. Com o máximo de discrição, pegou a lâmina da sua bota e a deixou a postos. Seu coração martelava contra seu peito, suas mãos suavam e sua boca estava seca como um deserto. A adrenalina corria em suas veias, demonstrando que ela estava pronta para o que lhe esperava.
- Eu não tenho medo de você! - exclamou, com a voz esganiçada. - Seja lá quem for, apareça!
O silêncio reinou, deixando a situação ainda mais assustadora.
- Apareça de uma vez! - insistiu, mas mais uma vez sem sucesso.
Seja lá quem fosse, estava gostando de brincar com ela.
Nenhum som era emitido, além das fortes batidas do seu coração. Ele batia com tanta força, que temia que seu inimigo pudesse ouvi-lo.
Quando pensou que tudo não passava de sua mente tentando lhe pregar uma peça, uma força muito forte a arremessou contra uma árvore. Mesmo com a lâmina na mão, não teve tempo para desferir qualquer golpe contra seu oponente. Sentiu uma forte pancada na cabeça gerada pelo choque e viu tudo ficar escuro.***
O som de batida foi tão forte que assustou Sperare. Sem saber o que fazer, deixou seu objetivo de lado e correu para o lugar de onde o som parecia ter vindo. Sabia que só podia ser algo relacionado a Sophia ou Miguel. E pelo tom sombrio do local, podia apostar que se tratava de problemas.
- Sophia! Miguel! - chamou, sentindo o desespero crescer dentro do seu peito.
Sperare já não caminhava mais. Suas pernas corriam o mais depressa que podia, como se sua vida dependesse disso. Não ligava para os galhos que insistiam em castigar seus braços e rosto. Só queria poder encontrar seus amigos sãos e salvos. Já perdera pessoas importantes demais. Não podia se dar ao luxo de perdê-los também.
Era difícil se guiar naquela emaranhado de árvores e escuridão, mas ainda assim corria até sentir suas pernas doerem. Corria tão depressa, que caiu um tombo cinematográfico quando alguma coisa se meteu no seu caminho. Ralou as mãos e o rosto, mas não se deixou abater. Levantou-se rapidamente e voltou para ver o motivo de sua queda. Quase caiu pra trás quando encontrou Sophia deitada no chão de bruços. Sentiu seu sangue se esvair enquanto se aproximou aos poucos do corpo desacordado da amiga. Sentou-se próxima a ela e a chacoalhou com força, mas a garota não reagia. Quando a empurrou tentando virar a garota para cima, não conseguiu conter o grito de desespero. Sem vida, Sophia jazia no chão com um extenso e profundo corte na garganta.***
Miguel acordou sem entender o que havia acontecido. Lembrava-se de seguir a irmã e Sperare pela floresta, mas de repente todas as lembranças sumiram, fazendo-o questionar sobre o que exatamente acontecera com ele. Sua cabeça latejava enquanto tentava levantar-se do chão. A visão turva e enevoada só piorava as coisas, enquanto a aflição crescia dentro dele. Onde estariam as duas? E se estivessem em perigo?
Apoiando as mãos sobre o tronco de uma velha árvore, ajoelhou-se no chão antes de se levantar. Tudo girava a dor de cabeça não dava trégua. Levou a mão a cabeça, ainda confuso, mas se deteu quando olhou para o tronco. Uma marca de sangue em forma de mão estava ali e o sangue fresco só provava que aquilo era muito recente. Quase num salto – e tentando esquecer a tontura e a dor de cabeça – aproximou-se ainda mais do tronco para analisar aquela marca. Tocou levemente no tronco e então se deu conta que todo aquele sangue vinda de suas mãos.
Após uma rápida conferida – enquanto o desespero o torturava – notou que seu corpo inteiro estava coberto de sangue.
Alguns flashes vieram a sua mente e lembrou-se do momento em que atacou a própria irmã, acreditando se tratar de uma Besta. Ela estava desacordada e nem teve chance de se defender. Ele era um monstro. Ele tirara a vida da pessoa que mais amava.***
Resistindo a vontade de chorar, Sperare deixou o corpo sem vida de Sophia para trás. Precisava encontrar Miguel antes que fosse tarde demais. Seguia a passos firmes pela floresta, deixando que sua determinação a guiasse. Ouviu alguns ruídos e seguiu até lá. Por mais que seus instintos a dissessem que aquilo poderia ser uma armadilha, seguiu em frente. Precisava salvar Miguel da criatura que tirara a vida de sua amiga.
Andando de cabeça baixa para não tropeçar nas raízes, acabou batendo com a cabeça em alguma coisa. Primeiro pensou ser um galho de árvore, mas o galho se mexia. Quando ergueu a cabeça deparou-se com uma cena aterrorizante.
Amarrado a um tronco de árvore pelo pescoço, um Miguel desacordado balançava para um lado e para o outro, mostrando a Sperare que agora ela estava sozinha em sua jornada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amigo Oculto Literário
Short StorySorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.