Mudança de sexo

16 1 0
                                    

De Bia para Laís

Nascera menina e como manda a tradição, todo o seu enxoval foi rosa. A mãe não economizava nos laços e vestidos de boneca que arrancavam suspiros quando andavam na rua. Nem o seu carrinho também rosa e sapatos de verniz, com laços e presos no pé para não perder.

Crescera menina, formou o corpo e deixou os cabelos até os quadris, esse liso e preto. No rosto, aprendera a usar maquiagem e nos pés, saltos. Não passava despercebida por onde andava, mas agora os suspiros eram por outras coisas. Aprendera o ballet e a rebolar como fazia uma menina.

A sua descoberta da sexualidade fora liberal. Cercada de mimos, podia fazer o que queria, mesmo que fosse contra os bons modos ou seja, ao que a sociedade impunha. Sua mãe dizia que estava vivendo e aprendendo, mesmo que ménage ou outras coisas fossem uma forma de ela experimentar.

Uma vez, se encontrara com a amiga no chuveiro da escola, enquanto tomavam banho após a aula de educação física. O que era para ser um experimento, acabou em mãos e beijos ousados, quentes e de tirar o fôlego. Tomando a iniciativa sempre e dando prazer a amiga, Thainá percebeu naquele momento, no chuveiro aos quinze anos que era homossexual.

Uma coisa era experimentar, fazer uma vez e depois deixar de lado, mas o sentimento cresceu dentro dela da mesma forma que seus seios começaram a aparecer na blusa. Depois daquele dia ela escolheu ficar com mulheres, mesmo que houvesse algum homem envolvido, escolhia a mulher para satisfazer.

Aos vinte anos, tentava se esconder. Não fora nada fácil, dotada de seios fartos, cintura fina e quadril largo, as roupas não lhe ajudavam. A primeira decisão fora mudar o guarda roupa, preferia as roupas largas e masculinas, o cabelo depois fora cortado na altura da nuca, e sua mãe começou a ficar alarmada pela súbita mudança da fila.

— Mãe, você não percebe?

— Sim, minha filha. E continuo do seu lado, mas mudar assim? Poderia continuar usando duas roupas, algumas meninas fazem isso.

— Não me sinto bem nelas. - Thainá respondia cansada e voltava ao seu quarto.

Um dia, despiu-se completamente. Olhou no espelho de tamanho natural que havia em quarto e hesitou. Apalpou os seios e passou a mão pela cintura, chegou ao seu sexo e virou para ver o quadril. Não gostou do que viu, ela teria que mudar, cada vez mais desgostosa com o seu corpo. Ela não queria ser mais mulher!

Fechou os olhos e lembrou da luxúria que proporcionou a namorada, do quanto se sentia bem ao fazer aquilo, mesmo que usasse apetrechos em sua ousadia. Thainá notava como a namorada a olhava, mas ela gostava do ato em si e Thainá gostava de lhe dar prazer ao fazer.

— Eu vou fazer isso. Não aguento mais esses dois pesados e o cabelo assim. Já deu pra mim!

— Mas é arriscado amor. Não coloque sua saúde em risco. - o carinho foi terno enquanto estavam deitadas embaixo da coberta.

— Não. Sei de um jeito que posso fazer de forma segura. - convicta foi a resposta de Thainá.

Então começou o procedimento. Acompanhada do médico soube que poderia mudar o sexo feminino para masculino, apesar de doloroso e dispendioso, mas saiu do consultório com os hormônios certos a serem tomados. O próximo passo era retirar os seios que ao seu ver não eram mais dela. A cirurgia fora ruim e o processo de cura pior, mas nada a fazia mudar de ideia. As roupas masculinas já faziam parte de seu dia a dia e foi morar com a namorada para não assustar seus pais. Dois meses de cicatrização e com o dreno após a retirada dos seios. Seis meses após tomar os hormônios masculinos, os pelos começaram a crescer, antes o que era uma tortura agora era benção. Se livrara da depilação.

Pelos no rosto e peito, agora cicatrizados, nas pernas e quadris. A cintura engrossara e o corpo tomava cada vez uma forma masculina. O cabelo fora cortado mas curto e graças a lei, pode mudar o nome na identidade. Agora Tiago trabalhava com modelo transsexual, apesar da estatura baixa pôde malhar com liberação médica após dois anos desde o início do tratamento.

O trabalho não deixava de ser uma bandeira a se levantar e ajudar aqueles que ainda sofriam o preconceito por gostarem do mesmo sexo. O próximo passo era...

— Eu não concordo com isso. Você está ótimo assim, mas a cirurgia será demais. - a companheira não queria que ele tivesse um membro cirurgicamente.

A cirurgia consistia em alongar o clitóris e restaurar a uretra para a ponta do pênis. Doloroso e dispendioso como já soubera.

— Mas quero tanto te sentir - dizia Tiago, ao tocar a parte sensível de sua companheira. Que já revirava os olhos.

— Já sente e também já te sinto. Fora que em alguns casos o instrumento não sobe. Melhor deixar como está. Por fora Tiago, mas no sexo Thainá.

Ele assentiu e voltou às carícias a namorada, agora esposa. Mudou por não se sentir bem em seu corpo, mudou ao não se reconhecer nele. Sempre temos algo ao reclamar de nós mesmos, um defeito que desejamos mudar pela cirurgia mais Thainá nunca fora pessoa em sua forma de antes. Sentia- se bem e pleno agora.

Quem não o conhecia, nunca imaginaria que um dia fora mulher. Como sua mãe dizia.

— Nascera mulher, crescera mulher mas se transformou em um belo homem! Tenho orgulho de você, amor!

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora