One shot de Caren para Igor
Observar o fenômeno das cerejeiras beijarem o rio é uma experiência única. Não é a toa que existe um festival para contemplar a perfeita visão.
Em Washington DC, elas foram um presente do Japão e, plantadas à margem do Tidal Basil, embelezam monumentos como o Jefferson Memorial, o Franklin Delano Roosevelt Memorial e o memorial de Marthin Luther King.
Eu estava decidido de que precisava tirar férias, pois a empresa andava me consumindo bastante ultimamente. Foram diversas noites sem dormir, preocupado com o salário dos funcionários, se a responsável pelo financeiro pagou os fornecedores, enfim...
Dr. Erick Fonseca, cardiologista da família, me recomendou dar um tempo do trabalho. Ou seja, férias!
Nos dois primeiros dias, foi difícil, quase impossível; cheguei até a ir ao psicólogo. Ele disse que deveria viajar para esquecer os problemas e me divertir.
E cá estou!
Andei pesquisando em vários sites lugares que fossem inesquecíveis. Acabei encontrando a praia de Boa Viagem, Fortaleza, Ceará. Ao olhar as fotos, vi que seria mágico contemplar águas tão límpidas quanto elas. Mas o ataque constante de tubarões deixou-me com um pé atrás.
Meu amigo Caio Mitsuko, disse-me que seria uma boa conhecer um pouco mais da cultura japonesa e, quem sabe, arranjar alguma gata que pudesse animar ainda mais minha estadia nos EUA.
Resolvi que era para lá mesmo que iria. Comprei passagem para o dia 19 de março, já que o National Cherry Blossoms Festival começaria no dia 20 de março e terminaria em 16 de abril.
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Dei graças aos céus quando cheguei ao hotel. Já eram por volta das 20h30 da noite no horário local. E eu estava só o caco, pois não conseguira dormir na noite anterior e a confusão antes da decolagem me deixou estressado. Um senhora ficou batendo boca com uma moça porque ela estava sentada em seu lugar, alegando que havia pago para sentar ali. E, depois de muita demora e discussão, ela ocupou o assento que era seu.
Na manhã seguinte, fui passear pelas margens do Tidal Basil. As folhas das cerejeiras ainda não havia começado a cair, mas muitas pessoas faziam o mesmo trajeto que eu e aguardavam ansiosamente pelo fenômeno. Porém, uma delas me chamou a atenção.
Uma mulher bem curvilínea, com os cabelos cacheados negros soltos ao vento e um sorriso inebriante no rosto. Não sei explicar, mas suas feições pareciam tão puras e singelas que me dava vontade de abraçá-la e não soltá-la nunca mais.
Entretanto, balancei a cabeça, afastando esse pensamento bobo. Era só o que faltava: apaixonar-me por uma pessoas à primeira vista. O que necessito agora é relaxar e, quanto mais rápido isto acontecer, logo poderei voltar a ativa.
Como já eram 10h da manhã, resolvi parar para comer alguma coisa. Haviam tendas espalhadas ao longo do curso do rio e todas era de cultura japonesa. Tinham até mulheres com traços asiáticos vestidas à caráter.
Optei por bolinhos primavera, meu prato preferido da cultura oriental.
Enquanto acomodava-se num banco, avistei a mulher mexendo no celular. Ela parecia tão distraída, mas mesmo assim estava linda.
Logo um cara aproximou-se dela, me fazendo desviar o olhar. Era óbvio que uma moça tão linda quanto ela não estaria sozinha numa viagem dessas.
Virei o rosto e voltei a comer. Vim para Washington com o objetivo de relaxar e não preocupar-me com alguma mulher.
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25 de março
Já haviam se passado cinco dias e, desde então, não vi mais aquela bela moça que me encheu os olhos. Talvez ela tenha sido apenas uma miragem; como um Oasis no meio do deserto.
Hoje é o dia da cerimônia de abertura no Warner Theatre. O bom era que terminaria cedo, às 18:30, e assim, poderia dar uma volta pela cidade e distrair-me.
Caio alertou-me para comprar o ingresso antes do show, pois tinha risco de haver uma fila imensa de quem não conseguiu adquirir as entradas para esperar por lugares vagos.
Optei por vestir um suéter e calça jeans, pois vi no noticiário que corria risco da temperatura cair durante à noite.
Assim que entrei no teatro, logo me acomodei em meu lugar e, quando olho para o lado, vejo a mulher que admirei no parque. Chegava a ser inacreditável vê-la ainda mais linda e poder sentir o cheiro adocicado de seu perfume.
– Olá, você sabe dizer se ainda vai demorar muito para começar?
Deus, isto só pode ser uma aprovação. O sotaque latino era tão evidente em sua voz. Apesar de falar inglês muito bem, o toque mexicano em suas palavras deixara-me alucinado.
– Não sei. É a primeira vez que venho aqui. – Sorri. – És mexicana?
– Si! – Sorriu largo. – Estoy acompanhando meu irmão. Ganhamos uma promoção num supermercado, e cá estamos.
Ah, então aquele cara que sentou ao lado dela no Tidal Basil era seu irmão.
– Que bueno! Já eu sou brasileiro e me llamo Roberto.
– Mi nombre és Maria Helena. Prazer. – Estendeu-me a mão, a qual não hesitei em plantar um beijo no dorso.
Logo as bochechas dela coraram. Era estranho como tudo nela parecia perfeito.
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Todos acham que o destino só conspira contra nós. Ou boa parte das pessoas acreditam nisso. Creio que comigo ele fora bastante generoso.
Eu e Maria Helena marcamos de nos encontrar todos os dias durante quase um mês em que estive no solo estadosunidense. E foram as melhores férias que poderia ter.
Passeamos por toda capital americana, marcando como território da nossa paixão. Não vou dizer que é amor, pois tudo ainda é muito recente. Mas fora incrível a experiência!
Por morarmos em países diferentes, ficou difícil nos vermos, porém, às vezes, quando conseguíamos conciliar nossas agendas, ficávamos o final de semana inteiro juntos, no lugar onde nos conhecemos: no Tidal Basil, próximo às cerejeiras.
Creio que não fora o destino quem nos uniu, mas sim o Cherry Blossoms Festival.
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Amigo Oculto Literário
Short StorySorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.