Uma Excursão Horriplante

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One shot de Wania para Felipe

Eu seguia meus amigos a contragosto. A minha ideia de diversão definitivamente não incluía visitar um lugar abandonado, cuja entrada era proibida porque a permanência oferecia riscos à saúde. Sim, eu sei que você deve estar me achando uma chata — igual ao Eduardo e a Olívia, meus dois companheiros de viagem desmiolados —, mas acredite, não é chatice, é prudência.

Meus amigos me zoavam, dizendo que eu não me arriscava, não vivia a vida e mais um mar infindável de críticas desse tipo, mas eu não ligava. Minha reticência normalmente me livrava de problemas, enquanto aqueles dois viviam se metendo em confusões. Isso pode parecer legal, mas não é, a menos que você seja um personagem de um filme da Sessão da Tarde.

Normalmente eu não seguia as ideias idiotas daqueles dois, mas nós estávamos em um país estrangeiro, a milhares de quilômetros de casa e não seria inteligente me separar dos meus companheiros. Analisei a situação friamente e concluí que era melhor seguir aqueles idiotas na excursão para Chernnobyl. Eu não falava inglês muito bem — a Olívia é quem era a intérprete do grupo —, muito menos o idioma local, e não queria fica para trás naquela terra estranha. O jeito foi acompanhar os dois cabeças-de-vento e, para variar, garantir a nossa segurança.

O combinado era ir até a zona limite de segurança — para mim, nada ali era seguro, a todo instante eu achava que um de nós ia ganhar um novo conjunto de olhos, igual aquele peixe no filme dos Simpsons —, mas os meus amigos brilhantes queriam a todo custo visitar as instalações abandonadas e agora estamos entrando no prédio onde antes funcionava a usina.

Era um dia frio, mas parecia que a temperatura tinha caído muitos graus dentro daquele lugar e eu senti um calafrio percorrer a minha espinha. Inconscientemente, apertei ainda mais o meu casaco rosa chock vibrante e amaldiçoei os meus amigos por terem ido àquele lugar. Nós parecíamos aqueles jovens estúpidos que Dean e Sam sempre precisavam salvar nos episódios de Supernatural.
Entramos em uma sala totalmente devastada. As mesas e cadeiras de ferro estavam reviradas e corroídas pela ferrugem, um cheiro de urina de animal impregnava o ambiente e eu me arrepiei — não queria nem imaginar que tipo de bicho habitava aquele lugar horripilante.

Meus amigos estava ocupados, registando a aventura no celular, afinal do que valia aquilo se ele não pudessem postar nas redes sociais? 

Eu tinha permanecido estrategicamente perto da saída enquanto os dois adentravam cada vez mais no cômodo pouco iluminado. O sol já estava se pondo e cada minuto naquele lugar fazia aquela aventura ficar mais estupidamente perigosa.

— Tá bom, vamos voltar — chamei, mesmo sabendo que eles não em dariam bola.

— Aff, Marina, deixa de ser chata e vem explorar com a gente! — Olívia chamou, com sua voz anasalada.

— A gente já explorou até demais. Nós devíamos ter ficado na zona de segurança e já ultrapassamos demais.

— Queria completar que nem devíamos ter vindo para aquela merda de lugar, mas eles iam me zoar ainda mais.

— Larga de ser medrosa, ga... — Eduardo ia caçoar de mim, mas parou de repente? — Que barulho é esse?

Revirei os olhos, achando que ele queria me trollar, mas, prestando atenção, comecei a ouvir também. Era um som baixo e melodioso, parecia uma música daquelas que tocavam em caixinhas. Ficamos quietos tentando identificar de onde vinha o barulho e percebemos que um novo som se juntava à música. Era uma batida repetida e que ficava cada vez mais próxima.

Nós olhávamos fixamente para a parte mais escura do recinto eu pude jurar que vi algo se mexer. Aos poucos, nossos olhos foram distinguindo uma pequena sombra que ficava cada vez mais nítida. Olívia soltou um grito quando a coisa ganhar forma e Eduardo a acompanhou — depois a medrosa sou eu!

Lentamente, uma pequena boneca se aproximava da gente. Agora podíamos ouvir claramente o som do seu mecanismo de corda e a música que ela tocava ao andar.

Olívia e Eduardo começaram a rir, achando graça da brincadeira, mas eu não me aquietei. Não era a boneca que me preocupava, mas sim quem tinha acionado ela. Nós não estávamos sozinhos num lugar deserto, perto do anoitecer e aquilo era, no mínimo, preocupante.

— Vamos embora, agora!
Meus amigos se viraram para retrucar, mas foram interrompidos por uma voz doce e melodiosa.

— Não, fiquem para brincar comigo!

— Quem disse isso? — Eduardo perguntou e todos nós olhamos para a boneca.

Ela continuava se aproximando com seus passinhos curtos, mas de repente parou. Pensei que a corda tinha acabado e respirei aliviada — aquele brinquedo sinistro estava me assustando. Mas todo meu pavor voltou quando a boneca piscou — sim, ela piscou! — e sua boca minúscula se abriu em um sorriso humano.

— Isso, fiquem para brincar comigo!

— Agora a voz dela era forte, vibrante, gutural e não havia nada de angelical nela.

Estarrecidos, vimos seus olhos ficarem vermelhos e brilharem na penumbra do ambiente. Aquela situação beirava ao bizarro e quando eu achava que não tinha como piorar o projeto de boneca da Xuxa, começou a correr em nossa direção. Seus passos eram rápidos e cada vez mais aquele ser sinistro se aproximava de onde nós estávamos, enquanto a gente não conseguia de mover.

Meu cérebro gritava para minhas pernas correrem, mas elas não obedeciam. Meus pés pareciam colados ao chão e meu coração batia descompassado, enquanto aquele brinquedo maldito se aproximava. Agora eu sabia como Sid tinha se sentido ao ver Woody girando a cabeça em um ângulo de 360 graus e mandando ele brinca direito!
Buscando o fiozinho de coragem que sabia existir em mim, conseguia me lançar para frente e puxar os meus amigos pelas mochilas.

— Vamos dar o fora daqui!

Eles me obedeceram e nós saímos numa corrida desenfreada. O peito queimava, as pernas reclamavam, mas a gente não parava de correr. Acho que fizemos o trecho que levava a zona de segurança em dez minutos — quando na ida, gastámos mais de meia hora.

— O que diabos foi aquilo? — Olívia perguntou, quando chegamos à civilização.

— Não faço a mínima ideia, mas quero voltar para o hotel e encher a cara de vodka! — Eduardo falou categórico.

Olívia e eu concordamos prontamente. Finalmente, uma boa ideia!

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