Imaginação Involuntária

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De Mary para Pippa

"A alucinação é a imaginação involuntária de um delírio feliz ao macabre."

Enfio-me por baixo da minha cama com o intuito de chegar até o chão brilhante nas cores rosa e azul, mas não é algo que exagerado, mas que me deixa curiosa ao ponto de querer saber o que é. Quando finalmente chego lá sinto meu corpo cair em um buraco que não parece ter fim. Mesmo com vontade de gritar, eu dou risada. A sensação não me é estranha, parece às quedas que a vida me faz ter, porém com um frio bom na barriga.

Quando começo a ficar enjoada, sinto algo se chocar contra meu corpo. É macio e tem cheiro um cheiro doce, quando me sento vejo que estou em algo da cor amarelo-bebê, me fazendo lembrar de algodão doce. Desde pequena esse foi meu doce preferido e por isso é quase impossível eu não começar a enfiar o "chão" sob mim na minha boca. O pequeno pedaço se dissolve em poucos segundos e minha boca fica adoçada; é uma sensação maravilhosa de nostalgia.

Sem pensar duas vezes continuo comendo e comendo sem parar, até eu colocar um pedaço em minha boca que a deixa totalmente amarga. Cuspo imediatamente sem entender como algo tão doce pode ficar tão amargo como jiló e eu sempre detestei jiló, involuntariamente minha mente me faz lembrar do meu pai.

Lembro-me de como ele me fazia comer todos os vegetais com a chantagem de não ter sobremesa, caso eu não comece tudo. Mas depois que morreu, quando eu tinha uns 8 anos, eu me recusava a comer vegetais e chorava muito com saudades dele.

- Coma. Não é tão ruim. - Ouço a voz doce e ao mesmo tempo grossa dele ecoar pelo local.

Levanto meus olhos para ver se o encontro, mas tudo que vejo são plantações infinitas de cenoura, milho, alface, batata, beterraba e chuchu. Crispo a testa tentando entender como os algodões doces sumiram, mas mesmo assim me levanto. O chão já não é feito com aquelas nuvenzinhas amarelada doce, mas de terra. Antes que eu possa começar a caminhar uma buzina fraca é tocada por trás de mim, me viro assustada e tudo que encontro é uma menininha em uma bicicleta rosa, ela tem os cabelos negros que me lembrar dos meus antes de pintar em tom azulado. Seu rosto está vermelho e lágrimas escorrem pela sua bochecha redonda.

- Eu preciso passar. - Ela diz soluçando e eu, sem dizer nada, dou espaço.

A menina passa com sua bicicleta rosa brilhante e desaparece entre as plantações. Começo a andar sentindo minha barriga doer de fome, mas não posso comer esses vegetais, não como mais isso desde que ele morreu. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu acabo por chutar uma pedra, frustrada.

- Ei menina. - Ouço uma voz feminina familiar me chamar e levanto a cabeça para meu lado direito, de onde vinha à voz. O ser tem cabelos verdes, orelhas pontuadas e olhos redondos e grandes. Apesar de alguns traços exóticos, me lembra muito a minha mãe. - Foi sua culpa. - Diz com desdém.

- Minha culpa? – Pergunto sentindo a dor no meu peito crescer.

- É. Sua culpa que seu pai morreu. - Uma voz parecida diz a esquerda.

Parece ser o mesmo ser. Têm os mesmos traços e cores, ele parece se multiplicar e quando dou por mim são milhares dizendo a mesma coisa: foi sua culpa. Meu coração intensifica a dor e sinto as lágrimas descerem.

Eles têm razão, foi minha culpa, eu só queria algodão doce para o jantar e o fiz buscar, isso ocasionou o acidente fatal no qual ele morreu. Eu sei que é minha culpa, mas dói ouvir isso.

Começo a gritar para eles pararem, mas isso não acontece. Inclino minha cabeça para frente e tampo meus ouvidos com as mãos, fechos os olhos com força e repito baixo o que eu gritava a pouco "vão embora, vão embora".

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora