O Último Anjo

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ONE SHOT – HÍBRIDOS: ANJO E VAMPIRO

One shot de Gabriel para Brena.

“ ‘Todos eles. Aqueles que traíram o paraíso e almejaram as trevas. Caídos. Como castigo, foram largados na Terra com o único propósito de sofrer pela eternidade, longe das trevas e da luz, solitários e perdidos. Mas o mal é traiçoeiro, foi capaz de corromper os perdidos, torná-los assassinos. Então, sedentos por sangue, aqueles que um dia protegiam e propagavam a luz, acabaram por tirar vidas e parasitar a humanidade.

 Afrontando o mal, a luz respondeu enviando anjos guardiões em seu mundo protegido, o que eram os corrompidos anteriormente. Uma guerra santa foi travada entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal. Ambos se anularam, e como diziam as profecias, apenas um sobrou, bom e mau, um ser bipolar e movido por ambos os lados. Seu destino seria sofrer pelas vontades contrárias de seu eu e este morreria sozinho, assim, acabando com a violência e trazendo paz à Terra novamente.’

 Pelotas, RS. Dezenove de junho de 2017.

 O gosto era bom, descia quente e o sabor do ferro atiçava os pelos da minha pele clara. Ali, naquele beco, sentia que poderia provar do sangue de cada pessoa desse planeta. O corpo da vítima, apenas mais uma, caiu aos meus pés tão sem cor quanto ele, descalços na noite fria que fazia. A mulher que assassinei era bonita, foi o que me chamara à atenção, posso dizer que valeu a pena.

 Minhas asas se abriram decorando o beco com um lindo conjunto de penas negras, como um corvo. Respirei o ar gélido da noite, nem ele esfriaria meu organismo saciado pelo sangue da mulher. Por um momento me perguntei por que fazia aquilo. Olhando a fêmea em minha frente, me senti envergonhado e o medo tomou conta do meu corpo. Minhas asas estremeceram, minhas pernas fraquejaram e num impulso me lancei aos céus.

 Meu corpo não sentia, mas meus cabelos sofriam no vento forte. Subi a uma altura em que ninguém me enxergava, o que era difícil, embora meu cabelo e asas negras, minha pele era pálida e brilhava com a luz do luar.

 Sempre senti vergonha do que fazia, porém daquela vez era algo maior, era uma colisão dentro de mim, e estava prestes a explodir. Sem controle comecei a voar sobre a cidade, meu corpo girava, lutando contra ele mesmo. Eu gritava, mas era inútil àquela altura. Senti meu corpo mudar, sentia meus membros diminuírem, minhas penas virarem couro, mas em questão de segundos tudo voltava ao normal. Durante um tempo, não sei quanto, fiquei assim, lutando contra mim mesmo, contorcendo-me, transformando-me, sofrendo.

 Em um momento da luta fiquei sem forças, minhas asas sumiram e eu comecei a despencar. Esforçando-me para permanecer acordado, vi as luzes da cidade se aproximarem aos poucos, alguns prédios apareceram no meu campo de visão, o chão surgiu rápido e antes de tocar o solo algo me veio em mente...

 Era a batalha final, o campo se estendia em nossa frente, assim como a escuridão. Com a chuva, enxergavam-se apenas poucos metros à frente, e então as criaturas começaram a surgir, curiosamente igual a nós, porém com asas escuras e pele pálida. Fomos enviados à Terra com o intuito de destruí-las, mas sabíamos que a morte nos aguardava, e a um de nós, apenas um, era reservado algo pior que a morte. Houve um grande choque entre as forças, corpos caíam apenas ao toque, as forças contrárias, ambas fortíssimas, anulavam-se de maneira impactante.

 Após horas de conflito, me vi em pé no meio de milhares de mortos, guardiões e caídos, todos compartilhavam da grama molhada pela água da chuva e pelo sangue da batalha. Por um momento fiquei sem entender, então ouvi um grito, alguém estava vivo. Segui o som e me deparei com um dos anjos negros definhando no solo. Era meu dever, mas não consegui matar a criatura que não teria como reagir, era contra meus ideais.

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