Uma esperança

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One shot de Bia para Laís.

Aquele grupo era peculiar, para dizer o mínimo. Nove adolescentes, aparentando ter de dez a dezoito anos. A diferença nas idades não era algo a ser considerado, se repara em seus trajes sujos e a magreza de seus corpos.

Em uma casa caindo literalmente aos pedaços, no teto havia um buraco, janelas não existia e moveis... Bom, se contar uma cadeira velha e o sofá em seu esqueleto, não havia moveis decentes por assim dizer. O fogão não funcionava por falta de gás e comida a ser preparada, a água da torneira era turva da cor do cano antigo. Sem delongas, não havia condições de vida ali, mas aquele era um grupo peculiar.

Eles conseguiam sorrir, havia amizade ali. A proteção dispensada ao mais novo era algo de se admirar e o líder deixava claro que ninguém ficaria para trás. Casa vazias eram o seu objetivo para se banharem e comerem. Aqui entrava seus poderes.

Sim, cada um tinha um poder diferente, adquiridos por conta de experimentos feitos em hospitais próprios que mudavam sua genética e os transformavam em aberrações, como costumavam dizer. Mas esses poderes eram uteis em momentos com esse. Atravessar paredes era tudo o que precisavam para se banhar e se alimentar.

Tudo começou quando estavam nos orfanatos e esses, super lotados eram um problemas para o governo. Então eles tiveram a ideia de usar os órfãos em experimentos genéticos, já que não havia famílias para reclamar. O problema era que os governantes não perguntaram às crianças se elas queriam participar desse processo. Assim, iam sumindo, deixando seus colegas curiosos. E os que sumiam sofriam uma lavagem cerebral ao entrar no hospital, sendo identificados apenas por números, que se referiam a sua chegada e ao seu experimento.

Uma coisa que o grupo não sabia era que havia uma esperança, a sorte deles mudaria.

Malu acordou com esse pressentimento, não sabia porquê, mas uma voz lhe falou a noite inteira, fazendo-a sonhar com um futuro melhor. Deitada na cama improvisada ao lado de Sara, abriu os olhos e sorriu. Difícil acordar daquele jeito, desde que Zeca a tirou do hospital. De repente, lembrou-se do que a voz lhe disse.

—Sara, rápido! Temos que correr...

—Não Malu, me deixe dormir. - a menina virou de costas, mas Malu se levantou.

Passou a mão na cabeça raspada e viu que os outros estavam dormindo, menos Zeca que estava de vigia.

— Zeca. Temos que ir – falou urgente demonstrando a situação.

—Para onde, Malu? - assim ela contou o que a voz bonita e feminina lhe contou enquanto dormia.

— Isso é loucura! - ele pensou. Convencê-lo era fácil por ser o seu amigo desde a época do orfanato, mas os outros.

—Nunca – disse Tonho - Não vamos nos arriscar assim. Foi um sonho Malu. Apenas isso...

—Não foi sonho. Eu ouvi.

—Esse é o problema. Só você ouviu – falou Iolanda se materializando em meio ao grupo.

—Então eu vou, não posso deixar a moça esperando.

— Sem chance, você não vai sozinha – esbravejou Zeca, fazendo o grupo parar de discutir. Quando necessário, era um ótimo líder.

Não havia com negar. Era um plano absurdo mas que se desse certo, sairiam ganhando. Um calor começou a aquecer o coração de todos. Enfim, concordaram em fazer o que Malu propôs, apesar do medo. Quando a noite caiu, saíram da casa velha esperando não voltar mais e com medo de nunca mais vê-la. A indecisão não os parava. Tavinho foi nas costas de Tião, com Iolanda ao lado, caso fosse necessário ficar invisível. Sara ia na frente com Zeca, apesar de trabalhoso, poderiam entrar em alguma casa para se esconder.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora