De Evanio para Karina
Era lua-cheia quando a criatura nefasta foi encurralada para enfrentar sua morte no fio da espada do cavaleiro. Suas mãos apressadas corriam pela parede de pedra, numa tentativa falha de escapar do perigo, seus pés atrapalhavam-se no chão de madeira. O temível cavaleiro levantou sua espada no ar, demostrando estar pronto para desferir o golpe final no monstro que tremia, apavorado, no canto da sala iluminada por tochas.
Todavia, num momento oportuno, o chão do cômodo abriu-se, derrubando todos os soldados em um local desconhecido. A criatura então transformou-se em um homem simples e agradeceu à todas as divindades que conseguiu lembrar o nome e resolveu abandonar os hábitos sanguinários; viver como um aldeão.
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Alguns dias depois, a criatura estava tentada a assassinar. Sua sede de sangue era voraz e sua vontade fraca demais para combater, nem mesmo o medo da recompensa por sua cabeça era capaz de impedir seus instintos.
Era impossível mudar uma característica tão intrínseca em alguém; no fim, ele ainda era um monstro violento.
Era uma noite fria quando o monstro vil vagava pelas ruas sombrias de uma vila do reino quando sentiu seu estômago revirar de fome. Sentou-se na porta de uma das casas e se encolheu para aquecer-se, porém foi interrompido por uma voz doce que o chamava de dentro da residência qual estava sentado próximo da porta. Era uma mulher charmosa e simpática, que sorria de maneira verdadeira para aquela pobre criatura vagante. A moça convidou aquele ser desconhecido para entrar em sua casa e comer de sua comida, abrigou-o e o confiou um quarto para dormir em segurança. O monstro sentiu-se inferior, estava muito sujo para andar naquela casa tão bem arrumada; mas a mulher riu e disse que não havia problema algum, estava feliz em ajudar um bom homem. Imprudente presumir que uma pessoa recém conhecida é boa de coração, pensou a criatura.
Aquela mulher colocou um guisado recém preparado em cima da mesa e o convidou para sentar com ela e aproveitar a comida.
Com um sorriso no rosto, ele aceitou e gentilmente sentou numa cadeira. Apesar da comida estar gostosa, seus olhos vacilavam na carne daquela humana. Seu corpo implorava por um fim no jejum, era necessário caçar mais. Estava agitado, então resolveu deitar-se mais cedo.
Conforme a noite passava, mais inquieto o ser vil tornava-se. Soava frio, as mãos tremiam e começou a titubear pelo quarto. Fechou os olhos para não sucumbir mais uma vez à sua forma verdadeira, contudo foi em vão. A transformação era dolorosa, gritos foram ouvidos por toda a rua; os gritos rapidamente tornaram-se rugidos, suas mãos viraram patas com garras afiadas e seu corpo estava coberto em pelos.
A mulher inocente abriu a porta e deu de cara com aquele monstro ignóbil em sua verdadeira forma, sua morte era inevitável. As garras da besta atravessaram a garganta daquele humano enquanto ainda gritava, o ser inferior viu aquela vida inocente esvair dos olhos da mulher caída no chão ensanguentado, a tentação prevaleceu o medo e rapidamente o monstro alimentava-se; sentia cada pedaço de carne humana descer por sua garganta, preencher seu estômago e saciar seu corpo.
Não importava o quão forte ele tentasse, ainda era um monstro, não era possível escapar do fato de ser um assassino.
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Amigo Oculto Literário
Short StorySorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.