Híbridos

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One de Fabio para Meg.

Eu corria sem olhar para trás, tão enlouquecidamente que tropeçava em meu próprio medo. Não havia um só lugar na minha mente onde pudesse cavar um pouco de coragem para lutar contra aquilo, minha única alternativa estava em conseguir despistá-lo. Se um dia eu duvidei da minha sanidade, não sabia que um dia eu daria tudo para não estar nesta realidade. Minhas roupas encharcadas de lama já não me incomodavam, perdi meus sapatos logo no início da fuga e a dor em meus pés aumentava conforme eu pisava nas pedras do caminho. Eu não podia vacilar agora, sentia como se meus esforços fossem todos em vão, nada do que fazia poderia me livrar das garras daquela besta, quanto mais longe ia, mais sentia sua presença. Como obra do destino ou pela minha total e completa falta de sorte cheguei a um beco sem saída. No final apenas um muro alto impossibilitava o meu avanço. Tentei voltar, mas eu já ouvia sua risada maníaca e doentia aproximando-se, suas unhas riscavam a parede emitindo um ruído de morte. Olhei para o meu perseguidor e com minhas últimas forças preparei-me para confrontá-lo, porém antes mesmo do primeiro passo uma luz fortíssima surgiu entre nós, senti um calor intenso tomar conta de mim, podia sentir uma espécie de poder crescendo em cada polegada do meu corpo e uma sensação de expansão repentina fazia-me sentir muito mais alta do que realmente sou. Quando finalmente nos chocamos...

Acordei transpirando novamente, olhei para o despertador e percebi que ainda eram três da madrugada. Desde que comecei a ter esse mesmo pesadelo minhas noites tornaram-se mais curtas e a falta de sono já começara a cobrar o seu preço. Olhei em volta como se precisasse ter certeza de que estava no meu velho e confortável quarto. Por algum motivo idiota eu passava as horas restantes pensando no por que da minha vida ser tão caótica, eu sempre tive tudo o que poderia ter.

Algumas horas depois o aroma do café recém passado invadia minhas divagações e me lembrava que eu precisava voltar do meu transe.

Levantei-me e desci as escadas só para encontrar a minha mãe antes que partisse. Enquanto pegava o leite na geladeira a cumprimentei com um carinho no ombro - Bom dia mãe!

- Ainda com pesadelos, Margareth? - Minha mãe servia um prato com o café da manhã enquanto fazia aquela cara dela de preocupada.

Embora eu ainda estivesse de pijama, minha mãe já estava totalmente arrumada para o seu trabalho, diferente de mim ela era uma mulher alta e bonita, seus lindos cachos loiros que viviam amarrados não diminuíam sua elegância.

- Meg! Mãe, eu prefiro que me chame de Meg.

- Está bom, Meg! Coma logo ou irá se atrasar para a escola - Ela me deu um beijo na testa e armada com as chaves do carro saiu pela porta dos fundos.

Eu não precisava pegar carona ou esperar o ônibus escolar, eu tinha o luxo de morar bem próximo à escola.

Não muito tempo depois enquanto caminhava a passos lentos e sem vontade observava como outras pessoas sempre eram sorridentes e felizes, lá no fundo eu queria roubar um pouco dessa alegria e injetar no meu coração para ver se ele pegava no tranco.

Hoje eu peguei as roupas de costume, quase um uniforme para esses dias frios. Minha melhor amiga, Sofia, sempre implicou com meu moletom xadrez, mas eu tenho uma paixão secreta por vestes estranhas. Sempre tive.

Muita gente tinha orgulho em estudar no mais renomado colégio de toda a cidade, com sua imponente arquitetura ao estilo clássico dava uma sensação de que estudávamos em Hogwarts, só faltavam as varinhas e os cachecóis listrados.

Seguindo minhas expectativas passei incólume pelo corredor e logo cheguei à sala de aula. Quanto mais pessoas ao meu redor mais desconfortável eu me sentia. Como ainda não tinha dado o horário eu era a única no local. Sentei-me numa cadeira qualquer só para revisar as lições da aula anterior.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora