Reino de Terabítia

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De Pippa para Felipe

Depois que a Leslie, minha melhor amiga, morreu tragicamente daquele jeito. Eu me revoltei, cheguei a bater na minha irmãzinha May Belle, me sentia culpado por aquilo tudo, principalmente porque o Sr. Edmunds me levou para passear no dia que aconteceu a fatalidade, se eu tivesse convidado a Leslie para ir conosco, ela estaria viva comigo. Corri até a casa do meu professor de música, por quem eu era apaixonado, por isso quis ir sozinho para a exposição de arte, mas eu estava furioso, eu queria esmurrar alguém.
— Jess? Eu soube da Leslie... — Ele disse com pesar na voz me olhando com aqueles olhos azuis, que me hipnotizavam.
Elijah Edmunds era um músico maravilhoso, um professor excelente; fiquei surpreso com sua ligação me chamando para um passeio, ele elogiou meus desenhos, aquilo me deixou muito feliz. Mas naquele momento eu sentia vontade de socar a cara dele.
— Eu sinto muito, Jess. — disse e tentei bater nele, que se defendeu e segurou meus braços.
— Se tivéssemos convidado ela, ela estaria viva ainda.
— Ei, garoto, eu não sabia que você queria convidá-la, eu sei que está sofrendo, mas eu não tive culpa, ninguém teve. Foi uma fatalidade, Jess.
Eu me deixei cair no chão em lágrimas, não aguentaria viver sem a Leslie. Elijah se mostrou muito compreensivo. Ajoelhou-se no chão e me abraçou.
— Desabafa, Jess. Saiba que foi uma fatalidade, nenhum de nós poderíamos ter feito nada. — Ele disse enquanto eu soluçava lembrando da minha amiga e sentindo enorme saudade dela.
Elijah conversou comigo e depois ficou em silêncio, apenas abraçado a mim, ouvindo meus soluços e me deixando chorar tudo o que eu precisava.
Eu perdi completamente a noção do tempo, ele deu um beijo na minha cabeça e falou suavemente:
— Está bem tarde, Jess. Seus pais devem estar preocupados. — disse ainda acariciando meu cabelo.
— Tudo bem, vou pra casa. — avisei e ele se prontificou a me levar.
Ele me deixou em casa e foi embora. Meu pai me olhou com cara de pena, eu apenas fui para meu quarto.
No dia seguinte, eu construí uma ponte para Terabítia para que May Belle pudesse atravessar sem correr riscos de cair na água.
Fomos pra lá um pouco, mas passei a não ver mais os seres mágicos. Me despedi da Leslie de vez. Atravessei a ponte e não voltei mais lá.
— Jess, vamos para Terabítia hoje? — May Belle pediu sorridente e empolgada.
— Hoje não vai dar, May Belle, preciso estudar. Não vá sozinha, tenho medo que se machuque.
— Tudo bem... — ela concordou triste e deixou o meu quarto, fiquei um pouco triste com aquilo, mas logo mudei os pensamentos.
May Belle foi algumas vezes sozinha, depois parou de ir também, acho que a graça daquele lugar é a companhia, alguém para pensar junto, para sonhar junto.
O tempo foi passando e Terabítia foi ficando cada vez mais distante pra mim. Leslie passou a ficar na minha mente como um rabisco que eu fiz. Eu me envolvi com várias coisas para esquecer dela, várias pessoas, mas seus traços continuavam na minha mente.

No meu aniversário de 16 anos, meus amigos, é eu fiz amigos, foram todos pra minha casa, meus pais, que agora estavam um pouco melhor financeiramente fizeram uma pequena festa. Tirei carteira de motorista, ganhei alguns presentes, mas o melhor presente mesmo foi o do Elijah, aconteceu depois que todos haviam ido embora, o meu professor todo lindo me deu um beijo na boca. Eu sabia que ele era gay, pois já havia me falado isso, mas aquele beijo foi surpresa demais para um dia só.
— Por que fez isso? — perguntei idiotamente. Ele não respondeu, apenas sorriu e acariciou meu rosto. Notei que estava com a respiração presa desde que perguntei, soltei somente depois que ele, sem dizer nada, se dirigiu a seu carro e saiu me deixando paralisado e mudo.
Eu corri atrás do carro, mas estava escuro e um pouco chuvoso, Elijah não me viu e parei quando ele pegou uma via asfaltada, ofegando voltei pra casa.
Depois daquele dia nossa relação ficou diferente, passei uns três dias evitando o professor, até que decidi esperá-lo na saída de uma aula particular e chamei para tomar um café.
— Fiquei surpreso, Jess. Achei que estivesse me evitando.
— E estava, mas decidi conversar sobre o que fez aquela noite.
— Vamos à minha casa, eu preciso enviar uns e-mails, tomamos um chocolate e conversamos, tudo bem?
— Claro. — Ele sugeriu e entrei no carro dele depois de ajudá-lo a guardar uns instrumentos.
Quando chegamos a casa dele retiramos os instrumentos do carro e ele foi até o computador e acho que enviou o tal e-mail, pois passou uns cinco minutos lá e veio até mim.
— Vou fazer o chocolate que prometi.
— Espera, eu não quero chocolate. Quero saber por que me beijou àquela noite? — perguntei sério demais.
— Porque não pude beijar antes, Jess. — Foi direto. — Você era uma criança, eu não sentia nada por você, mas agora você é um homem é fácil se apaixonar e desejar você. — Eu fiquei mudo ao ouvir, engoli em seco, não sabia o que dizer, fiquei paralisado também.
Senti sua mão quente pegando na minha, eu não consegui respirar, senti que estava suando quase pingando na verdade. Elijah me beijou de novo. Mesmo tremendo eu o correspondi.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora