Mudança de humor

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De Taiane para Bia

Bipolar, eu?

Eu realmente queria saber quem inventou esse troço de acordar cedo. Também queria saber quem inventou essa história de que conversar nas primeiras horas do dia era sadio. Se eu encontrasse essa pessoa, juro que eu matava.

Não, brincadeira. Não seria capaz de fazer mal a ninguém. Por isso mesmo que tem, sei lá, meia hora que minha mãe não para de tagarelar e eu não mandei ela calar a boca. Dizem que é um simples mau-humor matinal. Mas a verdade é que não tenho a menor paciência para as lamúrias dela.

“E seu pai chegou ontem tarde, chegou caindo de bêbado”

Qual é a novidade nessa sentença? Nenhuma. Na verdade, adoro quando meu pai fica assim. É muito melhor, está relaxado, conta umas piadas sem sentido, dou risada da sua cara quando ele tropeça. De quebra, ele chateia minha mãe, e essa é a piada mais engraçada. Quer dizer, pensando bem, não é nada engraçado ouvir de manhã cedo minha mãe reclamando do meu pai. Aliás é horrível ouvir qualquer coisa de manhã cedo.

Meus amigos dizem que eu sou bipolar, mas na verdade eu sou bem realista e gosto da verdade nua e crua. Meu pai é um alcoólatra, minha mãe é uma chata. Fim da história.

“Você está ouvindo o que estou dizendo, Fernanda? ”

Balanço a cabeça confirmando, mas na verdade não estou não. Agora mesmo estou pensando no que meus amigos disseram. Meu humor oscila um pouquinho, juro que é só um pouquinho, e poucas coisas mudam o meu humor. O tempo é uma delas. Por exemplo, quando chove não tenho a menor vontade de sair de casa. Posso enumerar os motivos: Vento, chuva, pés molhados, tudo fica sem cor... Sério, só dá vontade de ficar em casa debaixo do lençol, isso é tão irritante! Dizem que é a tal depressão sazonal, mas pra mim é um nome bonito pra dizer que chuva é um saco. Nada melhor do que um dia ensolarado para você poder cumprir com todas as suas obrigações. Quer dizer, pensando bem, muito sol não é bom não. Aliás, odeio sair no sol: fico suada, nojenta, morrendo de vontade de voltar para casa e tomar um bom banho. Eca!

Pronto, é só isso mesmo.

Não, espera, tem outra coisa. E isso, todos vão concordar: pessoas ruins mudam o meu humor. Sabe, aquelas pessoas que querem se dar bem em tudo? Passa por cima das pessoas? Odeio! Quer dizer, pensando bem, pessoas boazinhas também me irritam. Nossa, porque deixam as pessoas ruins passarem por cima delas? Vai ver que no final, é culpa do bonzinho mesmo.

“Fernanda! Senta logo e toma o seu café, ou você vai se atrasar. ”

Ok, minha mãe me irrita. Não gosto de pensar muito nisso, e tento não me estressar, afinal sou uma pessoa muito, muito calma, mas minha mãe às vezes me tira do sério. Ela só fala, fala, fala, mas o som para mim parece aqueles chiados quando a TV não pega um canal direito.

Mesmo assim, eu a obedeço. Não faço ideia do porquê, mas todos os meus movimentos vão no automático. Sento na mesa, abro a garrafa térmica e despejo o café na xícara, inalando seu aroma forte. Um aroma dos deuses, que em frações de segundos te transporta para o céu.

Tudo agora fazia sentido em minha cabeça, todos os pensamentos e sentimentos sorriam enfileirados para mim, me dando um “Ok, agora você pode começar o seu dia!”. Era só isso que estava faltando! Agora nada mais poderia tirar meu bom humor: meus amigos reclamando de mim, a chuva, o sol, pessoas boas ou ruins. E então eu finalmente conseguia ouvir o que minha mãe dizia.... Ah, nossa!

Como é bom ser cuidada por ela logo pela manhã. Um pão quentinho, meu lanche guardado na marmita, o café forte que só ela sabe fazer. Eu tenho a melhor mãe do mundo!

− Bom dia, mãe. Obrigada, pelo café.

Minha mãe sorri para mim e logo sua conversa muda de foco. Viu? Eu sei ser grata e sou uma ótima filha.

Ora, meus amigos são loucos. Bipolar, eu? Imagina!

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora