Os Monstros Também Amam

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One de Bia para Fábio.

       -Há algo errado com ele mãe.

    -Não mexa com quem está quieto, menina! - foi a resposta que Taíse teve. Típica baiana arretada, era melhor a menina obedecer, senão levava palmadas.

    Voltando do mercado com a mãe, vira o novo vizinho chegando em casa. Taíse puxara a mãe, também era arretada, mas curiosa. Combinação que já a colocava em várias encrencas.

    Essa história de baiano ser descansado não era verdade na vida dela. Fazia faculdade de manhã e a tarde fazia curso de línguas. Aos 20 anos, construía sua vida com bastante trabalho e esforço, mas havia a curiosidade e quando essa era demais…

    Em uma pesquisa de campo com a turma de botânica, vira uma coisa irreal no chão verde. Era uma pegada, isso era certo, mas do tamanho de uma moto. Os amigos não ligaram para aquilo, ou não perceberam, o que era difícil, mas Taíse foi à pesquisa. Momento que a deixou frustrada. Nenhum livro relatava animais daquele tamanho e nos contos de fada era o pé grande. Tipico monstro de lugares frios. Logo impossível sobreviver ao calor da Bahia.

    Certa tarde, Taíse saiu do curso de inglês e o seguiu. Quando viu, já estava em sua rua e o acompanhava de longe, mas perto do olhar. Pôde ver que era forte e alto, de pele morena porém não pôde ver seu rosto; com o sol a pino, o rapaz usava casaco com capuz e calças compridas. Taíse parou em frente a sua casa e o viu entrar na dele, de cabeça baixa.

    Marieta trabalharia no hospital no turno da noite e a menina ficaria sozinha até o amanhecer. Entrou em casa foi para a grande janela lateral, e ficou la imitando as famosas bonecas namoradeiras. Queria ver algum movimento ou algo fora do comum, mas para seu desapontamento, a janela do vizinho ficou fechada o tempo todo, nenhuma luz fora sequer acessa. Nenhum movimento.

    Não se conteve e como uma boa vizinha, pegou um bolo de fubá fresco, que a mãe fizera para o lanche, cortou um pedaço e colocou num prato. Por cima, um pano de prato impecável de tão de limpo. Saiu de sua casa e andou devagar, mesmo sua curiosidade pedindo para correr. Bateu à porta, azul clara e madeira, com a mão livre e esperou. O rapaz que abriu a olhou intrigado, até agora ninguém o incomodara, pela má impressão que passava e queria que continuasse assim, mas…

    -Oi, sou Taíse. Moro na casa ao lado e te trouxe um bolo. - ela abriu um belo sorriso.

    Ele ainda a olhava calado. Tempo para analisar a menina de sotaque forte e fala mansa. Também reparou em sua pela morena, cabelos negros e olhos pretos. Quadris largos e pernas grossas. Ele suspirou.

    -Obrigada – disse estendendo a mão para pegar o bolo.

    Taíse apertou os olhos para enxergar o interior da casa idêntica a sua, mas escura como a noite. Ele quase riu da atitude dela. Será que ela queria um convite para entrar? Taíse percebeu o olhar dele e se endireitou.

    -Qual é o se nome? - ela tentou mais uma vez, atrevida.

    -Ben. Obrigada pelo bolo. Boa noite – ele foi seco e ela entendeu. Assentiu com a cabeça e voltou para casa, frustrada mais uma vez.

    Ben fechou a porta e riu para o bolo em sua mão. Ele já conhecia a vizinha. Muitas vezes havia visto pela rua e olhava o seu corpo bonito de busto avantajado. Sabia os horários da menina e quando essa saiu em um fim de semana, e voltou para casa sozinha, ele estava na esquina, vigiando para ela chegar bem ao seu destino. Mas não deixou de dar um soco no rapaz que estava seguindo-a, antes dele entrar na rua.

    Mas para o bem de Taíse, era melhor ele se manter afastado. Estava condenado a viver sozinho. Sua concepção era um enigma, mas aos treze anos descobrira o seu poder. Na vila onde morava, passava fome e roubou uma maçã da barraca da feira. O dono o pegou e bateu-lhe, fazendo sentir raiva.

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