ZERO HORAS

32 6 10
                                    

One shot de Egle Cristina para Leo.

Primeiro dia.

Estou no meu quarto jogando Final Fantasy. Quando o telefone toca, como estou de férias escolares não preciso dormir e nem acordar cedo. Olho na tela do celular são exatamente 00:00 horas.
Meu nome é Tiago tenho 12 anos. Tenho uma irmã mais nova a Isabela dorme no quarto ao lado, ela tem 7 anos. Isabela é a Biscuit como a chamamos. Minha irmãzinha é linda, tem cabelos negros e olhos bem pretos, como os meus. Muito mimada, também me classifico entre os culpados, mas ela tem a atenção de todos, é risonha e muito alegre. Dona de uma inteligência notável e muito, mais muito esperta para sua idade. Brincamos que ela deve ser uma anã. E não uma menina de só 7 anos.
Mas voltando ao toque do telefone presto atenção que só tocou três vezes e parou. Não deu tempo de minha mãe atender, moramos em uma casa de dois andares ou sobrados como alguns dizem. E nosso telefone fica no escritório, hoje em dia quase ninguém liga no telefone fixo, por isso nem temos extensão. Levanto-me para ver o que acontece. A luz do quarto da Isa está acessa vou até lá para ver o porquê já que estava dormindo há algum tempo. Parado a porta vejo minha mãe aflita, não entendo o motivo, Isa está encostada com a cabeça em seu ombro. Imagino que teve um de seus pesadelos. Isa é dessas crianças que quando tem um dia agitado não consegue dormir bem.
O que me intriga é a maneira que o olhar de minha mãe está perdido em pensamentos e não consigo decifrar o ocorre.
Volto para meu quarto, penso em esperar ela sair do quarto de Isa para pergunta o que está acontecendo, mas isso não acontece, meus olhos estão pesados e acabo dormindo.
Segundo dia.
Hoje tento falar a respeito, mas minha mãe diz ter sido só um de seus pesadelos. Então deixo passar porque como comentei costuma acontecer. Meu pai está fazendo o horário noturno em seu trabalho, esta semana ficamos os três. Ele troca de turnos. Meu pai trabalha como paramédico na CCR-Autoban (Companhia de Concessões Rodoviárias).
Como todas as noites estou em meu quarto e novamente ouço o telefone fixo tocar. De novo olho para o celular por conta do horário e fico intrigado por coincidência também é 00:00 horas. Mas dessa vez corro para tentar atender, ao chegar ao escritório ele para no terceiro toque, pego tento atender o mais rápido mas está mudo. Escuto alguém andar pelo corredor e saio pela porta para ver de quem se trata. E me espanto ao ver a velocidade em que Isa corre, ela passa por mim e nem me vê. Olho para minha mãe que vem logo atrás e vejo em seu semblante um desespero.
---- Mãe o que houve?
Ela não responde e continua a ir atrás de Isa que agora está sentada sobre o braço do sofá, fico observando faltando dois degraus para descer tenho uma visão ampla. Minha mãe se aproxima Isa começa a rir, sua gargalhada é diferente, ela está estranha, tem olheiras talvez da noite passada mal dormida.
Então minha mãe se aproxima mais e passa a mão sobre a face de Isa, que a olha rindo, mais tem certa ironia em seu sorriso, não se parece nada com a Biscuit. Ela abraça minha mãe e novamente com a cabeça em seu ombro fica um tempo. Fala algo e minha mãe movimenta a cabeça em concordância.
Muito tenso e ao mesmo tempo revoltado com o que vejo me aproximo. Isa levanta a cabeça e me olha. Seu olhar está fixo sobre meu pescoço mais precisamente em minha corrente de crucifixo.
---- O que ela tem mãe?
---- Nada Ti volta para seu quarto.
---- Como nada? Ela está estranha?
---- Tem como você fazer o que te peço? ---- Tem a voz é irritada.
Como não quero piorar a situação até mesmo não sei o que se passa, vou até a cozinha tomar um copo de água. Na volta congelo ao ouvir uma estranha Isa falando. Olho ela tem sua boca perto do ouvido de minha mãe, entendo perfeitamente o que fala. E me espanto.
---- Só você pode me ajudar. Só você.
Sua voz é rouca, não é a Isa falando, mas é de sua boca que sai àquelas palavras. Aproximo-me messe momento sua cabeça cai no ombro de minha mãe e adormece.
----- Mãe nem vem me falar que não está acontecendo nada. Eu quero saber o que é tudo isso.
---- Vou coloca-la na cama e conversamos. Preciso falar com alguém se não vou enlouquecer.
Ela sobe com Isa em seu colo e vou logo atrás. Assim que coloca o corpo de Isa na cama examina suas pernas e braços. Tem manchas, como aquilo aconteceu?
----- Quem fez isso nela mãe? --- Pergunto atônito.
----- Ti vamos pro seu quarto.
Saímos ela deixa a luz do abajur ligado e encosta a porta deixando aberta.
---- Tiago tem algo muito estranho acontecendo, eu achei que fosse minha imaginação. Mas hoje tocou o telefone de novo e tudo aconteceu como ontem, só que pior. O telefone toca a Isa desperta e faz algumas coisas estranhas. E me fala aquilo. Eu não sei o que fazer filho. Ela está com aquelas manchas, tem olheiras e me falou hoje a que tem dores no corpo.
---- Você falou com o papai?
---- Ele estava arrasado com a morte da criança daquele acidente, que achei melhor nem encher mais sua cabeça. Até porque eu nem sabia o que dizer. Mais hoje estou assustada.
----- Mãe não é melhor pedirmos ajuda ao tio Fábio, ele vai a igreja pode vir e orar sei lá como funciona essas coisas, mas ela estava com uma voz macabra. Não vou nem conseguir dormir.
---- Vou ligar pra ele agora e ver o que ele diz.
Ela sai do quarto e eu fico sem saber o que fazer. Confesso estou com medo da minha irmã. Tadinha nem sabe o que está acontecendo, está com dores, mas eu me assustei muito hoje.
Depois de alguns minutos minha mãe volta. Entra e senta em minha cama.
---- Fábio falou que vem amanhã meia hora antes do horário que o telefone tocou nestes dois dias. Vai trazer uma pessoa com ele lá da igreja para nos ajudar.
---- O que ele acha que pode ser?
---- Ele não sabe filho. Falou que pode ser essa coisa dela com os dias agitados e seus pesadelos. Sabemos que sua irmã tem Parassonia, mas hoje foi surreal.
---- Foi mesmo, vamos torcer para que não aconteça amanhã.
---- Vamos sim, vou deitar qualquer coisa me chama.
---- Boa noite mãe. --- Ela me beija e sai encostando a porta.
A noite foi longa, não consegui dormir, meu pai chegou e me deu uma bronca por ainda estar acordado.

Terceiro dia.

Isa está o dia todo na cama, fiquei morrendo de dó de ver meu Biscuit tão apagada. Ela mal falou o desamino é evidente.
Meus tios chegaram eram 23:30 hr ficaram na sala aguardando, com eles estava uma mulher com seus 40 anos, ela é animada falava apressada um tanto extrovertida, mas gente boa. Ela usa uma calça jeans e blusa branca, tem a pele clara e seus olhos são bem azuis. Uma mulher bonita. Tem o nome de Tarsila.
Como nos dois dias anteriores 00:00 o telefone fixo toca no terceiro toque para e Isa desperta. Como sei disso? Ouço gritos de minha mãe. Só que hoje ela está violenta, minha mãe grita sem parar, está assustada. Assim que entramos no quarto minha mãe tenta tirar o travesseiro do rosto de Isa que está se sufocando. Meu tio tenta puxar mais ela segura tão firme, que ele tem trabalho para se livrar do travesseiro. Com muito esforço, ele quase sem forças consegue tirar dela. Ela está branca por ficar quase sem ar. Olha para todos e foca em minha mãe, e fala.
----- Só você pode me salvar, só você.
----- Mas pode ser tarde.
E com isso ela aperta a garganta com as mãos com tanta força que começa a ficar vermelha, minha mãe tenta tirar e não consegue, minha tia tenta e é empurrada com um chute que ela dá contra ela. Eu me ajoelho e toco em sua mão, tento tirar seus dedos que estão brancos com a força que faz, ela me olha. Começa a rir. Em meu desespero começo a chorar e imploro para que ela pare, digo a amo muito para ficar comigo. Ela afrouxa um pouco e com isso tiro suas mãos da garganta. Mas sem que eu espere ela pega a minha, e faz o mesmo, estou com lágrimas começo a perder os sentidos. Tudo está ficando preto. Tem toda uma movimentação ao meu lado minha mãe chora desesperada. Tarsila se aproxima e toca em sua cabeça, começa a orar e ela me solta. Começo a tossir e me afasto da cama.
Isa se levanta e começa a pular na cama, como fazíamos quando eu era menor, começa a rir e fala.
---- Só você pode me salvar.
Para de repente, caí sobre o colchão. Vira a cabeça de lado e desmaia ou dorme, sei lá. Na mesma hora meu tio e a moça com o nome de Tarsila começam a orar. Ela se levanta depois de uns dez minutos e pergunta a minha mãe.
---- Ela ganhou alguma coisa de alguém que não é tão próximo, falo da família?
Minha mãe me olha e juntos tentamos pensar o que pode ser ela faz aniversário só daqui três meses então precisamos fazer por eliminação. Mas como lembrar? O que pode ser que está moça procura?
Minha mãe anda pelo quarto até que para e fala.
---- Eu não estou conseguindo pensar, estou muito nervosa, me ajuda Ti você tem uma cabeça boa.
Tarsila facilita para nós. Ela devia saber o tempo todo só queria testar, certeza.
---- É um colar desses que trazem de lugares religiosos.
Nesse momento eu e minha mãe olhamos para a cômoda de Isa, onde ela coloca todas suas bugigangas. Ela ganhou um colar da mãe de sua amiguinha de escola. Mas não acredito que o colar que a Sara deu a Isa possa ter algo com isso, mas ela trouxe de uma cidade que as pessoas frequentam por ser turística e muito religiosa. Pego o colar e entrego para a Tarsila.
---- Mirian você vai jogar este colar em água corrente e vai se certificar que ele seja levado com a correnteza. Mas por favor, não aceite mais nada principalmente comida e produtos cosméticos para sua família. ---- Olho para minha mãe abismado, Tarsila continua ---- Quando ela fala que só você pode lhe salvar é porque isso é pra você e não pra ela. Ela é só a fraqueza como seu menino, porque nós mães e pais temos muito medo que algo aconteçam com nossos filhos e por isto eles se tornam alvos às vezes. E é nossa fraqueza. Faz isso e não acontecerá mais nada com ela.
---- Vou jogar agora mesmo, tem o rio que atravessa a avenida do shopping, vou jogar nele, porque ele tem correnteza.
---- Vamos eu te levo a Sinara fica com eles até voltarmos. ---- Meu tio fala.
Eles saem me deito nos pés da cama de Isa. Ela dorme como um anjo, nem deve saber o que aconteceu. Tenho muita dó de minha maninha, ela é meu Biscuit. Tive muito medo que ela se ferisse mais. Ou pior, que não conseguimos parar ela naquele momento.
Minha mãe volta meia hora depois está abatida, nem deve ter dormido estes três dias. Passou por tudo isso e nem teve como falar com meu pai. Praticamente estava sozinha. Mas ele não está bem, provavelmente terá que fazer analise ou terapia, ele queria muito salvar aquele menino, mas o carro se moveu bem na hora que ele tinha a mão do menino na sua. E não conseguiu segurar com a queda do carro no penhasco. Ele tenta fazer-se de forte, mas não está nada bem. Mais um problema para minha mãe lidar e com isso prometo proteger meu Biscuit.

Quarto dia.

Olho no relógio passam das duas da manhã, graças ao bom Deus, nada de telefone tocando ás 00:00 hr e Isa dorme tranquilamente. Espero que tudo tenha terminado.



Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora