Vi Minha Mãe

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KatlinCarolineA.S
Para: Taiane


A viagem de ônibus parecia ser infinita. Geralmente eu acabava pegando no sono na ida, mas hoje estava muito ansiosa para conseguir dormir. Desde que descobri sobre ela, minhas noites tem sido tormentas constantes. Como lidar com isso?
Idealizei a vida toda com esse momento, mas agora, sinto um vazio. Será que ela poderá preenche- lo ?

Florianópolis é uma cidade realmente linda! Agora entendo o porquê ela estava tão bronzeada nas fotos do facebook. Pelo que sei, a cidade é conhecida como a Ilha da magia e tudo gira em volta da temporada de verão. Muitas praias, pousadas, lanchonetes, sorveterias ,bares e muitos turistas.

Estou aqui há três dias, peguei praia nesses dias, não para me divertir, ou bronzear. Mas para estar perto dela. Uma vez que o trabalho dela é de frente para uma lagoa. Como devo aborda-la ? Oi, prazer, sou sua filha , Susan. Não isso não se encaixa. Estava nos nervos, minha passagem é só de cinco dias, e já tinha perdido três dias. Não sei para onde foi minha coragem, mas ela não estava mais comigo.
Desço do Ônibus , ali está. Do outro lado da rua. O bar onde ela trabalha. O " café hospedagem" . Fica na barra da lagoa ( Um bairro muito frequentado pois fica de frente para uma lagoa, e entre uma praia , a da Barra e a lagoa da Conceição). Pensei em voltar para parada, mas lembrei do que meu namorado, andrei ,disse por telefone " Amor, sei que é difícil mas o tempo está passando. Você é incrível, ela seria louca se não gostasse de você. Vai ficar tudo bem. Você vai ver ... "
Tomei uma coragem repentina e fui. Atravessei a rua e entrei no bar. Tocava uma música da banda Natiruts - Beija flor . Eram apenas 9 da manhã, mas estava bem movimentado ali dentro. Você não conseguiria distinguir os turistas brasileiros, só pelo sotaque. Mas fica nítido quem é americano e argentino. Desisti de contar quando cheguei a 29 clientes, e me sentei a frente do bar man. Era ela, a minha mãe, Vanessa.

-Bom dia guria, o que vai ser? - Disse ela descontraída, sugando meu nervosismo.
- Ei, tudo bem? O que recomenda? - Disse quase gritando.
-Tudo jóia, e você? - Ela riu, me achou estranha com certeza.
-Que tal um passaporte? - Sugeriu a Bar man.
-Não sei, para ser sincera tou bem dura de grana. - Disse sem pensar.
- Sem problemas, que tal uma gelada então?
-Boa ideia.
-Loira ou morena?
-Como? - Perguntei sem entender o que ela quis dizer.
-Hum, você não bebe muito não é mesmo? - Ela sorriu e piscou para mim. Se debruçou sobre a mesa e me fitou se era de maior.
- Só as vezes.
- Vou pegar uma Skol beats para você. Acho que vai gostar. - Ela foi gentil, e deu as costas para pegar a bebida.

Eu amarrei meus longos cachos em um coque bem alto e firme. Não dava para deixá-lo solto com tanto calor, e mais ainda pois eu transpirava, fosse pelo calor ou pelo nervosismo. Enquanto fazia tal coisa, ela voltou com uma garrafinha e um copo com gelo.
- Limão?
-Sim, por favor.
- Você quer alguma coisa para comer?
-Não, estou bem.
-Tem certeza? Faz mal beber de estômago vazio. Mais ainda quando não bebe com frequência sabe...
Ela me olhou estudando se eu ia mentir, ou tentando saber se tinha ou não comido algo. Ela estava bem para uma senhora de 47 anos. Seu corte de cabelo ia a baixo do pescoso e era um tom castanho claro. Estava muito bronzeada, mas ela tinha uma pele branca enquanto eu, era muito morena. Quase pensei que fosse um engano, se não fosse as provas que consegui....

- Um sanduíche de queijo e tomate, que tal?
- tudo bem, você me convenceu. - Dusse por fim cedendo a ela.
- Pode ser, por favor.
-Okay, miguel! Saindo um queijo no tomate! - Gritou ela para sua costas, escrevendo o pedido em um papel, e levando até a cozinha do bar.

-Então, curtindo a ilha ? - Perguntou ela tentando quebrar o gelo.
- Sim e não.
- Então? Está a trabalho?
-Não, mas é pouco tempo. Família sabe. - Disse eu dando um gole gigante na cerveja sabor morango.
- Sei sim, bem, seja lá o que for, vai ficar tudo bem. - Falou ela colocando algumas rodelas do limão que ela cortou na tábua de madeira, a minha frente.
- Valeu. - Agradeci.
- Você está bem? Parece tensa... - Perguntou ela aparentemente preocupada.
- Acho que é a pressão. Mas não é nada de mais...
- minha nossa! Você é doida guria?! Tomar bebida com problema de pressão e estômago vazio?! Se fosse sua mãe te dava um puxão de orelha hein menina... - Brincou ela preocupada, e puxando meu copo de volta. Mal sabia ela que era mesmo minha mãe.
- Não, Não, eu não sou hipertensa. Me expressei mal. Quis dizer pelo calor. Hehhehe. - Me apressei em explicar.
- Ha tá. Não me mata do coração guria, hahhaa. - Ela riu e empurou o copo para mim. Sua mão tocou a minha. Foi estranho aquele contato com minha mãe.
- Sanduíche! - Gritou um cara da cozinha.
- Já vou! Espere ai.. - E lá se foi Vanessa outra vez.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora