Um tédio

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One shot de Laís para Cristiana

Apesar de todo o encanto e magia que as pessoas criam sobre a vida de uma princesa, eu digo com toda a propriedade do mundo: a vida de uma princesa é um verdadeiro tédio.

Sentada na minha cama, eu esperava a criada trazer o meu café da manhã, mas como sempre, ela já estava atrasada. Minha barriga roncou pela segunda vez e nada daquela imprestável trazer a minha comida.

Desci zangada até a cozinha e a encontrei tagarelando com a cozinheira. Não pude evitar um revirar de olhos e uma bufada. Se ela não tivesse uma boa desculpa para esse absurdo, eu faria questão de mandá-la para o castigo.

- Você está atrasada! – exclamei.

- Perdão, alteza – pediu, ajoelhando-se no chão. – Mas a rainha pediu que eu não levasse mais as suas refeições até o seu quarto.

Girei nos calcanhares o mais rápido possível – já que eu não suporto ficar na presença da criadagem – e marchei até a sala dos espelhos, lugar onde a minha madrasta passava a maior parte do tempo.

- O que você pensa que está fazendo? – indaguei irritada, assim que coloquei meus pés naquele lugar.

Ela polia um dos espelhos – o maior e mais bonito de todos – e eu não conseguia entender porque ela perdia seu tempo fazendo esse tipo de serviço que nós, da realeza, não precisamos fazer.

- Bom dia, Branca de Neve! – exclamou sorrindo, assim que me viu parada na porta. – Está um lindo dia, não acha?

- Que se dane o dia! – explodi. – Por que você mandou aquela imprestável não levar o meu café da manhã no meu quarto?

Ela sorriu, ignorando a minha hostilidade. Eu detestava muito quando ela fazia isso.

- Você anda passando muito tempo trancada no quarto, meu amor. Olhe só para a sua pele! Está até meio esverdeada  – tornou, caminhando em minha direção. – Achei justo que você faça pelo menos as suas refeições comigo, para que possamos caminhar todas as manhãs. O que acha?

- Você quer mesmo saber a minha opinião? – indaguei, erguendo uma sobrancelha.

- Não preciso saber da sua opinião, querida – continuou com sua voz doce, mas rígida. – Eu já tomei minha decisão. Em alguns minutos esteja na sala de jantar.

Girei nos calcanhares e saí marchando, tentando demonstrar toda a minha raiva. Eu sabia que argumentar que ela não era minha mãe não era uma alternativa. Apesar de não ser minha mãe verdadeira, ela cuidou muito bem de mim desde que o meu pai morreu, quando eu tinha só seis anos. Esse era o motivo de eu ainda acatar as suas ordens.

Sentei-me a mesa, tentando não explodir. Logo a minha madrasta se juntou a mim e a criada trouxe meus ovos e meu pão.

- Meus ovos estão crus! – exclamei, zangada. – Será que uma vez na vida essa inútil consegue acertar o ponto dos meus ovos? Será que é algo tão difícil assim?

- Fique calma, meu amor – pediu a minha madrasta. – Pode ficar com os meus.

- Eu não quero os seus! Eu só quero que essa estúpida aprenda a fazer os ovos do jeito que eu gosto – explodi, à beira das lágrimas – Em dezesseis anos ela ainda não aprendeu! Será que é pedir demais?

- É claro que não, minha querida – consolou-me ela – Por favor, criada, leve esses ovos e traga outros novos. Minha Branca de Neve merece tudo o que há de melhor nesse mundo.

De cabeça baixa, a criada levou os meus ovos e trouxe outros novos, desta vez, decentes. Quanto trabalho seria poupado se ela fizesse o seu serviço direito. Na verdade, eu não conseguia entender porquê mantê-la aqui ainda, já que ela não conseguia fazer nada direito.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora