Razões

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One shot de Leonardo para Karina.

Ao entrar em casa, vou até a cozinha onde encontro Vivian preparando um lanche. Puxo uma das cadeiras e me sento. Ela me observa, mas não fala nada, o que me deixa inquieta. Ela estava tramando algo na sua mente, o que pra mim era amedrontador.

- Então... como as pessoas te receberam? - Perguntei, curiosa sobre suas impressões.

Ela me encara com os olhos inquietos, mexendo a faca da manteiga nervosamente em suas mãos.

- Andressa e Leandro formam um bom casal, são bem fofos juntos... - Disse ela, virando o olhar para a parede, pensativa.

- Se não formassem, não estaria ajudando em seu casamento.

- Fernando é... um homem e tanto...

Olho pra ela, cerrando os olhos. Eu sabia o que Fernando sentia por mim, se Vivian começasse a gostar dele, ela iria se magoar demais, pois ele não sentiria o mesmo por ela.

- O que ele tem de beleza ele tem de chatice, confie em mim! - Disse, tentando tirar essa ideia sobre o Fernando do ar.

- Ah, entendo... O Luiz também é um cara bem legal... você... sabe... - Disse a menina, começando a suar frio, olhando para todos os lados e respirando fortemente. 

- Vivian, você tem certeza que está bem? Parece estressada, como se estivesse sendo perseguida...

A menina levanta rapidamente da mesa, soltando a faca e andando de um lado para o outro da sala, passando a mão no cabelo, e ela tentava falar, só que sua boca não produzia sons.

- S-Sofia... e-eu...

Vou até ela e coloca minhas mãos nas dela. Ela tinha alguma coisa que precisava desabafar, e eu estava lá para ela, até por que poderia ser uma coisa que Ele quissese que eu soubesse, e a ajuda-se com.

- Pode falar, Vivian. Sou sua prima, tenho certeza que não pode ser nada de terrível...

- Sofia... e-eu... eu estou grávida. 

Solta as minhas mãos, andando para trás, assustada. Eu tinha certeza que Sofia não era uma pessoa como o irmão dela, que ia para as baladas, tinha sexo com estranhos. Ela era uma menina dEle, não como seu irmão.

- E... o bebê... O BEBÊ É DO FELIPE!

Do Felipe? Não poderia ser. Felipe era o nome do irmão dela. Certamente ela deveria estar namorando algum menino chamado Felipe, não poderia ser o irmão dela. Não poderia ser incesto...

- Q-Que F-Felipe, Vivian?

- O FELIPE SOFIA! MEU IRMÃO! O Culto me comoveu! Eu tava com isso guardado dentro de mim mas não aguento mais! Eu sou uma pecadora nojenta! - Gritava, como se estivesse implorando para que Deus ouvisse ela - Me ajude Sofia! Me ajude a limpar meu corpo dessas impureza! Eu não consigo mais viver comigo mesmo!

- V-V-Vivian...

- Que barulheira toda é essa, meninas? - Era Felipe. Ele tinha acabado de chegar em casa, não sabia por que estavamos gritando.

- Eu contei pra Sofia, Felipe! Ela pode nos ajudar! Com a palavra de Deus, ela pode nos libertar!

- Você fez o quê? - Ele disse num tom ameaçador, virando seu olhar pra mim e colocando seu indicador em minha cara - Você não vai falar uma palavra pra família, você me escutou Sofia?

- Não Felipe! Isso é um pecado, gravíssimo! Eu tenho um compromisso com Deus! Eu não posso deixar vocês esconderem isso!

- Então você não me deixa escolha... - Vejo Felipe indo pra mesa, pegando a faca de cortar pão e me olhou com um olhar de ódio. Com medo, começo a andar pra trás, me debatendo contra a porta da cozinha.

- Felipe, você não sabe o quê tá fazendo! Abaixa essa faca! - Gritei, levantando meus braços para proteger meu rosto, mas sinto a lâmina dilacerar minha barriga, num corte tranversal, olho pra baixo e vejo o sangue saindo da minha barriga. Caio de joelhos no chão segundos depois, ficando sem forças para ficar em pé, olhando Vivian batendo no Felipe pelo que tinha feito, levando uma facada no coração logo depois. Sinto meu corpo caindo para a esquerda, enquanto lentamente vou saindo dele, vendo a luz no fim do túnel. Sim, finalmente, Deus estava lá, estendendo sua mão para mim, me tirando de todo sofrimento que essa Terra representa. Estava tão perto, tão perto de ser livre.

Até que algo me puxa de volta. Eu sentia a minha mão se afastando da mão de Deus. De sua luz virar escuridão, até que sinto uma luz forte batendo em minha cara. Viro minha cabeça para o lado e vejo uma parede com um sofá e uma janela atrás, com uma cortina cinza, que estava aberta.

Enquanto minha visão voltava para mim, percebi minha mãe, meu pai e Fernando sentados no sofá, e, quando perceberam que eu estava acordando, vieram correndo para meu lado. Via suas bocas mexendo, mas não conseguia ouvir nada. Suponho que estejam falando meu nome, tentando ver se eu estava realmente ali, viva. Só me lembro de dar um sorriso antes de desmaiar.

Deus não me deixou morrer, não ainda.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora