Uma vida ensolarada ou nem tanto

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One de Rosie para Igor

Estava chovendo, e eu detesto chuva, detesto a sensação de frio e vazio. Talvez eu devesse amar a chuva já que ela combina tão bem comigo. Apesar de meu nome ser Sun, sou a pessoa menos ensolarada que existe. Depois de vestir meu habitual look preto, fui até o armário atrás da porta da sala atrás do meu guarda chuva, e assim que abri, me deparei com aquela aberração me olhando, no lugar do meu sóbrio guarda chuva preto, um rosa com dourado me olhava, sim literalmente me olhava, céus ele tinha olhos. Quem no mundo compra aquilo? E pior?  Como ele foi parar na minha casa?  Eu moro sozinha, pelos deuses. Desviando o máximo que pude daquela criatura, vai que além de estar ali por encanto, quer me comer?

Revirei tudo mas não achei, nada do meu guarda chuva e nem da capa, mas o pior ainda estava por vir...  Minhas galochas haviam sido trocadas, e em seu lugar galochas vermelhas e com laços.

Tudo o que eu queria era atirar aquilo na fornalha e chorar, mas estava atrasada, e já não ia trabalhar havia uma semana.

Contrariando tudo em mim, arrumei meu casaco, calcei as malditas galochas e peguei o guarda chuva. Não sem antes olhar pra ele e dizer:

– Não tente nem uma gracinha.

Desci apressada as escadas e estranhei o modo como a vizinha me olhou, ela sorriu e disse que havia adorado a festinha da noite anterior. A velha deveria estar louca, eu não saía de casa há dias.

No caminho até o café cada pessoa que passava por mim me sorria e dava oi, será que todos beberam? Eu não sou uma pessoa sociável.

Quando o Sr. Alberto da banca de jornais sorriu e me chamou de little kitten eu percebi que ainda não havia acordado. Eu estava em uma realidade paralela, uma colorida. Merda.

Por via das dúvidas cheguei até o café, Bruna me olhou com simpatia e chegou a me dar um sorriso, com educação eu retribui e fui até a sala de trás vestir meu uniforme. Só podia ser brincadeira, meu sóbrio uniforme, estava cheio de flores bordadas. Brilhos e paête. Assim como o de Bruna. Eu era a única no café a deixar de usar os aventais de primavera.

Preferi não discutir com as garotas sobre a brincadeira e comecei meu turno. No fim só dia, fui até uma loja de departamentos e me livrei do guarda chuva e também das galochas. Me sentia eu mesma.

Chegando em casa, guardei tudo e depois de um jantar leve, fui me deitar. O dia seguinte seria movimentado, pois havia jogo. As finais. Eu odiava dia de jogo.

Na manhã seguinte, Sunny como os amigos a chamavam, acordou radiante e saltitante. Era dia de jogo e ela estava ansiosa para atender seus fofinhos. Ela vestiu um conjunto amarelo e desceu as escadas ansiosas para calçar suas lindas galochas vermelhas, aquele laço era lindo. Mas no lugar delas achou as horríveis galochas pretas e o guarda chuva sem graça. Como eles haviam ido parar ali, era um eterno mistério. Sempre.

O que Sun/Sunny desconhecia, era que sofria de um transtorno que lhe dava uma múltipla personalidade. A sobria e séria Sun e a vibrante Sunny. A vizinhança já estava acostumada e os amigos do café também. Apenas as duas não faziam ideia.

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