Zero a dez - Ivete Sangalo

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One shot de Egle para Caren.

São Paulo, setembro de 2004.

Foi exatamente neste ano que tudo começou. Era um típico sábado de setembro, a primavera estava em seu inicio. Eu e minha família fazíamos em churrasco com meus tios, primos e minha vó, que sempre estava presente. Dona Flora é uma figura, espanhola nascida e criada em Madri até seus 35 anos, ela é nossa matriarca. Dona Flora é mãe da minha mãe Dolores e da minha Tia Analuz. Meu avô morreu faz três anos, sentimos muito a sua partida. Meus avós chegaram ao Brasil há 23 anos, minha mãe e minha tia ainda eram adolescentes quando chegaram, mas logo se adaptaram, elas adoram contar as encrencas em que acabavam se metendo por serem novas e não conhecerem ninguém. Na faculdade minha mãe conheceu Igor meu pai e, se casaram assim que se formaram. Aqui em casa somos quatro, meus pais, eu e meu irmão Diogo, ele tem 13 anos e eu me chamo Sara, estou com oito anos.

O churrasco estava em seu melhor momento à carne era servida e a conversa fluía, neste momento vimos um grande caminhão chegar à casa ao lado, já fazia alguns meses em que ela estava desocupada, mas tínhamos a informação que uma família de Manaus havia comprado, só não sabíamos quando teríamos o privilégio de conhecê-los. Até este caminhão estacionar a meio fio e chamar a nossa atenção pelo barulho e movimento. Logo ouvimos conversas. Meus pais como bons vizinhos, foram logo receber os recém-chegados. Era um casal com dois meninos. Minha convidou para que se juntassem a nós, eles deviam estar cansados da viagem, mas contaram que tinham desembarcado ontem e, tinham se hospedado em um hotel, a espera do caminhão, que chegaria só hoje. Mas aceitaram e logo uma movimentação e conversa me chama atenção. Os dois garotos eram mais ou menos da idade do meu irmão, mas um deles em especial logo teve minha atenção, ele descia os degraus na parte exterior da casa, onde temos a piscina e churrasqueira, e nosso olhar se encontrou. O verde de seus olhos era de uma cor incrivelmente linda, um tom verde claro, que dá a impressão de ser um verde cítrico, muito lindo. Ele me olhava da mesma forma, até que minha mãe começa as apresentações e, ali soube que se chamava Caio e seu irmão Caíque, eles eram bem diferentes. Caíque tinha o cabelo mais escuro, quase castanho e Caio é loiro e muito bonito. Os dois são altos, e tem a pele clara. Logo eles começaram uma conversa com meu irmão e primos e fui deixada de lado. Mas sempre olhava pra ele, e às vezes eu via que ele também me olhava.

Depois desse dia as famílias se tornaram amigas, nossas mães revezavam, minha mãe nos levava para o colégio e, a Maiara mãe dos meninos, nos buscava. Caio está na mesma classe que meu irmão Diogo e, Caíque na mesma que minha prima Paola, eles têm um ano a mais que eu. O tempo foi passando, meu irmão pediu para que minha mãe o deixasse fazer uma festa em casa, para comemorar seu aniversário de dezesseis anos, depois de muita insistência da parte dele, ela acabou vencida e concordou. A festa estava muito legal, minha mãe decorou a área da piscina com luzes, contratou um DJ, que animava geral. Vários amigos do colégio e do futebol, estavam presente, meu irmão pratica junto com o Caio, que também é bom de bola, ele estava mais lindo agora com seus dezesseis anos. Eu sempre ficava na minha observando ele em tudo. Ele me tratava como irmã mais nova, me chamava de fada, por causa de uma apresentação do balé em que estava vestida de fada azul. Ele sempre assiste minhas apresentações, assim como seus pais e, eu sempre vejo seus jogos, já que joga no mesmo time que Diogo. Em determinado momento da festa eu não o via em nenhum lugar, estranhei e fui a sua procura, foi neste dia que aprendi o que é gostar e sofrer. Caio estava aos beijos e amasso com a Beatriz, uma garota da sua sala de aula. Eles se tocavam como se já estivessem acostumados com isso. Será que já tinham ficado antes e, eu não fiquei sabendo? A dor me invadiu, ele segurava em sua cintura fazendo com que ela ficasse mais próxima dele, quase esmagando, seus beijos eram demorados, ele movia a mão sobre suas costas e cabelo. Eu ali, escondida assistindo a tudo sem conseguir me mexer. O pior foi à hora que ele me viu e continuou como se eu não estivesse ali. Sai correndo e segui para meu quarto, entrei e tranquei a porta, fui para o banheiro e chorei escondida para ninguém me visse. Fiquei lá uma boa parte da festa, eu era tão importante que ninguém sentiu minha falta. O que uma pirralha como eu, fazia lá? Meu irmão só me deixou ficar lá com todos, para não me magoar, eles são mais velhos, e nenhum deles falam comigo. Até que resolvi descer novamente e fingir que não  tinha acontecido nada.

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