LOBISOMEM

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De Felipe para Meg

Caninos Sangrentos

A sessão do cinema acaba exatamente meia noite. Só um fã louco de Marvel como eu pegaria o último horário do dia, legendado ainda por cima, só para ver os heróis na sua estréia no cinema.

Saio do cinema ajeitando meu casaco, coloco as mãos nos bolsos do mesmo enquanto me encolho por conta do frio e da garoa caindo sobre meu corpo.

Ajeito meu celular na bota por conta dos muitos assaltos na região, ainda mais a essa hora. Não seria louco de sair por aí de fone, ouvindo músicas a essa hora na rua. Além do mais isso não é nenhum filme.

Dois quarteirões do cinema, a chuva começa a engrossar e por ocasião do destino, as fases da luz de todas as ruas caem, ficando levemente iluminada.

Por algum motivo meu coração começa a palpitar de nervosismo, apresso meus passos para chegar em casa pois sei que logo em breve a fase vai cair e tudo apagará.

Chego na esquina de uma movimentada avenida de minha cidade mas sem sinal de um único carro na rua. Respiro fundo atravessando com passos rápidos por estar próximo de meu apartamento.

Uma, duas ou três avemarías e Pai nosso eu rezei. Na verdade nem sei se foi só isso mesmo, acho que não. Olho a hora e já são meia noite e quinze. Ótimo, 15 minutos até aqui e mais 25 até minha casa!

Volto a caminhar pelas ruas desertas quando todo o bairro fica sem luz elétrica, sendo apenas iluminados pela lua, que por sinal veio bem a calhar, por estar Cheia.

Dobro em uma rua onde posso chegar o quanto antes em casa. Logo um cheiro extremamente forte e repugnante invade minhas narinas e uma ânsia de vômito surge para revirar todo o meu sistema digestivo.

– Calma, é só algum cachorro morto Miguel, apenas um cachorro morto!

Um barulho ecoa por todo o "beco", como se no final algo estivesse a espreita, rosnando e me olhando. Deve ser um cachorro. Continuo andando para chegar em meu apartamento. Outro rosnado, agora alto e mais ameaçador, faz com que meu corpo pare automaticamente.

Olho com dificuldade pelo lugar vendo ao fundo algo se mexer. Paraliso instantaneamente quando uma criatura de aproximadamente 1,90 metros de altura, negra, coberta de pelos e caninos pingando sangue surge me encarando.

Meu coração acelera como nunca antes, minha cabeça diz corre e meu corpo diz fica que é teu fim.

A criatura rosna e avança em minha direção com velocidade, tento correr mas sou pego pela cintura e arremessado contra a parede. Solto um grito de dor tentando me levantar. – Não, não, pelo amor de Deus, sai daqui!

A criatura não me dá ouvidos, avança novamente rasgando minha roupa com violência e acabo tendo meu corpo completamente arranhado.

O barulho de gritos na vizinhança, por conta da energia ter voltado, acaba assustando a criatura que corre me deixando ali jogado com fortes dores nas costas e arranhões na barriga.

Com uma forte dor de cabeça, levanto com dificuldade apoiando o punho no latão de lixo. Minha cabeça tá doendo tanto!. Cambaleio com dificuldade na direção de minha casa.

A cada passo, uma coisa mais forte que eu vai tomando conta de meu corpo. Ignoro totalmente tentando chegar em casa o quanto antes. Respiro ofegante tendo minha vista embaçada e sinto mais cheiros extremamente fortes invadirem minhas narinas.

– Finalmente casa! – Susurro fazendo careta quando uma dor no meu peito me derruba no chão. Aperto os dedos contra o asfalto e arrasto meu corpo para chegar logo. Uma silhueta passa pela janela e imagino ser Megan, minha namorada. – Megan! So-socorro...

Vejo a menina baixa, dos cabelos encaracolados e várias tatuagens espalhadas pelo rosto correr até mim. – Miguel, o que houve?

– Eu não sei, só... – Meus músculos começam a se contrair, solto um grito de dor e recuo um pouco. Minhas mãos começam a se deformar, ficando grandes e com pelos. Minha pele é rasgada por camadas e camadas de pelos grossos. – VAI EMBORA MEG! AGORA!

– O QUE ESTÁ ACONTECENDO MIGUEL?

Não consigo mais responder, meu corpo se rasga por completo revelando uma outra pele por baixo, com pelos grossos, caninos grandes, fusinho e uma nova estatura.

Infelizmente, meus instintos, também apurados, ignoram o fato de essa mulher a minha frente, ser a que mais amei em minha vida, a que jurei proteger de todos os perigos desse mundão.

Sem pensar duas vezes, avanço sobre ela rasgando toda sua pele com meus dentes extremamente afiados. Após rasga-la, solto um uivo enquanto pulo para o telhado de minha casa.

Antes as pessoas me conheciam por Miguel, o maior fã de super heróis, que sonhava um dia ter super poderes. Agora, sou apenas uma besta, que nas noites de lua cheia, sai pela cidade buscando novas vítimas para saciar a sede por sangue e carne.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora