ERA NOITE NO RIO DE JANEIRO

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One shot de Beatriz para Ricardo

Era noite no Rio de Janeiro, daquelas que no céu a lua se esconde entre as nuvens. Não apenas pelo tempo entre aberto, mas pelo medo que pairava no ar. Em cima do prédio alto, na avenida presidente Vargas, Ricardo esperava seu inimigo passar lá embaixo.

De pele alva, cabelos negros em um corte militar, Ricardo mantinha uma expressão seria com as sombrancelas franzidas acima dos olhos vermelhos. Como ele poderia ter traído o seu clã, Ricardo não sabia, mas suas mãos fariam todo o trabalho ate obter a resposta. Ricardo era um vampiro da classe guerreira e chefe de seu clã. O protegia como se fosse sua família e o tratava como súdito, o que não deixava de ser.

Como era madrugada, pode ver alguns traficantes e viciados na esquina, em outra, garotas de programas. Mas nada daquilo interessava a ele. A pista não era errada, não podia ser, aquele filho das trevas logo passaria ali.

Relaxou um pouco em sua posição, fazendo seu sobretudo de couro negro, calça e camisa pretas reclamarem. Seus pés nos coturnos nem existiam mais, porem não ligava para isso. Como guerreiro, seu corpo era puro músculo e também treinado para suportar a dor. Em seus bolsos havia surikhens e a lâmina do executor estava em suas costas ardendo para ser usada.

O que não suportava era que alguém incomodava a sua família. Não ligava para os ratos sem cauda lá embaixo, pois não sabiam de sua existência. Eles eram apenas comida e quando a refeição era bem feita, não deixava vestígios. Não havendo vestígios, não havia medo.

Até seu irmão Renato os trair! Ele falara demais para uma humana com quem se divertia e, depois da diversão, deixou-a exposta em uma rua atrás da rodoviária Novo Rio. Ele cometera o pior dos erros. Colocara em risco sua família e a sua paz. Agora Ricardo teria que limpar toda aquela sujeira.

Enquanto esperava, sua mente vagou e foi parar nela. Uma bela vampira com o corpo curvilíneo e esbelto, cabelos lisos e negros, que iam até a sua cintura. Ricardo sorriu ao lembrar da noite em que ela se entregou a ele.

Ali, ele quase se rendera ao sentimento que havia em seu peito. Paixão e clamor estavam no corpo, mas no coração estava o amor. Mas ali, foi quase. Melissa falou das brigas e da violência com que ele as enfrentava. Pedira a ele para não matar mais ninguém, para não levar mais a morte de ninguém nas costas. Então, ele recuou. Disse a ela que não sabia fazer de outra maneira para defender o seu povo.

Um movimento atraiu sua atenção, e pela falta de calor no corpo era ele que esperava. Não sabia como Renato andava com aquelas humanas, mas não se importou quando ficou de pé no parapeito do prédio e pulou, caindo bem na frente do seu irmão. E pronto para executa-lo!

Renato assustou-se, não pela aparição do irmão, mas pelo sorriso em seu rosto. Sorriso esse que Ricardo dava somente no momento da luta. Em um movimento rápido, Ricardo atirou um surikhen no peito da mulher, matando-a no ato. Renato que vira sua noite de diversão arruinada, atacou o irmão com toda a raiva.

Ele sabia que estava errado, não deveria ter deixado a humana daquele jeito para todos verem, e agora os ratos sem cauda estavam à caça dos vampiros que existiam apenas em suas imaginações. Mas a raiva de Renato era porque Ricardo não fazia aquilo apenas pela raça, pelo clã. Fazia por ela! Como essa fêmea podia mexer tanto com o irmão, ele não sabia, mas o motivo da vingança era esse, era ela! Aquilo enfureceu ainda mais Renato que trocou socos com Ricardo em plena rua. Não se importava com quem passava.

Deu um soco de direita que atingiu o nariz de Ricardo, que por sua vez, socou-o na boca do estômago. Renato conseguiu se esquivar da surikhen que Ricardo lançara e acertou outro soco nele. Ricardo, com raiva e na super velocidade, acertou o irmão com força, fazendo-o bambear. Renato em sua velocidade, tirou uma faca do calcanhar e tentou atingir Ricardo, que por sua vez pegou a lâmina do executor em suas costas com maestria e girou no ar, como se não tivesse peso algum.

Renato levara um chute que o levou ao chão. Ricardo mirou a arma no ângulo do pescoço de seu irmão. Viu o terror perpassar pelos seus olhos e alguns poucos carros em alta velocidade, ignorando a maior briga que aquela avenida já vira.

Quando Ricardo ia dar o golpe final, melissa veio em sua mente, pedindo para que não matasse mais. O tempo parou, enquanto ele lembrava dela dizendo que ele já matara demais e não precisava fazer aquilo. Já era temido o suficiente. Por isso estavam no Brasil, para fugir das mortes que ele fizera na Inglaterra. Pensou no amor que sentia por ela e o medo de perdê-la para qualquer um, e principalmente um abaixo dele. Olhou o seu irmão apavorado no chão, voltando à mente a briga, girou a lâmina novamente e golpeou...

O chão. Ao lado da cabeça de Renato. Esse pode ouvir o som da arma cortando o ar e pousando a milímetros de sua orelha esquerda. Olhou para Ricardo, que se apoiava na lamina enorme de olhos fechados. "O que Ricardo tem? Ele nunca para até o adversário estar morto!" pensou Renato, ainda no chão.

Na cabeça de Ricardo era melissa que falava. Lembrou do olhar dela quando chegara em casa e contaras de sua ultima vitima. Não aguentou aquela reprovação da parte dela, mesmo que silenciosa doía em seus ouvidos. Pensou contando-lhe que matara o seu próprio irmão. Não queria mais decepciona-la e por fim se rendeu. A morte do irmão, além de grande perda para o clã e para si mesma, seria apenas mais uma em seu histórico.

Ela conseguiu. O fez ponderar antes de matar, e se assim o fizesse ele não seria apenas temido, para respeitado pelo seu clã. Ricardo suspirou. Guardou a lâmina do executor nas costas e deu a mão para o irmão se levantar.

_Agradeça a ela - disse com uma voz rouca. - Mas se vacilar de novo, eu volto a ser...

_Você? - Renato falou zombando da ameaça, sabendo que naquele dia não haveria mais luta. Mas Ricardo respondeu com um soco que o fez cair no chão novamente.

Ricardo deu as costas e caminhou. Ferido pela a luta que tivera, riu satisfeito pelo terror que vira no irmão. Mas o que fez ele sorrir de verdade foi a sua decisão. Afinal, ele alcançara a sua rendição.

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