Jogando "Eu Nunca"

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One Shot de BiaCout para Isabella

    —Que jogo? - perguntou Eduarda enquanto tomava o seu chope de vinho.

    —Esse que está na moda. Faz sucesso Youtube. - Bruna deu um gole em sua cerveja.

    —Deve ser legal. Eu topo – Roberta aceitou, mas ainda precisava de uma explicação para entender.

    —Hum… Não sei não – Amanda desconfiou logo.

    Autoras de sucesso, se conheceram em um grupo de mensagens no início de suas carreiras, agora consolidadas. Eduarda e Amanda eram de São Paulo, Bruna do Rio de Janeiro e Roberta de Rondônia. Duas vezes no ano se encontravam e esta noite era a folga após o dia agitado na Bienal do Livro de São Paulo. Eduarda era a mais velha, tinha a pele clara e cabelos negros, porém o sorriso era o mais jovial possível, tinha 44 anos. Amanda tinha os claros, verdes e havia pintado recentemente os cabelos de preto, de 32 anos. Bruna era a morena clara, de cabelos cacheados e olhos astutos, a mais nova de 30. Roberta era um amor de pessoa, de cabelos longos e rosto meigo, mas se falasse mal de alguns de seus personagens virava bicho, de suas amigas então… Bom, já deu para entender. Roberta tinha 40 anos.

    Sentadas no bar de alto nível, conversavam sobre tudo até que Bruna deu a ideia. O jogo “eu nunca” não era conhecido por elas, por ser um jogo considerado juvenil, apesar de envolver bebidas alcoólicas e muitos artistas jogarem.

    O garçom trouxe a garrafa de cerveja, a pedido de Bruna e encheu a tulipa de todas. Ela fez sinal para ninguém beber e foi explicando rápido o jogo, para a bebida não esquentas.

    —Cada uma faz uma afirmação começada com “Eu nunca”. Aí ninguém diz a resposta, apenas bebe se for sim ou não bebe, se for não. - Eduarda e Amanda toparam o jogo. - Eu começo. Eu nunca dirigi depois de beber.

    Todas se olharam, mas Eduarda foi a primeira a beber, depois Roberta.

    —Não acredito! Vocês sabem que não pode – falou Amanda, mesmo sabendo que as amigas eram responsáveis.

    —Mas foi apenas um gole, ora – Roberta se defendeu.

    —Exatamente! - Eduarda deu um fim. - Quem é a próxima Bruna?

    —Pode ser você – Bruna fez um sinal com a mão.

    —Eu nunca beijei um leitor – ela e bruna beberam dois goles. As outras amigas riram, já que Bruna havia namorado um.

    —Marido leitor conta? - Roberta perguntou e Eduarda assentiu. Assim, elas também tomaram seus goles.

    —Vai Roberta. - Bruna lhe passou a vez.

    —Eu nunca fiz uma posição do Kama Sutra – todas beberam e caíram na gargalhada.

    —Essa brincadeira está ficando boa – Amanda deu ênfase a última palavra. Logo era a sua vez. - Eu nunca transei na rua. - mais uma vez todas beberam. - Onde foi? Já fiz no carro.

    —Eu no banheiro do aeroporto – eduarda levantou a mão.

    —Eu no quintal de casa.

    —Roberta, isso não é rua… - bruna implicou com a amiga.

    —Quando o muro é baixo, é sim! - todas riram da cena. - E você, Bruna?

    —Atrás do caminhão. - Bruna bateu no peito, como se tivesse ganhado o jogo.

    —Então… - começou Eduarda.

    - ...Literalmente… - Amanda completou.

    - ...Na rua! - finalizou Roberta, fazendo todas rirem.

    —Vocês não prestam! - Bruna riu também. - Minha vez! Eu nunca deixei entrar na porta de trás. - todas beberam e riram. Naquele momento, iriam rir de qualquer coisa, já que a bebida começava a subir a cabeça. - Devassas!

    —Nem vem, você também bebeu – Amanda apontava para Bruna.

    —Eu nunca me fantasiei na hora H – Eduarda continuou a brincadeira. Dessa vez bruna não bebeu. - Nunca vestiu a fantasia de normalista, Bruna?

    —Não, na hora H eu quero tirar a roupa mesma!

    —Devassa! - as três falaram em coro.

    —Eu nunca… beijei uma mulher. - a vez era de Roberta e ninguém bebeu.

    —Ufa, agora fico mais tranquila perto de vocês. - Amanda atraiu os olhares para si, intrigadas. - Vai que me agarram? - o garçom olhou rápido para o quarteto, na esperança de ver a cena. - Eu nunca fiquei com um garçom. - ela falou para ele ouvir e apenas Bruna bebeu.

    —Mulher do céu! Você entendeu a colocação? - Roberta riu da amiga.

    —Sim. Era lavar pratos ou pegar o garçom, então… - Bruna deu de ombros. - Amanda tenho que te dizer, você não faz o meu tipo.

    A brincadeira continuou e na mesa já haviam dez garrafas vazias. O riso estava para la de solto e atraia a atenção do pessoal ao redor, achando graça das risadas delas.

    —Eu nunca dancei funk na rua – todas beberam o copo inteiro depois de Bruna falar.

    —Eu nunca trai – Roberta ficou na dúvida. Amanda não bebeu. Eduarda e Bruna sim, após Eduarda jogar.

    —Gente, estou ficando legal já – Amanda afastou a tulipa.

    —Eu estou bem legal.

    —Mais uma pergunta e vamos embora. Amanha tem trabalho – disse Eduarda.

    —Eu faço – Roberta soluçou. - Eu nunca – outro soluço – fiz sexo a três. - apenas Amanda bebeu.

    —Meu Deus, Manda! - Eduarda se assustou.

    —Época de faculdade, sabe como é – explicou envergonhada.

    —Tudo bem, já deu! Vamos pedir a conta e dormir – Bruna estava bêbeda.

    Chamaram o táxi para irem ao hotel. Cada uma no seu quarto se aprontou para deitar. No dia seguinte, Bruna estava com dor de cabeça e foi encontrar as amigas de óculos escuros.

    —Noite boa, hein? - Eduarda caçoou fazendo todas rirem.

    —Só não grita. Minha cabeça está explodindo.

    Foram a Bienal de taxa e depois para o estande da editora. O rodizio de autógrafos havia começado agitado, na fila um rapaz ria demais para Bruna, acenava e mostrava o seu livro.

    —Vocês conhecem?

    —Não – respondeu Roberta.

    —Nem eu  - disse Amanda.

    —Até que é bonito Bruna, vai que volta ao Rio namorando. - Eduarda concluiu. Bruna revirou os olhos.

    —Oi tudo bem? Lembra de mim? - chegada a vez do rapaz ele perguntou a autora.

    —Sinto muito, mas não. - e nem pensar em forçar a cabeça que doía a encontrar aquela informação. - A quem eu dedico o livro?

    —Pode dedicar ao garçom! - ele sorriu lindo.

    Todas caíram na gargalhada, enquanto Bruna se envergonhava.

    A primeira vez  que jogara, passou mais vergonha que o previsto. Apesar de ter dado certo e Bruno, voltado ao Rio namorando, as amigas não a deixaram esquecer a maior vergonha de sua vida. Não jogue “Eu nunca” no bar, porque sairá de lá dizendo: Oh garçom!

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora