E Nevou

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De Bia para Alana.

    Quem via aquela casinha em meio a paisagem branca e triste, não imaginava a bela noite que acontecera ali.

    Era natal e todas as crianças queriam abrir logo os presentes. Haviam duas famílias que comemoravam junto a matriarca aquela noite feliz. Dona Iolanda estava realizando um sonho antigo, ver neve no natal. Tiveram que viajar uma semana antes para estarem na data certa e ver a mãe feliz, fazia seus filhos alegres também. João com sua esposa Ana, levaram Matheus e Bruna. Daniel e Beth, levaram Lúcia e Carla.

    A ceia estava na mesa grande e retangular, que ficava na sala de parede de madeira. Nada que os filhos dissessem a mãe a fazia parar. Ia e voltava da cozinha com a ajuda deles, sem esquecer nenhum detalhe. Nada escapava aos olhos daquela avó e mesmo com os presentes embaixo da árvore e o papo agradável a mesa, olhava os netos mais velhos com curiosidade.

    Matheus não tirava os olhos de Lúcia, ambos mais velhos, não queriam passar o natal ali, longe de casa e dos amigos. O menino de 16 anos pedira a Ana para não irem e fazerem uma festa grande em sua casa no Rio de Janeiro, mas o pai não deixou. A ideia da mãe estar doente e aquele ser o seu último natal, causava tristeza a João e Daniel. Então, unidos e deixando as brigas de lado, juntaram-se para realizar o seu pedido.

    Viajaram para a Europa a fim de verem a neve e terem se era fofinha com algodão. Mero engano ao pisarem no gelo duro, porém movediço e gelado. Chegaram na casa quase correndo e se maravilharam quando viram a lareira na sala de estar.

    Atrapalhados, os irmãos acederam e esquentaram o ambiente enquanto as crianças escolhiam os quartos com as mães. O maior ficou com a avó, os dois do meio com os casais e os últimos para as crianças. Os primos que há muito não se viam, ficaram encantados com os outros estavam crescidos, e Matheus surpreso pela beleza da prima. Agora estava com o corpo de quinze anos formado em curvas e seios.

    Como reagiriam aquele sentimento dele, não sabia, mas tentaria alguma coisa com a prima. Lúcia estava entendendo os olhares de seu primo mas percebera que a avó os encavara. Conversava com todos mas não aprofundava o assunto com Matheus, por vergonha dos pais e de sua irmã, tão nova e tão…

    A conversa continuava animada, até a hora e retirarem a mesa e colocarem a sobremesa. Iolanda pediu ajuda dos netos mais velhos e Matheus viu uma oportunidade perfeita. Enquanto iam e voltavam, ele puxava assunto e dava indiretas na prima envergonhada. Ate que a pegou de surpresa, falando em seu ouvido o quanto era bonita e quando ela virou o rosto, ele a beijou. Justamente nesse momento Daniel entrou na cozinha e a confusão estava armada.

    Pegou o sobrinho pelo colarinho e falou poucas e boas, até João chegar. Nesse momento, já estavam todos na sala e o momento que os menores mais esperava foi estragado por uma briga enorme, daquela que anos de mágoa vem a tona. Iolanda olhava de um para o outro, e suas esposas tentavam apaziguar a briga. Os adolescentes sentados no sofá assistiam a tudo calados, até que Iolanda gritou. Deu um basta naquilo e mandou entregarem os presentes.

    Os pequenos se alegraram e a neve começou a cair, bloqueando a porta e as janelas. Após os presentes abertos, eles assistiam o espetáculo da neve branca e cadente. Iolanda chorou ao ver aquilo e disse aos seus filhos para não brigarem, aquele romance juvenil tinha dois caminhos. E se desse certo, igual à realização de sonho, a família nunca mais iria se separar. Que era o seu maior sonho!

    Daniel e João não brigaram mais naquela noite, apesar de Daniel colocar lúcia para dormir com a mãe e ele mesmo dormiu com Carla e os sobrinhos. No dia seguinte, a neva continuava a cair e dona Iolanda continuava a assistir. Seus filhos preocupados sentaram-se ao seu lado e esperaram ela falar algo. Seu primeiro conselho foi não brigar mais, logo um precisaria do outro, depois que a deixassem a vida seguir o rumo dela. Rancores e tristezas não poderiam ter vez, já que a vida era tão curta…

    No ano novo, as famílias já haviam retornado para suas casas e Daniel e João, pensativos. Essa data, Iolanda escolheu passar sozinha, apenas ela e suas lembranças da neve caindo pela janela daquela bela casa.

    Foram informados do seu falecimento da manhã do dia primeiro. O ano não havia começado bem, mas o bilhete estava claro. Ela desejava ser cremada e que as cinzas fossem jogadas naquela neve, daquela casa e em pleno natal. Com lágrimas nos olhos, os irmãos logo marcaram a viagem e avisaram a família. Agora Iolanda repousaria para sempre no seu sonho, duro e gelado para os que ficaram e branco e fofo para ela.

….

    —Poxa, mamãe. Então ela morreu? - Nina de sete anos, estava deitada na cama da casa em algum lugar da Europa. Lúcia lhe contava história.

    —Sim, minha filha. Mas morreu feliz e com o sonho realizado. Agora está na hora de dormir. Deve estar cansada depois de abrir tantos presentes – Lúcia beijou a testa da filha e saiu do quarto.

    Foi para a sala e encontrou Matheus sentado no sofá tomando um vinho. Ele lhe deu uma taça enquanto sua irmã Carla e sua prima Bruna, sentavam no chão. Os quatro olharam pela janela vendo a neve cair. Lembrando com amor a avó Iolanda e seus pais que não puderam estar com eles naquele ano. Virou tradição familiar ver neve no natal e do céu, Iolanda sorria vendo seus netos crescidos…

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