De Caren para Katlin
Despedidas são muito difíceis. Dar adeus a alguém que é importante em sua vida é tão doloroso... mas elas são precisas, necessárias. Ninguém gostar de despedir-se das pessoas que ama sem uma boa causa.
Algumas vêm acompanhadas de lágrimas e abraços, outras de tapinhas nas costas, desejando sucesso. Nunca pensei que iria receber um tapa na cara da pessoa a qual eu mais receava em contar que estava indo embora. Esperava que ela me abraçasse, lamentasse pela minha ida, mas que me dissesse que tudo ficaria bem, que nos encontraríamos num futuro próximos, mais maduros.
Entretanto, ela não entendeu a necessidade que eu tinha de ir para o outro lado do mundo.Se ao menos ela soubesse o como foi sufocante ver a paisagem perdendo a cor, tudo ficando em preto e branco, embaçado, até que não havia cor, apenas a escuridão. Não houve um dia em que desejei acordar e ver a luz do sol. E foram muitos anos sonhando com uma realidade que parecia tão distante. Mas agora... eu tinha a opção de voltar a enxergar na palma de minha mão.
Mas ela não entendeu. Fez pouco caso do meu amor, achou que desisti dela, de nós. Quando, na verdade, o que eu mais queria era vê-la; ver seus traços, seu cabelo, seu sorriso... mesmo que tivesse o nariz grande, o dente torto, nada disso importava, pois eu amo seu conteúdo, seu caráter. Foram esses elementos que me fizeram estar apaixonado por Júlia. Não é uma capa bonita que faz um livro tornar-se incrível, mas sim a história que há por trás dela.
Ela não olhava com pena, como os outros ao meu redor. Até meus pais olhavam-me assim. Mesmo sendo cego, pude perceber o quão estavam fartos de serem meus cães guia. Todos ao meu redor estavam, na verdade.
Júlia foi aquela que sentou-se ao meu lado no primeiro dia de aula na escola nova e logo simpatizou comigo. Me fez sentir que era minha amiga e, com o tempo, fomos ficando bem próximos, ao ponto de nossos pais se conhecerem, irmos na casa um do outros nos fins de semana ou até nos dias úteis.
Entretanto, um sentimento que ia além da amizade apossou-se de nossos corações. Até cheguei a pensar que sentia sozinho, que seu coração não acelerava tanto quanto o meu quando estávamos perto um do outro.
Não sei em que momento me perdi ou como chegamos a esse ponto, mas foi o toque de seus lábios contra os meus que me fizeram perceber que tudo havia mudado entre nós sem ao menos percebermos. Que o sentimento que aflorava em meu peito era real, recíproco.
– Pedro... – colou nossas testas, sua respiração quente batia contra seu rosto. – diz que não é coisa da minha cabeça.
Não era coisa da sua imaginação, Anjo. Eu gosto de você. Porém, também gosto de mim. Quero voltar a enxergar, ver as cores novamente e tudo que as belezas terrenas possam nos presentear.
Lembro como se fosse ontem quando lhe contei que iria de mala e cuia para Inglaterra; que iria fazer faculdade e faria o transplante de córnea, ficando em território inglês por tempo indeterminado.Jogou em cima de mim coisas que jamais pensei que fosse ouvir de sua boca; disse que nunca foi real, que te iludi, que não se importava com a cegueira e que sete anos de distância eram demais para suportar. E, mesmo irada, chateada, deu-me um forte abraço e desejou boa sorte, virando as costas em seguida.
Uma senhora muito simpática me recebeu em sua casa na Inglaterra e foi lá que morei durante minha estadia em Londres.
Durante o tempo que passei lá, não houve um dia em que não pensei em voltar para o Brasil, que não pensasse nela. Mas aguentei firme os sete anos.
Nada durante para sempre. Um dia eu voltaria e você estaria com outro, sorrindo largo, bebendo uma cerveja com ele num bar qualquer. Porém, não esperei que fosse encontrá-la logo quando voltasse a pisar em território brasileiro, no quiosque do aeroporto.
Aquela primeira visão me doeu tanto. Apesar de ter tido alguns casos lá fora, não pensei que fosse ser estapeado vendo aquilo.
Depois disso, visitei meus pais e, dois dias depois, voltei para Inglaterra. Me doía vê-la com outro, como se eu não tivesse feito parte de sua vida. Eu tinha que seguir, de uma forma ou de outra.
Nunca imaginei que uma despedida em prol de minha melhora fosse o motivo do nosso fim e um novo recomeço para mim.
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Amigo Oculto Literário
Short StorySorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.