de Danielle para Laís
Hoje é sexta-feira, o dia de descontrai, dia de relaxar, dia de encontrar as melhores da minha vida.
Não sei o que seria da minha vida sem elas, porém sei como é estar com elas em um bar. Chego ao local e estão todas lá, menos a Vera que sempre se atrasa. Começamos os trabalhos do dia com uma torre de Chopp. Uma hora depois a Vera chega toda alegre e começa a explicar o seu atraso.
- Desculpa, Meninas! Meu atraso tem um razão importante!
- Todos os seus atrasos sempre têm – falei.
- No salão em frente de casa, chegou uma nova depiladora fantástica. Ela tem mãos de fada e minha Aurora ficou como rosto de bebê.
-Aurora? - Perguntei.
-Sim! É o nome da minha amiga dos países baixos.
-Você deu um nome para sua vagina? É muita loucura!
Neste momento se senti como uma ladra presa em flagrante, pois todas as minhas quatro amigas me olharam com um olhar que deu até medo. Percebi ser a única do grupo que não tinha um nome. Conversa vai e conversa vem, Vera volta a este assunto e eu fiz a besteira de comentar nunca ter feito uma depilação na minha "amiga", - não dei um nome, mas me senti mal por chamar de vagina- me convenceram a fazer com essa depiladora que a Vera tanto falou. Marquei para daqui a três dias.
Três dias depois
Cheguei no salão no horário marcado e a recepcionista me questiona se é a depilação cavada ou completa. Respondi a completa, apesar de não saber o que era cada uma. Nem fazia ideia da furada que estava entrando ao escolher completa. A depiladora me chamou e foi muito simpática até o caminho da sala. Entramos e logo deitei, estava de vestido como as meninas me recomendaram, percebi diversos equipamentos nunca visto na minha vida. Ela deve ter percebido pelo meu rosto que talvez fosse a minha primeira vez, mas eu não iria confessar.
-Você tem alguma área mais sensível? - Ela perguntou
-Não! - Queria poder responder que eram todas, mas me contive.
-Tem certeza? Geralmente um lado sempre é mais dolorido que o outro. No meu caso o meu lado esquerdo é onde eu mais sinto dores ao me depilar, porém tem mulheres que tem o lado direito. Eu gosto de começar pelo lado menos sensível porque a pessoa já está nervosa por não me conhecer e logo começa a sentir muita dor é ruim e pode atrapalhar.
Se ela soubesse que até a minha sobrancelha eu faço na gilete para não sentir dor, não me faria esse tipo de pergunta. Não sei como estava o meu rosto, mas me olhava como se lesse os meus pensamentos. Descobri que seu nome era Carla e ela começou a falar o nome de cada equipamento enquanto manuseava eles. Tinha espátula, cera, tremocera, rollon, pinças de diversos tamanhos, folhas, lenços, óleos, loções entre outras coisas. Quanto mais eu sabia, mais nervosa eu ficava.
Iniciou pela virilha esquerda e me perguntou se poderia puxar forte e rápido. Eu só confirmei com a cabeça. Se eu pudesse transcrever a dor que sentir naquele momento, duvido que seria possível, pois senti uma dor que me deixou bamba e até rolou uma lágrima. Carla se assustou.
-É sua primeira na depilação?
-Não! Já faço isso frequentemente, mas estava distraída - Falei, mas pelo olhar dela, tenho certeza que não acreditou.
Foi para virilha direita e vi estrelas novamente, ela me olhou novamente estranhando a minha reação, porém só avisou que estava indo para os lábios. Imaginei que sentiria menos dor, ledo engano a dor foi infinitamente pior e não pude resistir, as lágrimas brotavam dos meus olhos e nem percebi. Carla percebeu, mas continuou a fazer o seu trabalho. Quando ela terminou, respirei aliviada e toda dormente, mas foi apenas o começo do meu tormento.
-Você pediu completa, ainda falta a parte de trás - Ela avisou.
Nesta hora me arrependi de ter ido até ali pela insistência das minhas amigas, não tinha para onde fugir, então só segui as instruções dela e puxei o lado esquerdo da minha bunda. Já nem doeu tanto como antes, pois estava tudo dormente mesmo, só torcia para que fosse o mais rápido possível, porque estava decidida a nunca mais pôr os meus pés ali.
Ela ainda me pediu para voltar a posição inicial, pois ainda precisava retirar os pelos que não saíram coma pinça e os pedaços de cera que ficaram na pele. Senti tanta dor que as lágrimas teimavam em descer, sem eu querer. Carla só observava.
Ao finalizar falou: - Por que mentiu? Trabalho a muito tempo com depilação e reconheço pessoas que vem pela primeira vez e você foi uma delas. Sei da vergonha, nervosismo e medo que essa situação gera, mas tentei lhe ajudar ao te questionar, mas você foi irredutível.
Vencida pela experiência dela respondi: - Tive medo e vergonha de ser levada na brincadeira.
Ela balançou a cabeça e sorrindo disse: - Não precisava ter medo, eu não mordo e tem mais. Muitas como você já passaram por isso e tiveram péssimas experiências por estes mesmos motivos. Não existe depilação sem dor, da mesma forma que nada nossa vida é sem ela também. A diferença é sabermos aceitar ajuda para poupar forças nestas situações e usá-las no momento certo.
Meio confusa pedi: - Pode me explicar melhor?
-Claro! Você gastou muita energia para aguentar uma dor que poderia ter sido bem menor, fez muita força para segurar as lágrimas. Se tivesse me contado, eu usaria loções e métodos que talvez fossem melhores. Não tenho como garantir que seria menos dolorido, mas você teria se cansado bem menos. Às vezes nós mesmos intensificamos a nossa dor; gastamos energia desnecessária com detalhes que não vão nos trazer nada de bom e simplesmente por medo do julgamento alheio. Nos vemos mês que vem?
-Com certeza!
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Amigo Oculto Literário
Short StorySorteio entre amigos do grupo do Whatsapp ajudando escritores, em que cada participante recebe em sigilo o nome de outro a quem deve presentear com uma one shot.