Voe como uma pipa

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One Shot - Humor

De: Sandy Azevedo
Para: Pippa Rivera

Escolha/Subtema: Quando Fugi de Casa

– Pai. Mãe. Tenho algo a contar a vocês. – falei de forma tímida. Minhas mãos soavam e o trançar de dedos no colo, denunciavam meu nervosismo.

– Diga logo. – respondeu minha mãe em um suspiro. Minha avó estava sentada em sua poltrona e apenas me lançou um olhar por cima dos olhos, bem como um sorriso cúmplice. Meu pai, estava alheio em seu jornal de sábado, enquanto ‘bicava’ seu café.

– Vocês sempre me questionaram não trazer um namorado ou citar sobre casamento... – nessa hora meu pai levantou os olhos do jornal, minha mãe se recusava a olhar para meu rosto e minha avó escondia sua risada enquanto tricotava. – Pois bem. Isso não acontece, pois tenho gostos diferentes. Não me encaixo em mulher, não me encaixo em homem, não me encaixo em hétero ou lésbica.  

– Ei! – Eu e mamãe falamos em uníssono, quando papai cuspiu parte de seu café.

– Não venha me dizer que minha única filha gosta dessas... dessas coisas! – disse exasperado se levantando e atirando o jornal sobre a mesa. Também me levantei.

– Não importa papai. O senhor tem que querer o que é melhor para mim. – falei com os olhos lacrimejantes.

– Mas Cláudia, o melhor não é isso. – disse minha mãe tentando acalmar os ânimos.

– O melhor é aquilo que me deixa bem. Que me deixa feliz. – gritei e corri para meu quarto, onde finalmente deixei que meus olhos expressarem a dor da minha alma.

– E a partir de hoje, você não sai de casa se não for acompanhada. Vai saber com quem e o que anda fazendo por aí?! – disse meu pai da porta. Nesse instante, deite-me em posição fetal e chorei copiosamente.

    Depois de algumas horas ouvi batidas leves na porta. Poucos segundos depois minha avó adentrou o quarto e se sentou ao meu lado na cama.

– Querida. Eu sempre disse a todos o quanto você é avoada, igual uma pipa. E tal como ela, você deve voar. Faça seu destino. Desagarre de quem te segura e voe minha pipa, voe! – ela me deu um beijo no rosto e eu a abracei. Ela saiu do quarto e pouco tempo depois ouvi o trinco da fechadura. Meu pai havia me trancado no quarto.

    Olhei para a janela e percebi que já era noite. A lua estava cheia com um brilho excepcional. Encostei na janela e admirei a noite, até que as palavras de vovó insistiam em tomar meus pensamentos. Peguei minha mochila e coloquei 2 pares de roupas, 1 chinelo, escova de dentes e pasta, itens de higiene, documento, um cobertor, uma garrafa térmica com água e mais algumas coisas que achava útil. Fui escoteira por alguns anos. Minha mochila ficou abarrotada. Olhei para baixo, peguei minha corda e desci devagar pela janela até chegar ao térreo. A única luz acesa era do quarto de vovó. Sentirei saudades, mas hoje dá-se início à minha fuga!

    Andei e me arrependi de trazer tantas coisas. Estava muito pesada. Já estava de madrugada e eu estava pela estrada. Vestia calça de moleton, um short por baixo, uma blusa com capuz e tênis de corrida. Decidi deitar-me embaixo de uma árvore, pois a essa hora era perigoso pedir carona.

    Acordei com um solavanco.

– Mas que merda é... – não consegui completar a frase. Uma linda mulher me encarava com seus olhos verdes.

– Achei que você tinha morrido. Só estava conferindo. Meu nome é Vanessa e o seu? – disse a mulher me oferecendo a mão.

– Pippa.

Amigo Oculto LiterárioOnde histórias criam vida. Descubra agora