WILL - Não está cansado de invocar os mortos?

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WILL

Não sou profissional na arte de narrar acontecimentos assim, mas vou dar meu melhor. Prometo.

Bem, quanto ao menino que Nico segurou, não precisou ser filho do deus da medicina para notar que ele não estava bem. Ao impedir que o garoto caísse no chão, Nico ficou com a guarda aberta e então coube a mim e a menina de cabelos pretos e curtos protegermos os dois.

— VAI, NICO! PASSA COM ELE! – gritei desesperado para sair daquele lugar.

Claro, eu não sabia como aquele portal foi criado. No entanto, pela aparência do mesmo e o que a garota loira tinha gritado, era indiscutível o fato de que era um portal.

Nico atravessou o portal carregando o garoto que penava para andar enquanto eu protegia a passagem deles. Quando os dois passaram, eu e a menina de cabelo curto corremos praticamente ao mesmo tempo para passar pelo portal seguidos pela menina loira de mechas coloridas e então pelo menino de roupas totalmente pretas que pareceu ter se materializado na frente do portal e então atravessado. Estranhamente, ele lembrava-me um pouco de Nico.

— Saiam da frente! – disse o garoto de preto e todos atendemos ao pedido de muito bom grado.

Todos olhavam tensos enquanto o dragão ia em direção ao portal querendo nos abocanhar. Quando a cabeça dele passou pelo portal, o menino de preto pareceu começar a fechar o portal ao esticar o braço direito em direção ao mesmo e então fechar a mão. Não pareceu ser exatamente fácil já que ele parecia fazer alguma força na mão. O dragão rugia e gritava ao ser enforcado cada vez mais pelo portal que fechava. Todos olhávamos tensos, exaustos e derrotados esperando para ver qual seria a resolução daquela ideia maluca. Sei que meu pai estava meio ocupado tentando restaurar os oráculos e lidar com espinhas, mas, naquela hora, eu fiz uma prece para ele para que a ideia desse certo e pudéssemos sair daquela loucura vivos.

Quando o portal se fechou de uma vez decapitando o dragão, foi com um suspiro de alívio que todos desabaram no chão, exaustos. Eu torci o nariz para o cheiro que emanava da carne morta do dragão e desviei o olhar também. Era uma cena bem nojenta, uma cabeça de dragão que estava necrosada em algumas partes, puro osso em outras e, para completar o nojo, estava sangrando. Olhar ao redor para desviar a atenção do dragão não foi, infelizmente, uma boa ideia também. Ao olhar ao redor, notei que estávamos num cemitério. Pronto, outro ponto para considerar o menino de preto parecido com Nico.

— WILL! VOCÊ SERIA BEM ÚTIL AQUI AGORA! – gritou Nico e eu olhei para onde ele estava.

Nico ainda segurava o garoto que agora parecia estar tendo um ataque epilético. Ele tremia e se contorcia. Arrumei todas as forças que não tinha mais e me levantei o mais rápido que pude e corri para o lado do garoto.

— CARTER! – gritaram nossos novos amigos (ou assim espero) praticamente ao mesmo tempo.

No entanto, apesar da notável preocupação com o amigo, Carter, eles também não estavam nas melhores das condições. Ao tentar se aproximar de Carter, um dos garotos deve ter descoberto que tinha torcido o tornozelo, pois logo caiu no chão. Uma das meninas, a de cabelo preto e curto, também não parecia bem, não sei se era cansaço ou algo, além disso, mas ela perdeu as forças ao se levantar e acabou tendo que se arrastar até Carter.

Sem pensar duas vezes, fui logo fazendo todo o serviço de curandeiro com o qual já estava acostumado. Eu não tinha nada que pudesse usar em meus bolsos, assim, tive que contar com meus dons como filho de Apolo. O que, na pior das hipóteses, acho que já é uma coisa boa com a qual se contar.

— O QUE ESTÁ FAZENDO COM MEU IRMÃO? – reclamou a garota loira. Estranhei ela chamando-o de irmão... Talvez meio-irmão? Por parte de algum deus? Afinal, ela era branca e loira e ele tinha cabelo castanho e era negro. Enfim, me preocuparia com parentescos depois.

Os Deuses da MitologiaOnde histórias criam vida. Descubra agora