MESTIÇO - De pé por um fio

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MESTIÇO

Eu tinha só uma leve noção do que estava acontecendo ao meu redor. Ouvia vozes e movimentos mas meus olhos estavam pesados demais e minha cabeça leve demais. Uma combinação estranha e até desconfortável. Ainda mais se fosse juntar à isso o frio que sentia principalmente na ponta dos meus dedos. Estava meio difícil também lembrar em que situação a gente estava. Por um momento, achava que estava em mais um dos treinamentos em Valhalla mas, pouco a pouco, fui lembrando que estávamos no México, lutando contra um monte de deuses e monstros diferentes e que eu tinha apanhado feio tentando proteger dois pirralhos.

Lembrar disso me fez ficar irritado quase que instantâneamente... irritado, envergonhado e irado. Tinha que concertar aquela burrada que acabei causando. Mas antes eu tinha que conseguir ao menos abrir meus olhos.

Não foi tão fácil como possa parecer ok? Mas consegui abrir os olhos e vi um gos pirralhos, o menino, logo ao meu lado chorando e com catarro escorrendo pelo nariz. Dali ficava meio ruim de ver, mas acho que estava rolando alguma briga na escada e, antes dessa escada, estavam três monstros.

O garoto então notou que eu havia acordado e olhou para mim com um olhar assustado.

- Cadê a garota? - perguntei num sussurro olhando para os monstros que estavam de costas para nós. Não ousei levantar não só pela minha cabeça estava meio aérea, mas também para que eu pudesse voltar rapidamente a fingir que estava dormindo caso olhassem para nós.

- O garoto de cabelo verde e rosa levou... - sussurrou ele de volta.

- Bom... - eu disse o mais baixo que pude começando a me levantar devagar.

Eu não sou exatamente uma referência muito boa para ninja, mas tentei ser o mais silencioso que pude enquanto me aproximava de um pedaço de madeira, como um taco, com várias lâminas embutidas. Não queria saber como aquela coisa, obviamente uma arma e típica deles julgando pelos detalhes que enfeitavam a madeira (que incluía até o desenho de uma caveira caveira), havia chegado até ali. Só queria me aproveitar de sua presença. Na minha aproximação silenciosa, ouvi a voz de Zia vindo da escada.

-S-Solta... ele! - exclamava ela.

Claro que eu tava preocupado com a luta deles, mas tinha que focar na que eu enfrentaria no momento. A luta de Zia devia estar interessante, pois os meus três alvos olhavam para ela rindo e se divertindo, a distração perfeita para mim. Eles só me notaram no último segundo, quando minha mão já estava quase agarrando o taco de aparência letal.

- Oye! - exclamou o mais perto de mim ao me notar.

Era hora de ignorar dor e cansaço e nada mais motivacional para conseguir fazer isso do que dar um grito enquanto agarra um taco e então junta toda sua força para dar uma tacada na cabeça de um monstro. Recomendo. É bem terapêutico também. Quase conseguia sentir minha raiva saindo de mim.

O taco e suas lâminas causaram um estrago na cabeça do monstro que acabou deixando o taco meio sujo de sangue. Poderia ficar um tempo comparando aquele taco com o meu machado que torcia que estivesse na praia ou em algum lugar, mas não era tempo para isso. Eu tinha monstros para derrotar e não podia deixar meus braços sequer pensarem em ficarem pesados.

O monstro que atingi cambaleou mas não de fato caiu, mas foi quase. Se segurou em uma das paredes de pedra que nos cercavam enquanto o sangue escorria pelo ferimento. Quanto a mim, aproveitei a deixa para lidar com o segundo monstro que vinha para cima de mim. Eu gritava tentando puxar forças quando atingi o segundo inimigo com o bastão bem no braço que soltou um barulho de algo se quebrando. Chamo de "inimigo" e não de "monstro" porquê não tinha cara de monstro. Parecia bem mortal e normal se não fosse a pele levemente azulada.

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