CLARISSE - Problema Extra Surpresa

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CLARISSE

Quando deixamos Lisboa para trás, eu sinceramente não achei que as coisas iam dar tão errado. Tudo que tínhamos que fazer era ir para uma cidade no interior de Portugal, bem ao norte, quase na Espanha e seguir o curso de um rio chamado Rio Lima e esperar até ele resolver mostrar que na verdade era uma versão fora do submundo do Rio Lete. Parecia fácil. Mas claro que tinha que ter algum problema inesperado no meio do caminho, faz parte da vida de um semideus.

Pelo o que Thalia falou, as Caçadoras de Ártemis já tinham lidado com o Aqueronte, então esperávamos coisa parecida. Na pior das hipóteses, algo a ver com perda de memórias de bônus ao invés de dor, já que o Lete era o rio do esquecimento.

O rio era cercado por cidadezinhas e vilarejos até onde vimos, o que complicava bastante nossa tentativa de não envolver outras pessoas em qualquer eventual briga. O lugar mais vazio que encontramos para acampar e passar uma mensagem para o rio de "hey, se quiser brigar, estamos bem aqui" foi numa área rural com plantações de umas flores amarelas e com umas árvores. Não era longe o suficiente da cidade a ponto de não ser possível ver no horizonte as casas mais altas e a torre mais alta de uma igrejinha qualquer, mas era melhor do que nada.

Em duplas, nos revezamos para andar na margem do rio esperando ele começar uma briga ou aparecer qualquer naiade. Até porque não adiantava muito cutucar o rio com a ponta de uma lança. Sim, eu tentei. No dia que tudo foi de mal a pior, era minha vez de andar por ali com a Thalia, o que era um pouco estranho quando eu parava pra lembrar que ela foi de filha secreta de Zeus, para árvore e então pra filha não tão secreta de Zeus e finalmente caçadora imortal de Ártemis que se absteve de todo e qualquer tipo de relacionamento. O que vamos e convenhamos, parando para analisar os homens, era uma decisão muito sábia talvez.

- Então... - disse Thalia enquanto tudo ainda estava bem aparentemente tentando puxar um assunto - como estão as coisas com o Chris?

- Você é ruim assim pra puxar assunto ou já andaram fofocando dos motivos de eu ter vindo? - perguntei.

- Era uma tentativa genuína de puxar assunto... - defendeu-se ela - Prefere que eu pergunte como está a universidade então já que pela cara as coisas não vão bem com ele?

- A universidade não tá indo bem também. - rebati não gostando nem um pouco das tentativas de conversa dela - Teoricamente é pra eu me ano que vem mas sei lá... tranquei o curso por esse semestre pra tentar organizar a cabeça um pouco. Não sei se é o curso que eu quero. Mas pelo menos eu que escolhi dar um tempo, ao contrário de com o Chris.

- Entendi... - disse ela suspirando bem audivelmente.

Ficou um silêncio desconfortável tão grande que achei que a conversa ia parar ali. Mas, apesar de nunca ter ido pra universidade e de estar num grupo de guerreiras imortais proibidas de namorar, Thalia conseguiu achar conselhos para me dar.

- Eu não sou a melhor pessoa pra dar dicas de relacionamento mas... - disse Thalia dando de ombros - Muita coisa pode acontecer ainda e você tá com... o quê? 20 anos? 21? Não precisa estar casada e com diploma até o final do ano que vem. Tem gente que tira ano sabático antes de entrar na universidade, né?

- Se eu tivesse dinheiro pra isso pra começo de conversa. - respondi rindo.

- Ah, o pessoal do ano sabático viaja e às vezes também faz voluntariado... você está nesse momento em Portugal ajudando a salvar o mundo. - disse ela rindo de leve - Acho que conta.

Aquilo não era minha ideia de uma viagem de férias mas não podia negar que era algo diferente do que ficar largada em casa fazendo as mesmas coisas de sempre. Mas aqueles foram nossos últimos segundos de sossego. Enquanto andávamos embaixo das árvores, de repente surgiu uma garota, uma naiade na verdade, de pé bem na beira do rio com os pés na água nos encarando.

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