THALIA - O rio da dor

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THALIA

Eu me enrolava num cobertor de lã tentando esquentar meu corpo tentando proteger ele do vento frio que batia ali no alto daquele morro. Ao menos não estava chovendo, ou pior, nevando. Felizmente, por mais frio que estivesse, não estava tão frio a ponto da chuva virar neve. Porcaria de inverno. A senhora Ártemis disse que não seria uma boa ideia manipular o clima ali para não chamar atenção. Sendo assim, eu tentava não focar na altura absurda que separava o morro que estávamos do vale que se formava lá embaixo com o rio que cortava as montanhas. Sentada em uma grande pedra embaixo de uma árvore, eu conseguia admirar o topo das montanhas que estavam ao nosso redor formando uma pela paisagem. Algumas eram mais altas que a que estávamos, outras eram mais baixas.

Aqui, sozinha, encarando a paisagem que formava o relevo montanhoso da Grécia, eu não conseguia deixar de pensar em meu irmão Jason. Tentava deixar o pensamento para longe, não queria ter que passar mais uma noite em claro pensando na morte de meu irmão caçula. Contudo, felizmente, eu ainda tinha algumas horas antes de o sol se pôr e dar início a mais uma noite que poderia ser tanto longa como curta. Desde que fiquei sabendo que Jason tinha morrido, era comum minha mente se ver invadida, contra minha vontade, por memórias antigas de quando ele mal passava de um bebê que queria colocar o grampeador na boca. Memórias antigas de quando nossos problemas não envolviam ter que se preocupar com o fato de sermos filhos de Zeus (apesar de ele ser da forma romana de Zeus, Júpiter). Eu ficava revoltada ao pensar que não pude fazer nada para defendê-lo, contudo, não era hora de focar naquilo.

Eu soltei um suspiro e olhei para a igreja feita de pedras pequenas que ironicamente as caçadoras da senhora Ártemis resolveram se abrigar no meio daquela missão. Com certeza eu adoraria ficar num lugar menos alto, mas Helen, uma caçadora filha de Atena, tinha sido bem convincente em todos os motivos pelos quais ali era um bom lugar para acampar.

A jornada até aqui tinha sido até relativamente prazerosa. Claro, tivemos empecilhos no formato de monstros no caminho, mas tendo a própria Ártemis na liderança, poucos deles sobreviveram para contar a história. Às vezes ainda conseguimos alguns agrados dos moradores locais no formato de lugares para dormir ou um bom lanchinho. Esses agrados faziam com que eu me perguntasse se, apesar do tanto de igrejas católicas que encontrávamos no caminho, os gregos ainda se lembrassem ou sentissem que aquela garota de aparentemente 13 anos e cabelos castanhos era na verdade a própria deusa.

Eu me levantei e dei de cara com outra caçadora, Kowalski, que mastigava um pedaço de pão que tínhamos conseguido na última vila na qual paramos.

- Quer? - disse ela me oferecendo outro pão em sua mão.

- Valeu - respondi pegando o pão e comendo.

- Camila já subiu de novo. - disse Kowalski se referindo a outras duas caçadoras - É nossa vez de descer e trocarmos de lugar com ela e Helen.

Eu afirmei com a cabeça, larguei o cobertor num canto e segui Kowalski morro abaixo enquanto terminava de comer o pão. Cruzamos a mata silenciosamente desviando das pedras altas e nos concentrando para não escorregarmos devido a inclinação do chão. Alguns minutos depois, começamos a ouvir o som de água corrente, um rio, o rio que cruzava aquela região e o motivo de nossa preocupação.

Encobertas pelas sombras das árvores, nos juntamos até onde estava senhora Ártemis. Escondida entre pedras e arbustos, ela nem nos olhou mas a caçadora que estava com ela, Helen, afirmou brevemente ao nos ver e subiu o morro em busca do próprio descanso. Era uma missão cansativa. Já à alguns dias estávamos ali, escondidas nas sombras das árvores, simplesmente encarando o rio esperando algo acontecer.

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