ANNABETH - Inspirada na Rachel

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ANNABETH

A dor em meu ouvido era completamente insuportável. No começo era como um grito tão terrivelmente pavoroso que não parecia existir palavras suficientes para descrever a sensação que ele me passava. Era mais do que ensurdecedor, era desesperador e arrepiante. Ele parecia ir muito mais além do que simplesmente no meu ouvido, parecia entrar bem dentro de mim e me fazer perder qualquer vontade de lutar. Bem, acho que isso era o minimamente esperado de um apito macabro mágico.

Quanto fui dar por mim, os gritos que eu ouvia já não passavam de uma pontada aguda enquanto eu me contorcia de dor no chão. Fracamente abri meus olhos e vi que não estávamos mesmo em uma situação muito boa (caso o sangue saindo dos meus ouvidos já não fossem provas suficientes disso).

Uma parte de mim ficou surpresa em ver que Anúbis também estava no chão e eu via Chalchiuhtlicue voltando a tomar forma em meio a água e olhando para ele com uma expressão séria no rosto. Meu golpe momentos antes não parecia ter a atingido tanto assim.

Enfim, de repente, foi como se algo se quebrasse ou estalasse dentro da minha cabeça e, no segundo seguinte, eu não conseguia ouvir mais nada. Eu ainda estava fraca mas sem ouvir mais nada, incluindo o apito horrendo, minha cabeça foi começando à desanuviar. Chalchiuhtlicue falava algo para Anúbis que eu não conseguia ouvir. Por ele ser um deus eu até achava que talvez ele não fosse ficar tão ruim assim, mas ele parecia decididamente mal. Me perguntei por um segundo se por acaso ele teria audição de cachorro. Mas deixando esse questionamento não muito relevante para o momento, notei que eles estavam me ignorando um pouco. O que era plausível de certa forma. Se eu fosse eles e tivesse que escolher entre lidar primeiro com um deus ou com uma semideusa, eu também não me escolheria. Isso é, se não fosse o fato de que eu gradualmente estava me sentindo melhor.

Eu podia não ter poderes mirabolantes controlando a água ou as sombras. Nem me transformava em nenhum animal ou tinha poderes de cura. Certamente qualquer um desses poderes poderiam ser úteis naquele momento. Mas eu tinha que trabalhar com o que tinha e, na lista de coisas que eu costumava usar nas batalhas, audição não era uma das presentes no momento.

Quase podia sentir meus olhos tremendo quando tentei me virar para o pedaço do chão que brilhava em roxo. Eu chutava que era ali que levava para onde Sam e Frank estavam. A luz roxa se moldava ao chão formando um quadrado perfeito e, no meio desse quadrado, haviam vários símbolos que seriam perfeitamente descritos como uma versão asteca de hieróglifos. Entretanto, asteca não estava no conjunto de idiomas que eu conseguia ler. Não havia como eu decifrar o que era preciso para abrir aquilo.

Mesmo em meio à dor que ele provavelmente estava sentindo, ele ignorou seja lá o que Chalchiuhtlicue estava falando para ele para trocar um olhar rápido comigo e logo em seguida olhou para o apito que Ixquitecatl assoprava. Por uma fração de segundo ele não iria conseguir ter olhado para o apito, pois Chalchiuhtlicue o atingiu com um jato d'água extremamente forte e bem calculado bem no ombro que acabou forçando ele a tirar a mão de um dos ouvidos. Eu nem conseguia imaginar qual devia ser a sensação. Água à alta pressão, quando aplicada do jeito certo, podia fazer um grande estrago. A velocidade e o poder do jato foram tão fortes que ele conseguiu não só deixar uma marca no piso de pedra da pirâmide como se tivesse sido uma navalha, como também cortou o ombro de Anúbis misturando a água incolor com um líquido prateado que provavelmente era a versão egípcia do icor. Acho, no entanto, que poderia ter sido pior. Afinal, não acho que Chalchiuhtlicue tivesse ali em sua água algum material abrasivo como o carbeto de silício, por exemplo.

Infelizmente, eu teria que me aproveitar da tortura que estava acontecendo ali. Pediria desculpa para ele depois. O mais lenta e silenciosamente que consegui, tentei me esticar até meu chapéu que estava caído alguns centímetros à minha esquerda. Meus olhos trocavam preocupadamente entre o meu chapéu e os dois deuses. Não podia contar com meus ouvidos para me alertar de quando eles percebessem o que eu fazia. A sensação do sangue escorrendo deles era um bom lembrete disso. Meus olhos teriam que fazer todo o serviço.

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