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E voltou a sentar-se. Os outros permaneceram de pé, salvo Teoria. Pouco depois, o
zumbido da serra chegava de novo até eles.
— Está tudo normal – disse Mundo Novo. E sentou-se também.
Lutamos está nervoso, inquieto, notou Sem Medo. O Teoria está a sofrer, mas finge que
não. O Ekuikui... esse é sempre o mesmo. Ingratidão está desconfiado do Lutamos. Mundo
Novo deve estar a pensar na Europa e nos seus marxistas-leninistas. Os pensamentos do
Comandante não iam mais longe. Eram fotografias que tirava aos elementos do grupo e que
classificava num ficheiro mental, sem mais se preocupar. Quando necessário, servia-se dessas
informações para ter uma imagem fiel de cada guerrilheiro e saber que tarefa dar a cada um.
O primeiro grupo a chegar foi o do Chefe de Operações. Chegou-se ao Comandante e
disse:
— Vimos seis trabalhadores. Nenhum soldado.
— Foram eles que abateram a árvore?
— Não. Estes têm machados. A serra está no grupo da esquerda. Atrás deles há uma
picada para o transporte da madeira.
— Bem.
— Comandante, penso que é melhor vigiar o Lutamos.
— Porquê?
— Não acredito na distração dele. Ele ia mas é avisar os trabalhadores, afugentá-los... O
Comandante olhou-o em silêncio. Franziu a boca. O outro continuou:
—- Há momentos que ele tem um comportamento estranho. Os olhos dele não são
bons. O Comissário não vê essas coisas, acreditou logo nele. Acho que se tem de fazer um
interrogatório.
O Comandante não respondeu. Pensou que tinha uma vontade louca de fumar. Ali não
podia, o cheiro de cigarro penetrava na mata.
Quando o grupo do Comissário chegou, Sem Medo pôs-se de pé.
— Então?
— São oito trabalhadores, mais um branco que guia o camião. Não há soldados à vista.
— E o camião?
— Está lá, parado, com o ngueta a fumar e a ouvir rádio. Mais ao lado deve haver um
buldozer para carregar os troncos no camião. Que é que se faz?
O Comandante chamou o Chefe de Operações. Reuniram-se os três.
— Que pensas que se deve fazer? – perguntou Sem Medo ao Das Operações.
— Acho que devemos fazer uma curva, para apanharmos a picada mais à frente e
chegarmos à estrada.
— E tu, Comissário?

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora