— O Chefe de Operações.
— Continua.
— O Comissário mandou reforçar as guardas e cavámos abrigos. Foi aí que ouvi as
rajadas e gritos de «apanha vivo, apanha vivo»! Não sabia o que fazer, lembrei-me que deixei a
pistola no quarto, fui buscar. As minhas roupas podia deixar, a pistola é que não. Foi aí que vi
os camaradas a correr, todos em fila. Mas iam para o lado donde vinham os tiros. Devem-se ter
atrapalhado.
— O Comissário?
— Não o vi. Lembrei-me do guarda, que estava do outro lado, fui-lhe avisar. Ele já
estava a avançar para a Base. Veio comigo e recuamos pela montanha.
— Que pensas que sucedeu aos outros?
— Eles foram a correr para onde estava o inimigo...
Havia qualquer coisa na história que intrigava Sem Medo. Mas não estava com o
raciocínio claro.
— Por qual lado atacaram eles?
— Pelo rio.
— Só pelo rio?
— Os tiros vinham só daí.
O tuga não é assim tão estúpido! Atacar uma Base só por um lado? E como é que o
Muatiânvua ou o Verdade, ou mesmo o Comissário, iam correr para o lado dos tiros, se tinham
a montanha livre? Sem Medo parou de refletir porque chegou ao Depósito.
Entrou em tromba, buzinou, gritou. Os homens levantavam-se estremunhados, as armas
na mão. Apareceu também o Chefe do Depósito, vestindo-se.
— A Base foi atacada – gritou Sem Medo. – Vá com o camião recolher todos os civis
que possam dar tiros. Eu levo os guerrilheiros no jipe. Encontramo-nos no bureau. O camião
arrancou quase imediatamente. Sem Medo ficou com os guerrilheiros, escolhendo as armas para
os civis. Carregaram as munições no jipe e duas metralhadoras ligeiras. Quando a operação
estava terminada, o jipe arrancou para o bureau. O camião já lá estava, cheio de homens.
Saltaram do carro e rodearam o jipe do Comandante.
— Vamos tentar chegar à Base – disse Sem Medo. – Só quero voluntários. Quem tem
medo que não suba no camião, não vale a pena. A Base foi atacada, não sabemos o que se passa
com os nossos camaradas. Quem não quer ir, não é obrigado. Os que querem ir, venham
receber as armas e as munições.
Os homens todos estenderam as mãos para receber as armas. O Chefe do Depósito
distribuiu-as.
— Camaradas, o MPLA tem homens! – disse Sem Medo.
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...