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Base. Além disso dali podiam cortar o caminho do reabastecimento, a entrada em Angola não
era bastante camuflada, prestava-se bem a ataques. E aquele tipo do João que fora sozinho e
furioso! Eles lá saberão o que hão-de fazer, não tenho que me preocupar.
O Chefe do Depósito chegou, entrou no bureau e deixou-se cair numa cadeira.
— Que há, camarada?
— Que há? Não dormi esta noite.
— Porquê, está doente? – perguntou Sem Medo.
O Chefe do Depósito era um homem pesado, aparentando quarenta anos. Suspirou.
— Esses presos! Tive de fazer guarda toda a noite.
— Porquê? Não há gente para fazer guarda?
— Há. Mas eu não tenho confiança. Só em dois ou três é que eu tenho confiança. Os
outros deixavam fugir os presos, é certo.
— Conhece bem a sua gente, camarada Chefe!
— Conheço, sim.
Sem Medo sorriu: o Chefe do Depósito era kimbundo.
— Não foi por causa disso que o chamei. Vieram agora informar-me que os tugas estão
no Pau Caído.
— É verdade?
— Sim, parece. Sabe o que isso quer dizer?
— Sei, sim, camarada Comandante. Perigoso!
— É preciso tomar medidas. O Depósito fica de prevenção. Ninguém pode sair. Mande
limpar as armas.
— Está bem. Aqui fora há militantes que podem pegar numa arma, para reforçar.
— Faça-me a lista desses – pediu Sem Medo.
— Depois mando, camarada Comandante. A todo o momento eles podem atacar a
Base.
— Ou fazer emboscada na fronteira ou no Cala-a-Boca. Não sei se da Base vão mandar
um grupo para lá, temos de pensar nisso nós aqui de Dolisie. Os guerrilheiros fazem falta na
Base, aqui é que não fazem falta nenhuma.
— Pode contar connosco, camarada Comandante, faremos todos os possíveis. Perigoso,
muito perigoso.
— É perigoso, sim – disse Sem Medo.
— E sobre os presos? – perguntou o Chefe do Depósito.
— Ponha de guarda os seus homens de confiança e vá dormir. Eles ficam assim,
enquanto não vem o novo responsável.
O Chefe do Depósito saiu e entrou Ondina.

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora