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Ondina abanou a cabeça. Pela primeira vez, mirou-o de frente. Ele não sustentou o
olhar.
— Tens esse direito? Nem sei. O problema não é de direitos ou de deveres. Mas penso
que é só mexer na ferida inutilmente. Vamos só sofrer, sem nenhum resultado concreto. Teria
sido melhor que eu partisse sem nos encontrarmos. Acabou. Cada um para seu lado.
— Não.
Ondina levantou o braço e deixou-o cair, em seguida, desalentada.
— Está bem. Que queres saber?
— Como se passou.
— Como se passou? Queres os detalhes?
— Tudo.
— João, isso é masoquismo.
— Talvez, não me importo. Que é masoquismo? Eu quero compreender. Não me basta
aceitar sem compreender, é o mesmo que não aceitar.
— Bem. Há uma semana talvez, encontrei o André no caminho para Dolisie. Ele parou
o jipe, deu-me boleia. Aceitei. Fomos a um bar, bebemos uma cerveja. Voltámos para a escola.
Escurecia. Ele parou o jipe a meio do caminho.
— E depois?
— Depois fomos para o capim.
— Só assim?
— Que mais queres saber?
— Não irias assim para o capim, conheço-te.
— Conheces-me, João?
Ele não respondeu. Ela fitou-o, viu as mãos que se revolviam.
— Bem, se queres saber. . . Ele beijou-me no jipe. Quando me propôs para irmos para o
capim, aceitei.
— Porquê o deixaste beijar-te? Porquê aceitaste?
— Sei lá. Apeteceu-me.
— Mas porquê? Isso não acontece à toa.
— Comigo pode acontecer à toa. Depende das circunstâncias, depende do homem... Eu
sentia-me só, André é um belo homem.
— Não me gramavas então.
— Quem sabe? Há várias espécies de amor. Aliás, isso já não interessa. Vou-me embora
e tu encontrarás outra mulher.
— Não, não me interessa. Nenhuma mulher me interessará. Nunca mais!

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora