— E nós? Ficaríamos aqui à tua espera?
— Para quê? Encontramo-nos na Base.
— Eu continuo a não estar de acordo, camaradas – disse o Chefe de Operações. – É
demasiado perigoso. O tuga está alertado, ele tem bufos em todo o lado. Vocês vão deixar
pegadas, eles vão topar. O próprio povo vai indicar as pegadas.
O Comandante cortou:
— Deixa! Vamos mudar um bocado o plano. Um grupo de seis vai até ao trator. Três
avançam e três ficam à espera. O resto fica aqui. Se houver qualquer coisa, vamos em socorro.
Os tugas agora estão ocupados em sepultar os mortos...
— Mas não temos quase comida – disse o Das Operações.
— É verdade, Comandante – disse o Comissário. – melhor é arrancarem para a Base e
deixam-nos a comida que sobra. Daqui a dois dias estamos na Base.
— Bem – disse Sem Medo –, façamos um compromisso. Vocês os três partem. Eu e
mais dois camaradas ficamos perto da aldeia, para vos proteger em caso de necessidade. O resto
volta com o Das Operações para a Base. Está decidido!
— Mas... – disse o Das Operações.
— Está decidido – repetiu Sem Medo.
— Porquê tu, Comandante? – perguntou o Comissário.
— E porquê tu, Comissário? – disse Sem Medo.
O Chefe de Operações partiu às sete horas para a base. Sem Medo e dois guerrilheiros
seguiram com o Comissário, Lutamos e Mundo Novo. Avançaram prudentemente, evitando os
trilhos que se deparavam na mata. Ao meio-dia chegaram perto duma aldeia: ouviam-se gritos e
choros de crianças. Afastaram-se de novo para prepararem o almoço.
À tarde, Lutamos e Mundo Novo foram fazer um reconhecimento. Voltaram para junto
dos outros, três horas depois.
— Soldados, há? – perguntou Sem Medo.
— Não nos aproximámos muito. Vimos o caminho que vai para a estrada. Não nos
aproximámos, para não sermos vistos nem deixarmos pegadas.
— Bom. Vamos avançar então os três, para dormirmos ao lado do caminho – disse o
Comissário. – Vocês os três ficam aqui, Comandante.
— Sim, chefe! – disse Sem Medo. Fez sinal ao Comissário para se aproximar e segredou-
lhe ao ouvido: — O Das Operações repetiu-me mil vezes para desconfiar do Lutamos.
— Acreditas nisso?
— Eu não. Mas devia dizer-te.
— Se tivesses partido, como eu propus, a esta hora estavas a fumar os cigarros que
quisesses na Base. Assim, vais sofrer durante mais uma noite e um dia...
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...